Jorge Bento em 2019-12-13
A Canalys realizou em Barcelona o primeiro encontro de Parceiros europeus de cibersegurança e a gestão de talentos nesta área foi o grande tema em debate. Brittany Kaiser, a famosa whistleblower ligada ao escândalo do Facebook, foi a estrela do encontro
Alex Smith, Senior Director da Canalys, apresenta o “Índice de estupidez” em cibersegurança, porque muitos incidentes graves ocorridos recentemente têm mais vezes origem na negligência das organizações do que na mérito dos criminosos
Na sequência do Canalys Forum, o maior encontro europeu de Canal IT, a organização ampliou o número de dias do evento para se centrar e debater a área de maior crescimento nos Parceiros de Canal IT, os serviços de cibersegurança. As pessoas são o mais vulnerávelApesar de todos os avanços a que estamos a assistir em segurança, as pessoas mantêm-se a parte mais vulnerável de qualquer organização. E porquê? Em primeiro lugar, a segurança é complexa. Num mundo em que os ataques se estão a tornar cada vez mais sofisticados, pode ser incrivelmente difícil para a maioria das pessoas – ou mesmo profissionais treinados – saber que tipo de atividade é genuína e quais são maliciosas. A segurança é também frustrante. Quando queremos ser rápidos, abertos e colaborativos, a segurança pode parecer lenta, contraditória ou até mesmo paranóica. A realidade é que vão sempre existir agentes maliciosos e estes têm muito a ganhar se conseguirem enganar as pessoas para ter acesso a dados e sistemas empresariais. Infelizmente, existem demasiadas empresas que falham consistentemente na resposta a estes desafios. Algumas falham com erros tão básicos que é verdadeiramente inaceitável, considerando as consequências que estão a arriscar. Porque muitas falhas de segurança fizeram notícias em todo o mundo, a Canalys criou o Canalys Cyber Stupidity Index, que é uma forma inovadora de olhar para algumas das piores falhas de segurança mundiais e entender que muitas não são mérito dos criminosos, mas negligência dos ‘guardiões’ dos dados. Em cada um dos anos desde 2015, vimos pelo menos uma “mega-breach”, que a Canalys define como uma única falha que compromete mais de 600 milhões de registos. Mas mesmo descontando estes eventos, o número total de registos perdidos em 2018 subiu 400%, o que mostra que os hackers estão cada vez mais a atacar empresas menores, onde a estratégia de segurança é mais relaxada – sendo alvos mais fáceis e sujeitos a menor ou nenhuma cobertura mediática, diminuindo a probabilidade de serem apanhados. Os talentos são a chave e o problemaA indústria sonha com sistemas automáticos de deteção e resposta, o que os ajudaria a remediar todos os problemas atuais sem intervenção humana. As pessoas querem uma ferramenta de implementação escalável, uma plataforma personalizada de subscrição e renovação para terem a certeza que veem todos os seus fabricantes. Mas, antes deste sonho se tornar realidade, precisamos de endereçar a questão da escassez de talentos. Há duas palavras que queremos eliminar desta indústria, e não é “transformação” e “digital” – é “escassez” e “talentos”. Só em cibersegurança, existem à volta de três milhões de posições por ocupar e o problema só se vai continuar a agravar. Estamos a olhar para as pessoas certas que vamos de facto precisar no futuro? O problema é que estas pessoas requerem um grande investimento de tempo e dinheiro e são, na verdade, dois grupos distintos: profissionais altamente qualificados que podem começar a trabalhar hoje, e recém- -licenciados que querem começar a trabalhar, mas que requerem um grande investimento em formação. E isto comporta um risco, porque se as empresas investirem em formar pessoas com pouca experiência, podem mais tarde perdê-las para outras empresas que não tenham os meios para contratar profissionais altamente especializados ou treinar recém-licenciados, mas possam oferecer-lhes posições vantajosas nesse meio-termo. Outro problema é que isto cria um conflito entre fabricantes e Parceiros, porque a maioria dos fabricantes podem fazer este investimento. Sem dúvida que os maiores estão a escoar o talento todo da indústria, o que deixa para os Parceiros as opções mais arriscadas. Isto, contudo, é apenas metade do problema Muitas pessoas veem a automação como a “bala de prata” para este problema. Ironicamente, contudo, a automação requer talentos específicos – assim, o que é que fazemos se não temos os talentos para criar a automação? O problema não é só a escassez de talentos: é também a escassez de coragem. É a incapacidade de arriscar fazer o salto: não têm o dinheiro, não têm o tempo; talvez não tenham a estratégia ou a visibilidade para o fazer. Parceiros e fabricantes estão a investir nisto; ouvimo-lo a toda a hora, investimentos em universidades e cursos vocacionais. Estamos a ver mais dinheiro e pessoas na indústria, mas a equação é a mesma, as mesmas pessoas com os mesmos papéis, os mesmos papéis muito limitados. A ameaça que estamos a enfrentar não é o problema: é a que vamos enfrentar amanhã, pelo que temos de aceitar o risco e fazer esse salto. Precisamos de encarar a tecnologia e as pessoas não como forças opostas, não como mutuamente exclusivas, mas como uma colaboração. Assim, como é que olhamos para investimentos tecnológicos em cibersegurança como complemento ao investimento em pessoas? Como é que comparamos as vantagens dos dois e os juntamos? Vamos precisar de novas regras e novos papéis a representar e novas normas de atuação. As ameaças estratégicas tomam partido de fraquezas humanas, e precisamos de muitas áreas de atuação. Vamos precisar de engenheiros, de analistas – os investimentos que estão a fazer hoje em cibersegurança são muito úteis. Mas, numa guerra em que a generalização não pode ser aplicada às máquinas, também precisamos de pessoas com habilitações em sociologia, psicologia e história da estratégia para alargar a equação. Diferentes pessoas, diferentes papéis, diferentes versões de sucesso - todas aplicadas em conjunto. Um mercado em convulsão permanenteEsta é a posição do vendors no mercado EMEA de cibersegurança em termos de quota de mercado por vendas endereçadas pelo Canal no primeiro semestre de 2019.
O setor da saúde tem sido um dos mais atingidos e a Canalys prevê que esta tendência continue. É um setor especializado que requer um grande nível de competências especializadas para o suportar, e vai ser um setor tão importante que, nos próximos cinco anos, 10% do Canal de segurança estará focado exclusivamente nos cuidados de saúde, pelo que é uma grande oportunidade para muitos dos Parceiros. À medida que mais criminosos se focam em setores como os cuidados de saúde, e que mais indústrias levam os seus sistemas físicos para a infraestrutura digital, os erros tornam-se mais graves e a Canalys prevê que a primeira perda de vida humana diretamente ligada a um ciberataque ocorra durante o próximo ano.
A Canalys espera que esta segurança híbrida seja o mercado de tecnologia com maior crescimento na Europa ao longo da próxima década. No mega-ataque à Target em 2014, os criminosos acederam aos servidores através do ar condicionado. É impossível oferecer uma solução de cibersegurança completa sem salvaguardar a infraestrutura física. E esperamos que 50% dos Parceiros vão convergir a segurança digital e física dentro dos próximos cinco anos. No entanto, para alguns dos Parceiros que servem indústrias, saber como abater drones talvez venha a ser importante. A segurança não se limita à proteção dos clientes contra hacks; inclui também a mitigação do que acontece depois do facto. Assim, a Canalys deixa uma recomendação: incluam seguros no vosso portfólio de cibersegurança. Cerca de um quarto dos Parceiros europeus já o fazem, de acordo com estudos de mercado. |