Jorge Bento em 2022-3-07

OPINIÃO

Editorial

Saltar da frigideira pró lume!

Definitivamente, os astros não estão alinhados para nos facilitar a vida. No espaço de uma década, saltámos de uma crise financeira para uma pandemia, e desta para uma guerra na Europa, sem tempo para ganhar fôlego.

Saltar da frigideira pró lume!

Em março, o nosso logotipo é azul e amarelo

 
 
Estou a escrever este texto num momento em que tanques invadem uma capital europeia, com total falta de previsibilidade sobre o futuro a curto prazo. À memória vem-me a letra de uma música de Sting, escrita em 1985: Russians – “I hope the Russians love their children too”.
 
Estes três eventos sequenciais também nos recordam a memória que se perde nas novas gerações, como a história é, de facto, cíclica e como, com grande probabilidade, ela tende a repetir-se. Seguramente de nova roupagem, mais tecnológica e provavelmente menos letal, que os eventos homólogos, mas repete-se. Estamos novamente a saltar da frigideira para o lume!
 
É impossível um ocidental não sentir empatia com o povo ucraniano. Afinal é uma democracia liberal europeia (mesmo que imperfeita) que está a ser violentamente destruída por um agressor iliberal e imperialista com velhas tácitas da mais básica guerra industrial destruidora e por ele perpetradas no passado recente na Chechénia e na Geórgia.
Todos pensamos que nos poderia acontecer o mesmo, e todos percebemos que em 30 anos a Europa se despreparou deliberadamente para este cenário de confronto.
 
Depois do dia 24 de fevereiro, o mundo como o conhecíamos, o “descontraído” mundo saído da Guerra Fria, já não será o mesmo. Os blocos tenderão a fechar-se sobre si mesmos e a reforçar as suas relações internas. A globalização tenderá a retroceder, a militarização voltará a níveis da Guerra Fria, as prioridades políticas serão alteradas e as relações económicas tenderão a ser mais regionais. E, até lá, até que o reajuste da produção ocidental e da sua supply chain ocorra, a economia vai sofrer.
 
Ao dia de hoje ninguém pode adivinhar o rumo da guerra, uma guerra que já todos entendemos que será mais longa e logo mais perigosa do que o antecipado. 
É de esperar que os limites geográficos e o tipo de conflito não escalem, mas o risco de isso ocorrer, por enquanto retórico e remoto, existe.
Esperemos apenas que os russos também amem os seus filhos...
 
Mister Khrushchev said, 'We will bury you'
I don't subscribe to this point of view
It'd be such an ignorant thing to do
If the Russians love their children too


Jorge Bento

Diretor do IT Channel

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