2022-2-09
Marc Andreesen e Jack Dorsey, dois bilionários que fizeram fortuna com a Web, andam notoriamente pelas redes sociais em guerra aberta de tal forma que mais parecem adolescentes em luta por afirmação
Andreessen é sócio de uma das mais conhecidas empresas de capital de risco de Silicon Valley (Andreessen Horowitz, ou a16z) e originalmente foi o criador do browser Mosaic, que deu origem aos browsers Web como os conhecemos. Dorsey é o fundador do Twitter e atual CEO da Square, uma empresa de serviços financeiros. Ambos têm mais do que um interesse menor no novo conceito de Web3, que está a ganhar rapidamente uma aura, para uns, de próxima revolução tecnológica e, para outros, de pouco mais do que uma sucessão de esquemas de pirâmide. Apesar de todas as siglas que entretanto aparecem associadas a Web3, a ideia base é bastante simples, embora a execução prática do conceito esteja ainda muito longe de estar perfeitamente articulada. A Web3 corresponderia, segundo os seus proponentes, a uma evolução da Web em que, de alguma forma, o controlo fosse devolvido aos utilizadores e não estivesse centrado num conjunto bastante restrito de grandes empresas (leia-se Google, Facebook, Twitter) que vivem essencialmente de receitas publicitárias e da mineração para esse fim dos dados dos utilizadores. A Web3 tornaria, com base em técnicas criptográficas, nomeadamente blockchains, mais fácil aos criadores interagirem diretamente com os respetivos clientes, sem a intermediação destas plataformas, especialmente para transação de ativos digitais. É a teoria, pelo menos. A prática, na verdade, está ainda demasiado ligada ao aparecimento de novas criptomoedas e de NFT (“non fungible tokens”, uma forma de ativos passíveis de serem transacionados e validados por via de tecnologias de blockchain) de valor muitas vezes discutível se não mesmo questionável, por estarem associados ao que parece, com frequência, serem esquemas de pirâmide e mesmo formas de negócio fraudulentas. É tentador dizer que a Web3 é mais um gerador de bolhas tecnológicas, um conjunto de conceitos ainda mal cimentados, mais um “hype” num setor que não tem falta deles. É fácil, mas não sensato. A concentração excessiva de poder num conjunto restrito de empresas, por confortável que pareça, não é saudável. O setor tecnológico precisa de um abanão de larga escala que o faça deixar de depender tanto da exploração dos dados de cada um de nós, utilizadores finais. Se não se chamar Web3, outro nome terá. Mas acontecerá, inevitável e inexoravelmente. |