Jorge Bento em 2021-12-09
O IDC FutureScape EMEA 2022 aponta como uma das tendências na Europa para os próximos anos o tema da Soberania Digital Europeia e a forma como vai impactar os orçamentos de IT das organizações. Estima mesmo um aumento de 10% de custos até 2024 para fazer face ao compliance europeu
Com a habitual falta de eficácia em comunicar com o cidadão europeu, a recente agenda da UE para o digital nesta década passou largamente despercebida para a generalidade das pessoas, mas é extremamente ambiciosa. O EU Digital Compass pretende, em dez anos, devolver aos governos europeus alguma soberania sobre aquilo que os gigantes digitais norte- -americanos (e orientais) diluíram numa “cloud” apátria, não facilmente regulada e em alguns casos largamente intributável. Desde o pós-guerra que a influência económica norte-americana nas democracias europeias era sentida pela maioria dos cidadãos com tolerância benévola. Novas gerações, novas prioridades geoestratégicas e esse crédito foi desaparecendo. Donald Trump deu o empurrão final; - a Europa está a ficar “nacionalista”! Dos quatro pontos cardeais do Digital Compass, o referente às infraestruturas europeias é especialmente relevante para os nossos leitores; pretende criar os alicerces para a sua Independência Digital, ou se não independência, pelo menos alguma soberania dos 27 sobre os dois outros blocos geopolíticos. Esse pilar é largo, passa pela duplicação da produção local de chips, de redes Gigabite distribuídas e com propriedade europeia, e dez mil pontos Edge “altamente seguros”. E por seguros leia-se em compliance com os regulamentos europeus ainda por desenvolver, e isso inclui serviços cloud. Se o RGPD visa a proteção dos dados do cidadão, novas normativas vão visar as organizações, o que a UE designa de iniciativas B2B. A soberania sobre os dados empresariais e públicos das organizações europeias são o próximo passo, mais arrojado do que o RGPD, porque incorpora uma infraestrutura própria. O European Alliance for Industrial Data, Edge and Cloud é a agenda para colocar produtos e serviços europeus no centro das Redes e Clouds do velho continente. A União Europeia sobe, assim, um degrau no protecionismo digital, na soberania dos 27 Estados face aos gigantes tecnológicos globais, e de alguma independência na produção tecnológica face aos outros blocos económicos, algo que na verdade podemos chamar de início de um Nacionalismo Digital. |