Sérgio Azevedo, Managing Partner da Streamroad Consulting em 2021-10-22
São inquestionáveis os ensinamentos que a crise pandémica nos ofereceu, assim como é louvável a forma célere, inovadora e tecnológica com que aprendemos a encurtar distâncias e a substituir o que era físico pelo virtual. Mas talvez já chegue, não?
Sérgio Azevedo, Managing Partner da Streamroad Consulting
Quem não admitir estar saturado de tantas sessões de videoconferência e da forma como estas reuniões virtuais invadiram as nossas vidas, substituindo totalmente o bom e velho “cara a cara”, não estará a ser sincero. O som que indica que um convite do Zoom ou do Teams acaba de chegar à caixa de entrada já é acompanhado de um certo desânimo, embora não nos possamos esquecer que as reuniões virtuais foram uma autêntica tábua de salvação para as empresas durante a pandemia. De facto, com os encontros presenciais a deixar de ser uma opção, foi graças às plataformas de videoconferência que as equipas descentralizadas conseguiram manter-se ligadas e colaborar à distância, de uma forma quase impensável há poucos anos atrás. E esse mérito não pode ser ignorado. Nem o facto de as videoconferências terem vindo para ficar. Mas, por mais essenciais que sejam as reuniões virtuais, a tecnologia tem os seus problemas. Perdem-se significados, os rostos espremidos num conjunto de quadradinhos no ecrã são menos expressivos e a atenção das pessoas pode gradualmente fugir para o documento aberto no PC (ou para o feed do Instagram). Embora nos tenham ajudado a permanecer produtivos e unidos durante a pandemia, as calls (como já nos referimos todos às videoconferências) também acabaram por destacar os pontos positivos das reuniões presenciais. A importância do "cara a cara"No nosso setor isto é ainda mais premente. As TIC são feitas de networking puro e duro - do aperto de mão, das conversas casuais no chão de exposições e certames, dos almoços com clientes, colaboradores e prospects. A verdade é que reunir-se fisicamente num mesmo ambiente garante um comprometimento maior de todas as partes. Estamos ali, ao lado das pessoas, interagindo, enviando e captando as mensagens de acordo com o comportamento de cada um. No caso das reuniões, isto permite- nos ter um termómetro de como nos estamos a sair: se está a ser produtiva e bem aceite, ou se, por outro lado, há a necessidade de tomar um rumo diferente na exposição das nossas ideias. É um tipo de proximidade que permite conseguir desenvolver melhor as nossas ideias e até mesmo discutir os assuntos com mais segurança e tranquilidade, sem a pressa de encerrar uma ligação antes de conseguir esclarecer todos os pontos fundamentais que precisam de ser expostos. A verdade é que nos encontros presenciais, usamos inconscientemente a linguagem corporal para a comunicação, indicando quando estamos prestes a começar e a terminar de falar e quando estamos dispostos a ceder a palavra a outro participante. Uma reunião presencial também demonstra que valorizamos o tempo e os negócios dos nossos clientes, mostrando que estamos dispostos a abrir espaço na nossa agenda para ele. E este respeito vale para os dois lados. Os clientes que reservam tempo para se encontrarem connosco pessoalmente, em vez de apenas clicar no link de um convite, mostram um nível de compromisso mais sólido. Eventos híbridos não só virtuaisNo caso dos eventos, tudo isto é ainda mais visível. São incríveis os eventos que aprendemos a fazer graças aos avanços tecnológicos e a uma boa dose de criatividade. Realidade aumentada, gráficos realistas e muitos metros de tela verde têm-nos permitido organizar eventos visualmente impressionantes e tão ricos de conteúdos como seriam se fossem presenciais. E nada aponta para que estes eventos desapareçam. Pelo contrário. O facto de poderem gerar audiências mais ampliadas, mantendo toda a segurança e comodidade, sugere que, no máximo, o futuro dos eventos será híbrido, combinando as vantagens de um acesso remoto e virtual com a presença física de um grupo mais reduzido de pessoas. Mas não nos podemos esquecer que, nesta equação híbrida, há uma componente presencial, que torna os eventos mais especiais e produtivos, que permite apertos de mão e reencontros. É chegado o momento de equilibrar a balança e, sem renegar completamente o virtual, trazer de volta o precioso networking que, ao longo de tantos anos, potenciou novos negócios e parcerias e permitiu solidificar relações frutíferas. Regressemos, pois, ao velho normal! |