Jorge Bento em 2025-2-10
Escrever sobre decisões de política externa de Trump é tão arriscado como tentar prever o tempo numa tempestade em formação, pela imprevisibilidade das decisões futuras
Entre sanções tarifárias sobre laranjas da Califórnia, encomendas da Temu retidas na alfândega, incertezas sobre o petróleo canadiano e a ameaça de novas tarifas sobre carros “mexicanos” — ou, mais recentemente, sobre o aço e o alumínio —, a política comercial de Trump tornou-se um jogo de tensão constante, com impactos imprevisíveis para empresas e consumidores. Relativamente ao verdadeiro adversário, a China, onde Trump aplicou uma taxa global de 10% sobre as importações, a reação de Pequim foi enérgica, com a imposição de tarifas retaliatórias e a quase paralisação das operações da Google e de outras empresas norte-americanas. No meio deste barulho mediático, pode ter passado despercebida aquela que é, potencialmente, a ameaça mais grave da China: a redução estratégica das exportações de terras raras para os Estados Unidos, um movimento que pode afetar diretamente setores críticos como tecnologia, defesa e energia. Se na escola não foi fã da tabela periódica, grande parte destes minerais tem nomes pouco familiares, como neodímio, disprósio, térbio ou itérbio, mas sem eles não existiriam smartphones, LCD, LED, turbinas eólicas ou motores dos Tesla. A China não só tem cerca de 60-70% da extração destes minerais, mas controla 85-90% do seu processamento industrial, incluindo o refinamento dos poucos minerais extraídos em Mountain Pass, na Califórnia, que continuam a ser enviados para refinarias chinesas. A equipa de Trump tem consciência disso. A proposta de “armas vs. terras raras”, com que os EUA agora pressionam a Ucrânia, tem precisamente o objetivo de reduzir a dependência da China. No entanto, essa estratégia levará anos a dar frutos, incluindo o desenvolvimento da capacidade de processamento industrial desses minerais, que atualmente continua dominada por Pequim. A Europa tem uma capacidade limitada de processamento, com uma pequena refinaria na Estónia, e poderá expandi-la na Suécia, onde foram recentemente descobertas grandes jazidas de terras raras. No entanto, a exploração e industrialização desses recursos levará anos, deixando o Ocidente vulnerável no curto prazo. Esperemos que o caráter “bully” de Trump seja moderado pela “West Wing” da Casa Branca e que estas terras não passem de raras a raríssimas para a indústria ocidental.
Diretor do IT Channel |