2017-8-02

SOFT

Especial — Servidores & Virtualização

Que forças movem o mercado de servidores e virtualização?

Transformação digital, edge computing e Internet of Things, e o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados são três das forças que mais devem impulsionar este mercado nos próximos tempos, contribuindo para o seu dinamismo

Que forças movem o mercado de servidores e virtualização?

O mais recente Worldwide Quarterly Server Tracker, da IDC, indica que o número de servidores vendidos em todo o mundo cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2017, face ao mesmo período do ano passado. Ao todo, foram comercializadas 2.21 milhões de unidades. No entanto, o volume de vendas diminuiu, que se explica pela queda dos vendors tradicionais e pelo aumento das vendas dos servidores ODM (white box servers).

A IDC realça que o mercado está a transitar para os processadores Skylake. No entanto, na segunda metade do ano a Intel revelará novos processadores, que prometem tornar o data center privado mais competitivo do que nunca: os novos CPUs são a maior inovação do fabricante dos últimos cinco anos e podem traduzir-se em servidores com três terabytes de memória.

Edge computing e Internet of Things

As exigências de computação de armazenamento são crescentes e explicam-se pela produção massiva de dados, cujo crescimento é exponencial, devido ao aumento do número de dispositivos que os recolhem, produzem e comunicam – dos smartphones e PCs, passando pelas câmaras de videovigilância, pelos equipamentos industriais e, em breve, pelos próprios veículos (autónomos).

A Gartner prevê que se contabilizem cerca de 20 mil milhões de dispositivos conetados entre si (de IoT) dentro de apenas três anos. Até ao final do ano, a consultora estima que existam 8.4 mil milhões de objetos conetados, o que supera em cerca de mil milhões a população mundial. Esta “povoação” do planeta por objetos ligados à Internet traz diferentes exigências de computação. Depois do movimento de centralização da computação em direção à cloud, assistimos agora ao movimento inverso, em direção ao edge, ou o limiar da rede. Por questões de latência inerentes ao acesso remoto, o processamento dos dados produzidos pelos dispositivos não pode ocorrer na cloud – os dados serão cada vez mais processados numa camada de computação intermediária, mais próxima dos endpoints e dos utilizadores.

Esta necessidade está a abrir caminho a um novo paradigma, o edge computing, que a Forrester define como infraestrutura de computação, armazenamento e rede para computação local.

A Gartner inclui o micro e o edge computing nas dez principais tendências para o IT este ano, explicando- o, precisamente, pela necessidade crescente das empresas investirem em data centers mais próximos dos dispositivos e dos utilizadores. A consultora realça que o edge computing permite executar aplicações em tempo real com um tempo de resposta muito mais rápido. “Executar estas aplicações em servidores que estão geograficamente próximos dos endpoints diminui para poucos milissegundos a latência das comunicações”, diz a Gartner. “Empurrar” para a periferia da rede capacidades de computação e armazenamento diminui o tráfego sobre a rede, o que se traduz em maior resiliência, mas também privacidade e segurança, já que os dados não têm de “viajar” para tão longe e não estão por isso tão vulneráveis.

Este é um dos pontos a favor do edge, mas não é o único: ao transportar o processamento intensivo dos dispositivos para os servidores, o processo aplicacional torna-se menos dependente das capacidades dos endpoints. Trata-se de uma caraterística determinante para a IoT, uma vez que a maioria dos dispositivos estão longe de ter grande capacidade de computação e armazenamento, destinando-se sobretudo à recolha e comunicação dos dados.

A computação de proximidade será também fundamental para uma analítica em tempo real, determinante para as organizações que necessitem de tomar decisões imediatas e com o máximo de contexto possível, com dados de geolocalização, por exemplo.

Basta pensar nas smart cities e na gestão do tráfego, por exemplo, ou em serviços médicos que dependem da monitorização remota de pacientes. A Indústria 4.0 será já a breve prazo uma grande consumidora de edge pela própria natureza da automação industrial. A Indústria 4.0 materializa- se na conetividade plena entre os objetos e equipamentos que integram os processos industriais, unindo métodos de produção a tecnologias de informação e comunicação. Esta fusão, mediada por tecnologias como IoT , permite a criação de redes de informação e controlo que são por natureza Micro ou Edge mas que passam processos não críticos em latência como a analítica para a Cloud.

