2018-7-13
Todo o paradigma de FaaS é diferente dos modelos existentes: o criador de aplicações vai agir como um coreógrafo, que escolhe múltiplas peças, disponíveis em múltiplos serviços e até múltiplos fornecedores de componentes.
Henrique Carreiro | Docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na Nova Information Management School
“E porque não, se temos tanta capacidade disponível?” Esta é, decerto, a pergunta que os operadores de cloud se colocam ao planearem o lançamento de novos serviços. Na verdade, é previsível que todos, de entre os principais, tenham, neste momento, mais capacidade computacional do que a que conseguem, realisticamente, utilizar, o que lhes dá margem e liberdade para experimentarem novos modelos de rentabilização da respetiva infraestrutura. Se até agora existiam essencialmente três modelos de serviço: IaaS, PaaS e SaaS, ou seja, infratrutura, plataforma e software como serviço, nos últimos dois anos tem vindo a ganhar espaço o FaaS, isto é, o modelo de disponibilização de funções como serviços, que é também conhecido pelo nome de “serverless computing”. Este segundo nome é problemático, porque pode dar ideia de que os servidores não estão presentes na disponibilização destes serviços, o que seria incorreto. Na realidade, é necessário suporte quer de servidores de hardware quer de software para FaaS. O que não é necessário é fazer aprovisionamento dos servidores. Os criadores de aplicações aproveitam as funções disponibilizadas pelos operadores de cloud invocando-as nos seus programas, usando os serviços de cloud para disponibilizarem recursos “just-in-time” ou seja, quando necessário, sem reserva prévia, contando com a elasticidade e capacidade de escalabilidade da cloud para aplicações que necessitem dela muito rapidamente. Na verdade, trata-se se uma área ainda muito inexplorada, uma vez que os primeiros serviços serverless foram lançados pela AWS apenas em 2014 (AWS Lambda), tendo sido seguidos de perto pela Google (Cloud Functions) e pela Microsoft (Azure Functions). Para os criadores de aplicações existem desafios com este novo modelo – particularmente a curva de aprendizagem e também a inevitável dependência de um fornecedor específico de plataforma. Mas as vantagens de não existir necessidade de gestão de infraestrutura, a leveza dos serviços que conduz a um baixo custo, podem levar a uma rápida adoção de FaaS, assim sejam ultrapassadas as barreiras do conhecimento. Na verdade, todo o paradigma de FaaS é diferente dos modelos existentes: o criador de aplicações vai agir como um coreógrafo, que escolhe múltiplas peças, disponíveis em múltiplos serviços e até múltiplos fornecedores de componentes. A aplicação monolítica como existiu ao longo de décadas, não tem lugar neste modelo, o que coloca, naturalmente, uma série de questões de compatibilidade, de atualização, de deteção de erros de programação, de segurança. Questões que abrem também uma enorme porta de oportunidade, talvez maior do que a da oferecida pela onda de blockchain. Estamos na infância do FaaS, verdadeiramente. Mas ainda assim, é impossível pensar que futuros desenvolvimentos baseados em AI, Big Data ou mobilidade, não utilizem FaaS. Mais, o casamento do Edge Computing com FaaS parece um caminho inevitável. “E porque não, se temos capacidade disponível?” perguntar-se-ão também os criadores de aplicações FaaS à medida que forem expandido os limites do que era possível até agora – usando a cloud como plataforma. A cloud é o limite, ou melhor, estamos muito, muito longe de imaginar o que é, na verdade, o limite.
Henrique Carreiro | Docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na |