Parece ser essa a conclusão a que chegaram muitos dos cibernautas europeus , especialmente os de nacionalidade alemã, ao aderirem nos últimos meses em grande numero aos seus antigos ISP locais ( Internet Service Provideres) . Essa é desde Sábado a opinião também da chanceler alemã, Angela Merkel.
Ou o presidente Obama não tem sido convincente nas suas promessas de moderação na espionagem digital, mesmo na última visita do presidente francês na passada semana, ou é difícil encontrar outra explicação para que muitos ISP europeus terem visto dobrar a base de utilizadores de e-mal nos últimos meses.
Apenas 3 semanas depois do caso Edward Snowden, ISPs alemães como a FreeNet ( www.freenet.de ) viram a sua base de clientes de e-mail aumentar 80%, e esse movimento continua. A própria Deutsche Telekom tem usado estas preocupações sobre a privacidade de dados como ferramenta de Marketing e é seguida por outros como a Web.de.
A NSA tornou-se no melhor vendedor de muitos ISP nacionais, especialmente num país como a Alemanha onde os consumidores tem à muito uma grande militância sobre a preservação e confidencialidade de dados pessoais.
Esta sensibilidade dos alemães ao tema da invasão da privacidade pode ter por base a memória colectiva sobre o trauma Nazi e a vivência mais recente na policial Alemanha de Leste, e a desconfiança gaulesa ao "domínio hegemônico USA" também não é menor.
Não atravessar o Atlântico
Esta semana, apenas dias depois do presidente François Hollande ter visitado a Casa Branca, a chanceler alemã, Angela Merkel e o Presidente francês vão discutir como a Europa pode manter o tráfego de e-mail longe dos Estados Unidos.
Num podcast , Angela Merkel informa que está na agenda esta questão quando se encontrar na quarta-feira com o presidente francês.
"-Vamos conversar com a França sobre como podemos manter um elevado nível de protecção de dados. Acima de tudo , vamos discutir quais os fornecedores europeus que temos que oferecem elevados níveis de segurança aos seus cidadãos. Para que não seja preciso atravessar o atlântico com e-mails e outras coisas , (...) mas nós também podemos optar por construir redes de comunicação dentro da Europa " afirma a chanceler.
Tudo isso acontece quando a justiça começa a investigar formalmente os casos relacionados com a NSA, vindos de queixas apresentadas por grupos de consumidores, nomeadamente as que envolvem questões de protecção de dados com o Google que se arrastavam há anos na Europa.
Ao longo dos últimos dois anos , houve também questões de privacidade e protecção de dados com outras grandes empresas de internet, como o Facebook, que agora voltam a ganhar relevo.
E-mail Made in Europe
A oportunidade para a industria europeia de Net
Não é possível entender esta agenda política somente pelo caso Snowden / NSA. Existe toda uma oportunidade de afirmação da industria europeia num negócio julgado perdido para os Estados Unidos.
Mas talvez Angela Merkel queria principalmente falar sobre e-mail, cavalo de batalha dos actores digitais alemães. De facto, em agosto passado , os principais ISP decidiram unir-se para proteger seu tráfego de e-mail , permitindo a criptografia TLS (uma evolução do SSL - Secure Sockets Layer ) entre seus servidores a que eles chamaram de "e-mail Made in Germany" .
Podemos imaginar estender esta iniciativa para toda a Europa , para criar um "e-mail Made in Europe ".
Mas, neste caso, ainda haveria um grande obstáculo a superar: incentivar os utilizadores europeus da Internet a utilizam os serviços Made in EU, porque criptografar comunicações europeias é inútil se usamos contas baseadas nos EUA como as do Gmail. Para competir com a Google , seria necessário criar serviços europeus pelo menos tão eficazes e fáceis de utilizar.
Neste ambiente de cyber-desconfiança entre a Europa e os Estados Unidos, activar a velha conta e-mail do ISP local parece ser para já a solução para milhões de utilizadores europeus zelosos da sua privacidade. |