Para as organizações, nada é hoje mais importante do que poder agir rapidamente com base em informação fundamentada. No entanto, os dados recolhidos pelos dispositivos só se traduzem em insights valiosos quando são processados e transformados em conhecimento, de preferência de forma imediata. Assim, o impacto do edge computing e da Internet of Things (IoT) no mercado dos servidores irá começar a sentir-se, até porque o poder computacional solicitado será cada vez mais elevado, o que levará a um outro movimento: os próprios fabricantes começarão a desenvolver cada vez mais servidores à medida do que o mercado pede.

Transformação digital: os negócios customer-centric

Os dados são hoje o ativo mais importante do negócio e a transformação digital é um imperativo para organizações de todas as dimensões, das maiores às menores, e de todos os setores. Esta dependência da informação leva a que estejamos a assistir a uma mudança de paradigma, com os negócios a serem cada vez mais customer-centric, fortemente empenhados em conhecer o cliente e em proporcionar-lhe a melhor experiência possível. Um desígnio que exige insights – não apenas informação, mas conhecimento.

Ninguém escapa a esta revolução e muito menos o data center, que nela desempenha um papel fulcral. Cada vez mais pressionado pelo elevado volume de dados, tem de atualizar-se e de conseguir fazer face às enormes exigências de rapidez, eficiência e capacidade de processamento. Por estes motivos, as empresas têm de investir, mais cedo ou mais tarde, nos seus data centers, no processamento e no armazenamento numa lógica de virtualização de ambientes, para uma gestão mais otimizada dos seus recursos. No caso das PME, a virtualização é mesmo sinónimo de menores custos – no caso do armazenamento, permite ganhar mais espaço gastando menos. O conceito “software- -defined” está a contribuir para que o data center privado se mantenha competitivo, entregando a flexibilidade e a performance de que o negócio necessita.

Nos próximos anos o data center terá por isso de adaptar-se às novas realidades, como é o caso da virtualização das redes, por exemplo. Tudo isto implica que os próprios servidores não possam ser standard, como acontecia há uns anos. É cada vez mais fundamental que existam camadas que interligam o servidor a tudo o que envolve a infraestrutura, seja storage ou networking. A tendência é para que os fabricantes adaptem o servidor de rack à medida das exigências computacionais do data center dos dias de hoje. Isto significa que a tendência é para que os servidores tenham uma capacidade de integração com storage ou storage interno com uma elevada performance.

Assim, se há uns anos se falava em servidores de 16 GB, com a virtualização estamos a falar de servidores com 256 GB de memória. Ou seja, o servidor deixou de ser aquela caixa onde se instalavam as aplicações, isoladas por verticais, dado que existe agora à disposição um poder computacional cada vez mais elevado graças a equipamentos para virtualização. Os data centers irão cada vez mais fornecer serviços que antigamente eram servidos por batalhões de servidores aplicacionais.

RGPD impulsionará necessidade de armazenamento

Os sistemas de armazenamento vão desempenhar um papel central no cumprimento do novo Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), que se torna efetivo a partir de 25 de maio de 2018 para todas as empresas que lidem com dados de cidadãos da União Europeia.

Com o RGPD, as empresas serão obrigadas a comunicar às autoridades, no espaço de 72 horas, caso tenham sido alvo de um ataque que tenha resultado em fugas de informação e/ou que tenha comprometido a privacidade dos dados dos seus clientes. Uma das primeiras medidas que as empresas terão de adotar diz respeito ao investimento em soluções de armazenamento que cifrem todos os dados pessoais armazenados nos seus sistemas.

Assim, as empresas terão não apenas de adquirir maior capacidade de armazenamento mas também de substituir os sistemas de armazenamento por sistemas que disponibilizem encriptação. A agilidade dos sistemas sofware-defined será particularmente importante, dado que a sua flexibilidade permitirá adaptar mais rapidamente a infraestrutura às exigências do RGPD.

Dois elementos do RGPD vão influenciar diretamente a forma como as organizações compram e implementam armazenamento: proteção de dados by design e privacidade dos dados pré-definida. Assim, o IT empresarial terá de conceber e implementar uma arquitetura de armazenamento que tenha a proteção e a privacidade no seu core – a acessibilidade dos dados, a sua portabilidade e gestão são importantes aspetos ao nível da compliance.

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