Henrique Carreiro, docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na Nova Information Management School em 2017-7-28
Google Brain. Assim se chamava o projeto que a Google lançou internamente em 2011 para explorar a utilização de redes neurais de muito larga escala nas suas múltiplas áreas de interesse.
Neste projeto mais alargado, houve um subprojeto que se destacou. Chamava-se DistBelief e era um sistema de machine learning flexível e escalável. Os criadores do DistBelief conseguiram embuti-lo em sistemas de aprendizagem sem supervisão, em sistemas de representação de linguagem, em modelos para classificação de imagens e deteção de objetos, em classificação de vídeo, em reconhecimento de fala e, posteriormente, no Photos, no Maps, no Youtube e até no motor principal de busca. Em pouco tempo, o DistBelief estava no sistema genético da Google. Com base no que a equipa aprendeu com o DistBelief, criou um sistema de segunda geração a que chamou TensorFlow, e que foi concebido de origem para funcionar desde plataformas móveis, como Android ou iOS até arrays de GPUs (sistemas gráficos, com capacidades de processamento particularmente adequadas ao paralelismo intenso da inteligência artificial). Em novembro de 2015, a Google tomou a decisão, que na altura parecia ousada e arriscada, de disponibilizar a API do TensorFlow em open source, sob licença Apache. Mas foi um risco calculado, seguindo a aproximação que a empresa já conhece bem do sistema operativo Android: abrir as plataformas, dá-las gratuitamente aos criadores de aplicações, ganhar rapidamente quota de mercado e, assente nessa vantagem, recuperar posteriormente o investimento com os ganhos que são conhecidos. Diane Green, responsável pelo negócio de cloud da Google, afirmou pretender ganhar a liderança do mercado dentro de cinco anos. A Google enfrenta dois adversários formidáveis neste espaço: Amazon e Microsoft. Ambos têm maior quota de mercado e maior cobertura geográfica. A Google, contudo, está a mover-se rapidamente para suprir a diferença em termos de regiões onde tem os seus data centers. E a próxima geração das aplicações sustentadas na cloud (e quais não o são, neste momento?) utilizará necessariamente sistemas de IA e machine learning. Com o TensorFlow a servir de base a muito do que de inovador se está a fazer neste espaço, com o trabalho de terceiros a complementar e ampliar o da própria Google – no mesmo modelo que conhecemos do Android. Evidentemente, a Google tem na sua plataforma de cloud o melhor complemento para quem desenvolve com base em TensorFlow. Sundar Pichai, CEO da Google, afirmou que o mundo está a mudar de “mobile first” para “AI first”. Admitindo que a Google é líder, em quota de mercado, no espaço móvel, tal afirmação só faz sentido se a empresa se sentir à vontade para liderar a próxima iteração tecnológica. Quem não olhar para a evolução rápida do TensorFlow estará a perder um dos movimentos mais velozes de captura de um mercado em ascensão de que há memória recente.
Henrique Carreiro, docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na Nova |