Rui Damião em 2019-10-29
IoT e Edge estão a potenciar um mundo mais inteligente, onde os dados têm um peso cada vez mais importante para as organizações. EY, Forcis IT, Ingecom, Noesis, SAS, Schneider e Softinsa/IBM conversaram sobre os desafios que as empresas enfrentam num mundo cada vez mais smart
A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e o Edge são apenas dois componentes que potenciam um mundo mais inteligente. O IoT é muito mais do que uma mera tendência; está, atualmente, em todo o lado e em variadíssimas aplicações. Estas aplicações trazem consigo a necessidade de latência zero para que seja possível agir sobre os dados o mais rapidamente possível. A utilização exclusiva da cloud é inviável para muitas das empresas, o que faz com que as organizações levem o processamento cada vez mais para o Edge.
Transformação digital como motor de crescimentoRita Lourenço, Key Account Manager Iberia Zone da Schneider Electric, explica que a Transformação Digital já é um conceito muito falado e a Schneider Electric tenta fazer com que “as empresas se dediquem ao core da sua atividade”. No caso da Schneider, há soluções abrangentes para diferentes áreas, como edifícios, infraestrutura, data center e indústria, e o grande objetivo é que as organizações possam aumentar a sua produtividade. João de Oliveira, Principal Business Solutions Manager da SAS, refere que “não há Transformação Digital se não houver Smart, IoT e Edge”. O conceito de Smart impulsiona a Transformação Digital; já existem casos de edifícios inteligentes que se adaptam às condições meteorológicas, onde as persianas e o ar condicionado são regulados automaticamente consoante a temperatura exterior e interior. Sendo este um caso que ainda não é comum na maioria dos edifícios, existe uma oportunidade de mercado pronta a ser explorada.
“Os dados não são informação e informação ainda não é conhecimento”-Frederico Muñoz, Chief Enterprise Architect, Softinsa / IBM Portugal
Hugo Almada, Diretor de Operações da Forcis IT, afirma que a componente de software é importante na Transformação Digital de uma organização, mas que sem hardware não é – de todo – possível transformar uma empresa. No entanto, o hardware atual já consegue ter alguma autonomia e “fazer validações independentemente daquilo que recebe de sensores e outros equipamentos”. Frederico Muñoz, Chief Enterprise Architect da IBM Portugal, diz que a Transformação Digital se baseia na utilização de novas tecnologias e conceitos, não porque a tecnologia é, por si só, interessante, mas sim porque traz um retorno concreto para a organização que está a implementar este tipo de soluções. “Os dados não são informação e informação ainda não é conhecimento”, indica Frederico Muñoz. Assim, é necessário perceber a grande quantidade de dados que uma organização recebe para, aí sim, se tomarem decisões informadas. Miguel Amado, Partner – Advisory Services da EY, explica que a Transformação Digital começou por ser um hype. “Com a Transformação Digital, onde se pretende fazer mais com menos e mais rápido, a procura inicial foi ditada pela oferta e não definida pela procura”, refere, acrescentando que os dados são a materialização final do que é a Transformação Digital. Neste sentido, algumas organizações ainda não encontraram uma razão para a refinação dos dados justificar um investimento. Miguel Louro, Enterprise Solutions Senior Manager da Noesis, diz que “andamos a falar de Transformação Digital há anos, mas são estes temas, como o IoT, que potenciam esta transformação, sendo um dos principais drivers”. O que potencia a adoção de soluções IoT é a comunicação e a velocidade com que as organizações conseguem ter acesso a dados e, como já referido anteriormente, transformar esses dados em informação e conhecimento. Nuno Reis, Business Developer da Ingecom, mostra-se totalmente de acordo com a ideia de a Transformação Digital ser muito mais do que uma simples buzzword. “Todos estes temas relacionados com a componente digital são uma consequência de uma determinada necessidade, como aumentar a produtividade e rentabilidade, segurança ou conforto”, diz.
