Jorge Bento em 2024-4-08
O principal jornal espanhol, o El País, publicou um artigo que fez manchete com o título “La vía portuguesa de hacer política: lealtad institucional y buena educación”
Pedro Nuno Santos (à esquerda), Secretário-Geral do PS, e Luís Montenegro (à direita), primeiro-Ministro, cumprimentam-se antes da eleição do Presidente da Assembleia da República (Fotografia: Lusa)
É sempre curioso ler a imprensa internacional e entender como os outros povos nos veem, pese embora que sabemos que nem sempre os correspondentes têm a visão mais aprofundada dos temas. A reportagem foca-se no episódio caricato da eleição do Presidente da Assembleia da República e da forma como foi possível encontrar uma solução. Possivelmente este artigo diz mais sobre Espanha do que sobre nós próprios; é preciso viver num país muito mais fraturado para achar que na Lusitânia somos todos “bons rapazes”, leais e educados. Para ilustrar este artigo, o jornal publicou uma foto de António Costa e Luís Montenegro a tomarem juntos um café em Bruxelas. Uma imagem vale mil palavras e, pensando bem nessa imagem suave, deve parecer a um espanhol algo irreal porque em circunstância alguma ele imaginaria as suas contrapartes sentadas à mesma mesa em amena cavaqueira. As duas Espanhas, como por vezes eles próprios denominam os blocos antagónicos, a existirem têm raízes históricas e trágicas, feridas profundas que nos últimos anos alguns políticos quiseram deliberadamente reabrir em vez de as deixar sarar como só o tempo o sabe fazer. Ao nosso jeito, também a narrativa política em Portugal se radicalizou artificialmente por vontade e tacitismo dos protagonistas, mesmo que a esmagadora maioria dos deputados agora eleitos comunguem a mesma visão sobre os fundamentos estratégicos nacionais: Democracia, Estado de Direito, Europa, o Euro, a NATO e a economia de mercado. Na história da atual democracia foi possível por vários anos, e com parte dos mesmos protagonistas ainda no ativo, fazerem aquilo para que os políticos são pagos: encontrar soluções para o normal funcionamento da “coisa pública”. Esperemos então que o jornalista espanhol tenha razão, que sejam possíveis entendimentos sobre o que é fundamental, e que exista mesmo caminho na “vía portuguesa de hacer política”.
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