2015-9-29

SOFT

Windows 10 e a privacidade - de onde vem tanto buzz ?

Desde que o Windows 10 foi lançado no final de julho, muita (des)informação foi posta a circular em revistas e na Internet sobre o facto de a Microsoft ter acesso a informação privada dos utilizadores no seu sistema operativo. Ontem, a Microsoft publicou uma nota técnica finalmente mais compreensiva.

Windows 10 e a privacidade - de onde vem tanto buzz ?

Se fizer uma pesquisa na net por “windows 10 privacidade”, ou mais produtivo ainda “ windows 10 privacy” , vai ficar elucidado sobre a quantidade de (des)informação sobre o tema, com títulos em sites portugueses especializados como “Sabia que o Windows 10 espia tudo o que fazemos?” e outras “pérolas” noticiosas similares em várias línguas, sempre num registo que alterna entre espanto e a indignação. 


A realidade é que a Microsoft enfrenta um problema sério, mas esse problema é de perceção das pessoas sobre a sua privacidade no Windows 10, não um problema real de espiar utilizadores. 


A Microsoft tem ao longo dos anos construindo proteções de privacidade dos seus produtos, não o contrário, e pelo menos desde o Internet Explorer 9 que dá a possibilidade aos utilizadores de decidirem o que querem partilhar com a empresa. 

A Apple, no processo de instalação do novo iOS9, fazia duas perguntas que também criaram algum “buzz” inútil:

  1. Se o utilizador permitia à Apple receber informação sobre o desempenho do iOS
  2. Se permitia que os developers third party também o recebessem relativo ao software deles. 

É curioso que quando um fabricante faz perguntas e dá opções é que se levantam suspeitas nos utilizadores, possivelmente gostariam mais que a empresa o fizesse sem grandes explicações como faz a Google. 

A melhor forma de expor a sua vida online a uma multinacional é usar o Chrome. No browser da Google se tentar instalar o Google Tollbar (um sniffer inspirado no velho e pouco fiável Alexa, que a troco de algumas ferramentas compartilha todo o seu comportamento online), o browser responde:
 - "Está a utilizar o Chrome, isso é fantástico. Todas as funcionalidades da Barra de Ferramentas do Google estão já incorporadas no seu navegador".

Isto é, o utilizador do Chrome está já a ser monitorado sem mais complicações e avisos complexos de privacidade. Claro que em definições do Chrome, se procurar bem lá no fundo, tem um botão chamado de “definições avançadas” e lá pode anular o rastreamento e o envio de informações à Google. 

No Windows 10, parte do problema da Microsoft é exatamente a sua comunicação sobre política de privacidade, com longos documentos redigidos em linguagem jurídica que ninguém vai ler, mas que muitos vão desconfiar. 

Para colmatar o que na prática é uma “opacidade”, e tentar pôr um fim no “burburinho” que se gerou, a Microsoft publicou ontem ( 28/9) um conjunto de informação detalhada sobre as suas políticas de privacidade. 

A explicação começa por 2 princípios fundamentais:

  1.  Windows 10 collects information so the product will work better for you. 
  2. You are in control with the ability to determine what information is collected. 


O conjunto de esclarecimentos relacionados com a privacidade da Microsoft, publicados ontem, começa com esta explicação geral: 

To operate at its most basic level, Windows 10 collects and uses a limited set of data. To make your device more personal and delightful to you, we give you choices to use additional features. These features are optional, and they work better if Windows 10 understands your interests and preferences. 


Essas políticas e práticas de recolha de dados podem ser divididas em três categorias; 


1- Telemetria 

O envio de dados do equipamento é sempre o ponto mais sensível para os utilizadores. A Microsoft tem explicado que o facto de existir um ID não está relacionado com identificar um utilizador, mas perceber se o envio de relatórios de problemas são recorrentes para um determinado ID e construir um histórico desse ID do ponto de vista técnico, não recolher dados como o nome, endereço de e-mail ou conta ID ou outras informações pessoais.
No Apple OS X a recolha de dados técnicos de um ID a seguir a uma falha ou problema ocorre à muitos anos, sem que o fabricante seja questionado pelos utilizadores o que faz com esses dados ou sem que tenham existido alegados problemas de invasão da privacidade. Uma ajuda para confiar no fabricante é que este envio de dados pode ser lido antes de enviar, mas para 99,9% dos utilizadores o report técnico é totalmente ilegível e o procedimento padrão é deixar sair os dados. 