“Com a transformação digital, a procura inicial foi ditada pela oferta e não definida pela procura”- Miguel Amado, Partner – Advisory Services, EY
Smart ou inteligenteJoão de Oliveira alerta que “ser Smart” e “ser inteligente” não é a mesma coisa. “Smart é quando se pára antes da decisão e o inteligente é quando se toma a decisão”. Segundo o representante da SAS, é preciso fazer alguma coisa para “ter dados, ter modelos analíticos, ter machine learning, etc.. Ter o score só por ter não é nada, é preciso pegar na informação e fazer alguma coisa”. O representante da IBM Portugal e da Softinsa acredita que o que mudou principalmente nas cidades, para além da densidade, foi a capacidade de obter em tempo real informação que antes não estava disponível. O que torna uma cidade ou um edifício ‘Smart’ é utilizar as fontes de informação sobre o seu estado para fornecer uma melhoria num espaço ou num tempo predefinido. Hugo Almada indica que a capacidade de monitorizar é “o Smart”. Se temos um sistema que toma uma determinada decisão consoante a informação que recebe, sem a intervenção de um humano, então passamos para um sistema inteligente. Nuno Reis não vê uma grande diferença “entre a componente componente core para a periferia”. Aquilo que “há, é, se quisermos considerar a componente relacionada com sensores, a tomada de decisão fora da periferia em determinados casos”. “Há casos específicos onde por mais que nós queiramos segmentar e dividir conceitos, eles na prática se juntam”, refere. A Key Account Manager da Schneider Electric afirma que o inteligente é muito mais avançado, mas ainda estamos numa fase “mais básica, como a questão de um sensor que mede ou monitoriza” um determinado ponto. Assim, e tendo em conta que “o que não se mede não existe”, a primeira fase tem de passar necessariamente pela colocação de sensores nos espaços. Miguel Amado diz que é necessário existir um ponto de partida. Para tornar um determinado espaço ou uma cidade em Smart, é preciso, primeiro, perceber “qual o seu propósito”, quais as necessidades que precisam de ser endereçadas e perceber quais os pontos que se quer medir, por exemplo, e “só depois é que nos viramos para a tecnologia”, até porque “há uma panóplia infindável de soluções à disposição”. O Enterprise Solutions Senior Manager da Noesis refere que “o desafio não é tecnológico; é de vontade, de cultura ou de mentalidade”. Inicialmente, é preciso definir o propósito; depois, há “garantidamente” tecnologia para chegar a essa necessidade e, se não existir, “cria-se rápido. É mais fácil criar tecnologia do que vontade”.
“O desafio não é tecnológico; é de vontade, de cultura ou de mentalidade”- Miguel Louro, Enterprise Solutions Senior Manager, Noesis
Analítica como peça fundamentalJoão de Oliveira (SAS) refere que “sem a analítica não se consegue fazer nada” uma vez que é necessário conseguir interpretar a informação que chega para que os modelos de Transformação Digital funcionem. No entanto, é importante pensar em como é que a analítica pode trazer confiança. “Quando uma decisão é tomada, é preciso ter um background para justificar essa decisão”, indica. Para Frederico Muñoz (IBM Portugal) há a questão de os modelos analíticos terem uma componente estatística e matemática, mas o “problema” são os data sets, os dados, e o que eles significam. Se os modelos forem opacos, por exemplo, não é possível saber como é que uma rede neural tomou uma determinada decisão, o que pode ser ilegal. Hugo Almada (Forcis IT) diz que é preciso saber se a analítica é confiável. “Se o espetro tiver pouca representação, vai dar uma informação errada. Por outro lado, se tiver muita e for confiável, a informação será, naturalmente, de confiança”. Miguel Louro (Noesis) refere que a questão da analítica é fundamental. “Não só usamos os modelos para determinar a decisão, como depois também temos de medir a consequência da decisão e é aí que vamos resolver o problema da confiança: temos a decisão que foi tomada – seja boa ou má – e aprendemos com essa decisão”. Miguel Amado (EY) afirmou que os dados abertos são um conceito louvável. No entanto, é necessário perceber de onde vêm e se são dados fiáveis para perceber o seu valor. O representante da EY indica que a monetização não obriga a uma venda dos dados, mas a uma racionalização dos mesmos e a uma consciencialização de onde vêm e como estão a ser produzidos. “Os dados têm valor, mas é preciso perceber como se pode aplicar esse valor. O open data versus data monetization é um pouco isto: não é fazer dinheiro com os dados, mas ter noção do seu valor para que se possa criar mais valor ainda”, explica.
