Henrique Carreiro em 2019-8-16
Na primeira metade da presente década os fornecedores de serviços de cloud investiram na criação de infraestrutura e de mercado, levando a que as empresas e organizações começassem a considerar a adoção, primeiro hesitantes e, mais tarde, em velocidade de cruzeiro
Henrique Carreiro
A gama de serviços disponíveis nas clouds públicas e a facilidade de subscrevê-los conduziram a ciclos cada vez mais curtos de adoção, facto para o qual também contribuiu o processo de virtualização em que muitas empresas vinham a apostar há alguns anos, e que suavizou a transição de muitos serviços de IT de instalações próprias para plataformas públicas. Há uns anos assistiu-se a um outro movimento com algumas semelhanças com este, numa altura em que o outsourcing de IT atingiu um pico, associado a uma visão, então mais prevalecente, do IT como um centro de custos. A escassa flexibilidade dos contratos de outsourcing levava a que cada alteração fosse acompanhada de insustentáveis tempos negociais que travavam o fluxo de inovação nas organizações. Muitas empresas adotaram o modelo cloud também como uma alternativa, mais flexível, ao outsourcing tradicional. Mas a verdade é que alguns dos problemas já conhecidos do passado voltaram a manifestar-se, entre eles o aparecimento de custos inesperados, associados ao crescimento do uso. Estes custos, que se tornaram então bem explícitos, têm levado a que as empresas se tornem mais cautelosas e reavaliem a forma como equilibram as diferentes componentes no seu portfólio de serviços entre on-premise e off-premise. Há cerca de três anos, a Dropbox fez soar um sinal de alarme entre os operadores de cloud ao passar para uma solução de cloud privada, depois de ter nascido e crescido em clouds públicas - era um dos clientes de referência da AWS. É natural, contudo, que a subida de custos no modelo de negócio da Dropbox exigisse uma maior autonomia do que aquela que tinha ao depender totalmente de um fornecedor terceiro. Mas se dificilmente a situação de qualquer empresa cujo negócio não seja espaço de armazenamento se compara com a da Dropbox, ainda assim tem-se vindo a assistir a um reposicionamento dos investimentos em cloud por parte de numerosas empresas. Não porque tenham desistido do modelo, mas por concluírem que preferem o maior controlo de custos, maior privacidade e flexibilidade que uma solução on-premise lhes dá sobre a do alojamento em plataformas geridas por outras entidades. É bem sabido que os modelos de IT oscilam sempre entre centralização e descentralização: a dinâmica tem um movimento pendular. O ponto de equilíbrio, vemo-lo agora, não será, a curto ou mesmo médio prazo, a exclusividade das soluções de clouds públicas. A solução passará, muito provavelmente, por um reequilíbrio das clouds híbridas, com um peso superior da componente privada ao que se imaginava até agora. Pelo menos até o pêndulo se desinquietar de novo, isto é.
por Henrique Carreiro |