Henrique Carreiro em 2021-7-19
Em português, chamam-se boatos, mas o nome porque são mais conhecidos é o de fake news e são, na maioria dos casos mais conhecidos até agora, associados às áreas da política ou da saúde. Mas se forem, com o uso dos meios disponibilizados pela IA mais recente, apontados às empresas?
Em março de 2019, o CEO de uma firma do setor energético do Reino Unido recebeu uma chamada urgente do seu chefe, o CEO da sede na Alemanha, com instruções para ser efetuada uma transferência de duzentos e vinte mil euros para um fornecedor na Hungria. A operação, urgente, precisava de ser concluída dentro de uma hora. Uma vez que o CEO do Reino Unido reconheceu a voz e a forma de falar do seu superior, autorizou imediatamente a transferência. Infelizmente, o CEO do Reino Unido não estava a falar com o chefe: estava a falar com um agente criado por IA. A tecnologia de deep fake avançou consideravelmente nos poucos e curtos anos desde então. As ferramentas necessárias também se tornaram muito mais acessíveis. Tudo o que é necessário para produzir uma imagem ou vídeo falso convincente é um computador razoável, eventualmente uma conta num fornecedor de cloud e uma boa coleção imagens ou gravações do alvo. São até bem conhecidas as Apps móveis que incorporam deep fake para colocar os utilizadores em cenas célebres de filmes, por exemplo. Isto torna os executivos das empresas particularmente vulneráveis. Os executivos das empresas, pela sua função de representação, têm normalmente uma vasta gama de imagens e gravações disponíveis a público, muitas vezes nos sites das próprias empresas. Isto poderá proporcionar aos criadores de deep fakes todo o material de que necessitam para criar gémeos digitais. É apenas uma questão de tempo que estes ataques aconteçam no espaço empresarial. Imaginem-se os danos reputacionais para uma empresa, até possíveis manipulações de bolsa, se surgirem imagens ou declarações alteradas de um CEO. Mesmo que seja temporário, até ser desmentido, a falsificação persiste na Internet, como persistem atualmente as notícias falsas, tão difíceis e custosas de rebater. O ramsomware pode ser a grande ameaça de hoje, mas a extorsão ou difamação baseada em deep fake será, mais do que provavelmente, o seu grande e potencial sucessor. A prevenção, neste caso, não vai ainda tarde demais. |