“Diria que estamos seguros, mas habitualmente não são aplicadas estas práticas”- Hugo Almada, Diretor de Operações, Forcis IT
IotT e segurançaO IoT levanta grandes problemas de segurança, não só pelo modo como estão a proliferar, mas também pelo modo como estão a entrar no mercado, muitas vezes sem as devidas proteções de segurança. Na ótica de Nuno Reis, os projetos onde se adotam soluções de IoT ou de OT, na área da indústria, andam lado a lado com a área de segurança porque “cedo se percebeu que tem impacto no negócio”. Do ponto de vista da segurança, o desafio passa pelo aumento exponencial dos dispositivos, como sensores, e o tipo de sistemas que estes dispositivos apresentam. O Business Developer da Ingecom explica que a metodologia utilizada por diversos fabricantes tem sido essencialmente em três áreas: a visibilidade, “onde não é possível fazer grande coisa antes de conseguir perceber que dispositivos compõe uma rede”; depois, o controlo, onde as empresas “têm de colocar algum tipo de política ou compliance próprios para definir o que acontece em determinados parâmetros”; por fim, a orquestração, onde “é possível fazer uma ligação entre as tecnologias que já existem ou podem vir a existir na infraestrutura para ter uma analítica mais rica e abrangente”. Hugo Almada, da Forcis IT, explica que “em termos de segurança, diria que estamos seguros; agora, se habitualmente implementamos estas práticas, aí é que não”. Um dos problemas, indica o Diretor de Operações, é o desconhecimento. Hugo Almada acredita que ninguém tem as suas redes desprotegidas porque quer; o que acontece é que há um ou mais pontos de uma rede que está desprotegido e que, posteriormente, pode ser explorado por potenciais invasores. Miguel Louro acredita que a questão da segurança é “uma preocupação mais nossa, da indústria, do que do mercado”. O representante da Noesis refere que a preocupação do mercado é “mais teórica”. “Já estive envolvido em projetos em que o importante é poder dizer que se tem um determinado número de certificações de segurança”, afirma. Se é verdade que muitos dispositivos IoT não estão seguros, também é verdade que “muitos dos fabricantes já começam a ter a encriptação no dispositivo”, explica João de Oliveira. Este ponto é particularmente interessante no caso de existir uma tentativa de seguir determinado dispositivo, como um GPS tracker, de um individuo, ou para retirar outro tipo de dados de dispositivos IoT. Rita Lourenço lembra que há setores que têm determinadas especificações que têm de ser cumpridas, como o setor financeiro, onde, por exemplo, os próprios telefones têm de ter encriptação para proteger a informação que pode ser partilhada através de uma chamada, mesmo que interna. “As preocupações de segurança que o IoT traz são semelhantes às preocupações de segurança mais tradicionais”, indica Frederico Muñoz. O Chief Enterprise Architect da IBM Portugal lembra que não há um grande problema se alguém entrar num sensor de temperatura de uma cidade e verificar os dados que ele gere, mas pode existir um verdadeiro problema se em vez dos sensores de uma cidade estivermos a falar de sensores de um edifício. O Partner da EY acredita que numa ótica de gestão de risco, “o IoT, por si só, é incipiente. Se adicionarmos o Edge, a probabilidade aumenta por causa da dispersão de pontos de risco. Depois, se for Smart ou inteligente, o impacto também é diferente”.
“O que estamos a ver é que nas infraestruturas – sejam públicas ou privadas – o edge tem uma preponderância cada vez maior”- João de Oliveira, Principal Business Solutions Manager, SAS
EdgeApesar de o Edge ainda ser relativamente recente no mercado, a Schneider Electric já está a endereçar o tema há algum tempo. “É uma tendência que já identificámos e temos soluções de proximidade, como é o caso de data centers descentralizados”. A grande vantagem destas soluções, segundo Rita Lourenço, é que estão próximas da operação das organizações, para além de serem escaláveis. “O Edge vai desde o dispositivo que captura a informação, até chegar ao mini data center ou outro ponto”, relembra o Principal Business Solutions Manager da SAS. “O que estamos a ver é que nas infraestruturas – sejam públicas ou privadas –, o Edge tem uma preponderância cada vez maior. Vemos com muito agrado o Edge, a AI on the Edge, pela capacidade de processar em alta velocidade a grande quantidade de dados que, muitas vezes, são gerados e analisados na hora”. João de Oliveira afirma que o Edge tem sido particularmente adotado em negócios que precisam de analisar uma grande quantidade de dados no momento, ou em situações críticas. O Chief Enterprise Architect da IBM Portugal refere que o Edge está a ser utilizado de forma “quase transparente à medida que as funcionalidades de computação crescem e existe uma adoção progressiva” deste tipo de soluções por parte das organizações. Dando o exemplo dos transportes, Frederico Muñoz explica que há dados que podem não ser processados no Edge caso a organização não precise de estatísticas em tempo real, mas sim, por exemplo, semanais. Por outro lado, há situações em que as organizações querem ter uma capacidade de análise e ação imediata e, aí, “o Edge torna-se fundamental”. O Enterprise Solutions Senior Manager da Noesis indica que o Edge pode ter uma dinâmica interessante. “Percebo as vantagens do Edge em termos de automação, computação imediata e ação, mas quando falamos de analítica – e posso estar a ser um pouco conservador a achar que os humanos têm de analisar toda a informação – temos de juntar a componente de cloud”. Hugo Almada acredita que “o Edge vai existir cada vez mais” por causa da velocidade de informação e de processamento. “A primeira analítica tem de ser feita num periférico. Temos cada vez mais largura e velocidade de banda, mas também temos muito mais equipamentos”. “Há tantas opções e variáveis que, no final, vão ser decisões de gestão”, defende Miguel Amado. O Edge pode tirar um pouco o peso da largura de banda, mas, para os clientes, os benefícios do Edge ou de uma outra solução ainda não estão associadas à solução em si; apenas querem a solução que vá ao encontro das suas necessidades, independentemente do nome que as empresas lhe dão. Dentro de uma perspetiva de segurança, o Business Developer da Ingecom refere que, já há 20 anos, por uma necessidade de uma comunicação rápida, existia um repositório local que, de certo modo, funcionava como o Edge.
“A ideia não é gerar necessidade em função da oferta, mas sim em função das necessidades do mercado, ter uma resposta capaz”- Nuno Reis, Business Developer, Ingecom
Oportunidades para os parceirosNuno Reis, da Ingecom, afirma que as oportunidades que têm existido para os Parceiros passam pela adoção de novas tecnologias porque “as necessidades, do ponto de vista de negócio, independentemente do vertical, têm evoluído, o que obriga a esta alteração”. No caso específico da segurança, é importante que os Parceiros apostem na formação e na certificação para que possam abordar o mercado o melhor preparados possível. O representante da Ingecom indica, também, que é preciso ter presente que “a ideia não é gerar necessidade em função da oferta, mas sim em função das necessidades do mercado, ter uma resposta capaz”. Na ótica da Schneider Electric, as tendências e as soluções são, atualmente, mais diversas e complexas. “As oportunidades já não são tão óbvias como eram há uns anos e os Parceiros têm um papel muito mais preponderante para endereçar a solução para o cliente”, refere Rita Lourenço. Deste modo, o papel dos Parceiros é de extrema importância, uma vez que fazem a ponte entre os fabricantes e os clientes finais.
“As oportunidades já não são tão óbvias como eram há uns anos e os parceiros têm um papel muito mais preponderante para endereçar a solução para o cliente”- Rita Lourenço, Key Account Manager Iberia Zone, Schneider Electric
Um ponto partilhado pela Schneider Electric e pela IBM prende-se pela complexidade dos projetos atuais, que já não envolvem apenas um fabricante, mas sim um conjunto deles que são especializados em várias áreas. Do mesmo modo, é possível integrar vários Parceiros, especialistas em determinados pontos, para que o cliente final possa ter à sua disposição a melhor solução possível para as suas necessidades com o melhor custo possível. João de Oliveira relembra que a SAS é agnóstica em termos de tecnologia e, nesse sentido, a empresa tem dois tipos de Parcerias. A primeira prende-se com o facto de embeber a tecnologia no dispositivo; a segunda são Parcerias mais viradas para o negócio para desenvolver modelos que vão ao encontro das necessidades do cliente. Hugo Almada reforça que, de facto, “as oportunidades são muitas” e que “ninguém” consegue oferecer a solução end-to-end sozinho, salientando que as oportunidades são “infindáveis”; é preciso saber explorá-las e “há espaço para todos”. “As Parcerias são elas, per se, uma oportunidade”, indica Miguel Amado, da EY, acrescentando que “já não se consegue levar end-to-end, mas também porque já não é como há 20 anos, em que só existiam três marcas de computadores e se queríamos alguma coisa de redes tínhamos de ir ali”. Miguel Louro, da Noesis, reforça que “estes tipos de projetos não podem ser feitos por uma empresa só” e que isso deve-se não a “uma revolução tecnológica”, mas sim “a uma revolução por parte do negócio”.
Resumo
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