2016-11-28
Nos sistemas de informação, dos quais dependem empresas, economias, vidas, eleições, países, riqueza e pobreza de nações, o generalismo é ainda recorrente, e a falta de sistematização nas carreiras continuadas, omnipresente
Que não sejamos como os atenienses, que nunca consultavam exceto depois do facto consumado. François Rabelais, Pantagruel (1532), Capítulo XXIV. Ninguém esperaria que um médico de clínica geral procedesse a operações à cervical. Na medicina, a especialização é dada como uma exigência de vida ou morte, assegurada pelos profissionais, exigida pelos clientes, ou pacientes, no caso. Contudo, nos sistemas de informação, dos quais dependem empresas, economias, vidas, eleições, países, riqueza e pobreza de nações, o generalismo é ainda recorrente, a falta de sistematização nas carreiras continuadas, omnipresente. Onde se começa a notar que a situação está a atingir o “tipping point” é na dificuldade de preencher vagas em áreas específicas, cada vez mais dependentes de conhecimento adquirido ao longo de anos de estudo e prática, tal e qual como acontece noutras áreas de atividade consolidadas há décadas. A empresa de analítica do mercado de emprego, Burning Glass Technologies, procedeu recentemente uma catalogação extensa das posições que demoram mais tempo a ser preenchidas na área dos sistemas de informação e as conclusões, embora não totalmente inesperadas são reveladoras:
Se nesta lista existem referências a três produtos (JBoss, Apache Kafka e Salesforce), na verdade a maioria da dificuldade refere-se a áreas de conhecimento que exigem habitualmente um percurso formal de educação e experiência extensa do mundo real. Talvez seja tempo de reconhecer estas áreas como aquilo que verdadeiramente são: brechas nas paredes das áreas normalmente consideradas estanques dos sistemas de informação, pontes para outras áreas da empresa. Porque, certamente, para organizar e sistematizar a informação da empresa, seja em termos de metadados, seja em arquitetura da informação, é necessário um conhecimento profundo das atividades das áreas de negócio e da estratégia da empresa – caso contrário, qualquer trabalho corre o risco de ser considerado efémero e de passo curto. De igual modo, todas as opções de cloud penetram atualmente no núcleo da organização – mas são um tema quase tão incompreendido como incontornável nas organizações. Finalmente, a segurança. Provas recentes mostram que a segurança, mais do que responsabilidade de um grupo de indivíduos fechados sobre si, é um trabalho para ser entendido por toda a organização: até o CEO tem que saber de segurança. Caso contrário, a organização sofre do mal dos atenienses que se preocupavam apenas a posteriori. A lista da Burning Glass é uma lista de oportunidades para quem procura um rumo de carreira; mas é-o mais para as empresas que ainda não consideram estas como áreas absolutamente prioritárias para o respetivo futuro.
Henrique Carreiro, docente na Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na Nova Information Management School. |