2023-7-07
Pequim vai impor controlos de exportação sobre dois metalóides essenciais para a produção de semicondutores, o que só pode ser interpretado como uma retaliação, depois de os Estados Unidos e a Europa restringirem as exportações de chips e máquinas litográficas para a China
O Japão também tomou medidas para limitar o acesso das empresas chinesas a chips e equipamentos de produção de semicondutores. Os dois metalóides em causa nestas restrições chinesas são o gálio e o germânio, ambos com utilização na eletrónica há mais de um século, sendo que o germânio foi a base de todo o desenvolvimento do rádio e das microondas durante muitas décadas pela sua eficiência em retificar sinais de poucos microvolts. Ambos os elementos estão na lista de matérias-primas críticas da União Europeia. Enquanto no caso do germânio são os EUA a possuir as maiores minas do mundo, que pouco exploram porque os preços não são competitivos, o gálio, o elemento 31 da tabela periódica, é obtido a partir de reservas no meio natural, existentes na China, que possui depósitos enormes desta substância difícil de substituir nas quantidades atualmente utilizadas. Na indústria dos semicondutores, o gálio é sobretudo aplicado no processo de “poluir” o silício, a base do transístor de efeito de campo que se encontra aos milhões nos chips, mas também em outros semicondutores, como as células fotovoltaicas. A mudança de Pequim surge poucos dias depois de o governo dos Países Baixos ter anunciado novas restrições às exportações de alguns equipamentos da ASML, o único fabricante do mundo de máquinas litográficas para as atuais espessuras dos modernos microprocessadores, e na véspera de uma visita da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, a Pequim. Nesta batalha pelo controlo da tecnologia entre a China e os EUA com os seus aliados, o desfecho é altamente imprevisível, mas não augura nada de bom para a disponibilidade e preço dos componentes eletrónicos, a base de toda a sociedade digital. Na verdade, esta luta já não é sobre a tecnologia, não é mais uma batalha comercial; é um jogo geoestratégico onde nós, europeus, somos o passageiro do lado. Resta esperar que o condutor saiba o que está a fazer. |