O Windows 10 tem três configurações de telemetria: básico, intermédio e completo. 

Basic. This information includes information about security settings, quality-related info (such as crashes and hangs), and application compatibility. 

Enhanced. This level includes the Basic information and adds details about how Windows and Windows apps are used, how they perform, and advanced reliability info. 

Full. This setting, which is the default for Windows 10, includes all information from the previous levels, plus additional details necessary to identify and help to fix problems.

 

2- A personalização e serviços 

Num mundo onde a Cloud está cada vez mais presente, os fabricantes têm de recolher alguma informação do utilizador para que os serviços decorram com boa usabilidade. 
Se o utilizador carregar um arquivo para One Drive, por exemplo, o software tem que recolher os conteúdos para armazená-los on-line e indexá-los para sua posterior recuperação e utilização. Para que isso aconteça, o utilizador tem que conceder permissão para o software para realizar estas operações. 

Como a empresa explica, "Windows envia e recebe informações ... para lhe dar acesso a serviços online como o Outlook, onedrive, Cortana, Skype, Bing e do Microsoft Store, para personalizar suas experiências no Windows, para ajudar você a manter as suas preferências e ficheiros sincronizados em todos os seus dispositivos, para ajudar a manter seu dispositivo atualizado, e para que possamos fazer os próximos recursos de um Windows que você vai gostar".

Todos sabemos isso, e isso não significa que a Microsoft nos está “a espiar”.
Existe um “preço” a pagar pelo usabilidade e pela comodidade de todas estas ferramentas estarem cada vez mais inteligentes e com capacidade de antecipação das nossas necessidades.
Esse é o objetivo da Apple Siri, do Google, o Google Now, e da Microsoft Cortana. 


3- Publicidade 

Aqui, em matéria de publicidade, a Microsoft por mais intrusiva que eventualmente pretenda ser, é  “cândida” se comparada com a abusiva Google. 

Tal como ocorre com  a Apple, a Microsoft não permite que os developers que criam apps distribuídas através da Windows Store tenha publicidade.

O  Windows 10 inclui um ID de publicidade que torna possível para os servidores de publicidade da Microsoft  manter o controlo de quais os anúncios que já foram vistos e como o utilizador se move através das apps.  

Isso hoje é trivial e todos os sites comerciais incluem "cookies" para a gestão dos banners em função de um utilizador.

As  informações pessoais não são compartilhadas com os developers de apps; em vez disso, o ponto é fazer com que a experiência publicitária seja tolerável para os utilizadores. Mas a palavra final é sempre do utilizador e o ID pode ser desligado. 


A Microsoft não recolhe informações gerais para usar na sua network de venda de publicidade, como faz desde a sua fundação a Google, e clarifica: 

We don't use what you say in email, chat, video calls or voice mail, or your documents, photos or other personal files to choose which ads to show you. 

 

O que é essencial 

Existia uma velha frase sobre privacidade na Internet que dizia:
   - “Se queres manter a tua privacidade, desliga a ficha”. 

O tema importante não é saber na verdade se o Windows 10 obtém mais informação sobre os utilizadores ou não. Se a Microsoft na verdade o quisesse já o poderia ter feito há muitos anos atrás. 
O que de facto importa é sabermos que a própria noção de privacidade do nosso dia-a-dia está necessariamente a mudar, porque queremos ter experiências mais gratificantes ou produtivas e isso não é tecnicamente possível sem abdicar de uma parte não crítica da nossa privacidade. 

Toda a actual industria de IT joga o seu futuro na credibilidade, idoneidade e excelência técnica em segurança, e na forma com que as principais empresas atuam junto dos seus clientes e utilizadores.
Claro que o tema é sensível e que pode despontar reações “paranoicas” e pouco pensadas, mas já sabíamos que não se poderia entrar na era Cloud sem criar alguns anticorpos.

Essencial é a industria ter uma política de transparência para com o seu público, definir de forma clara e não em “juridiquez” os limites e as barreiras que não vai transpor.
Nesse sentido a comunicação de ontem da Microsoft é um contributo positivo que ajuda a criar confiança. 

 

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