Henrique Carreiro em 2017-9-25
Durante anos aconteceu-nos com os PC: ao comprar um, sabíamos que passados poucos meses o arrependimento adviria, inevitável.
Fosse porque os processadores estavam a evoluir em capacidade com um ciclo que se media em meses e não anos (a lei de Moore parecia então ter acelerado), fosse porque a memória diminui drasticamente de preço, fosse porque a capacidade dos discos aumentava de modo imparável, o facto é que um PC com mais de seis meses perdia o apelo, face às máquinas novinhas nos expositores. Os PC entraram, há muito, num processo de estabilização, já não sentimos tal necessidade de os renovar tão amiúde. Foram os smartphones os herdeiros de tal ciclo de atualização e, novamente, dos arrependimentos de comprador, porque é sabido que seis meses são agora uma eternidade no ciclo de vida dos telefones. Este ano, não é diferente. Se da Apple é esperado que lance um iPhone 8 que quebre tradições anteriores, os compradores pensarão que no mundo Android não há mudanças revolucionárias a caminho. De facto, não há. Mas as evolutivas são suficientes para obrigar quem está a pensar num novo topo de gama a avaliar cuidadosamente a altura da aquisição. Com o Android Oreo disponibilizado aos fabricantes de telefones em Setembro, é improvável que estes o incorporem em dispositivos novos, de origem, a tempo de estarem disponíveis antes do final do ano. Ora este motivo bastaria para que os compradores se dispusessem a adiar a sua opção de compra por mais uns meses. É uma nova versão de Android assim tão importante? Neste caso, sim: o Android Oreo, que externamente não apresenta muitas diferenças face às versões antecedentes, internamente foi sujeito a uma alteração fundamental, chamada Project Treble, cujo objetivo é simplificar aos fabricantes a disponibilização de novas versões do sistema operativo. A forma como isto é conseguido é através de uma rearquitetura profunda do sistema, que leva a que os fabricantes tenham que recriar apenas drivers, digamos assim, para os respetivos telefones e não camadas mais complexas do sistema operativo. Em teoria, pelo menos, isto permitir-lhes-á reduzir o trabalho de adaptação de novas versões, bem como o tempo que levam até lançarem as suas próprias versões e patches de segurança. E a segurança é, precisamente, outra área onde esta versão tem vantagens importantes, porque a alteração introduzida pelo Project Treble conduz a um maior isolamento entre as aplicações e o hardware, o que torna mais difícil (não impossível), a existência de explorações de falhas de segurança no acesso a, por exemplo, câmaras ou microfones. O Project Treble apresenta o inconveniente de, para dele termos o benefício pleno, obrigar a uma instalação de raiz no smartphone e não apenas uma atualização. Isto é, apenas telefones que venham de origem com Android Oreo terão o caminho de evolução facilitado. O que leva ao dilema habitual: comprar agora ou depois? Para quem estiver em condições de esperar, um telefone com Oreo de raiz será uma melhor opção do que um que tenha possibilidade de atualização. O que é fundamental é verificar que, no mínimo, esta opção (a de atualização), existe, o que não é ainda muito claro para grande parte dos modelos mais recentes, até dos maiores fabricantes. O maior embaraço do mundo Android é a fragmentação de versões. O Project Treble é, talvez, o maior passo dado pela Google, até agora, no caminho de o erradicar de vez. Henrique Carreiro | Docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial |