Gonçalo Castelbranco, Associate Manager, Michael Page em 2025-3-06
A decisão de mudar de emprego é um dos momentos mais desafiantes numa carreira profissional. Não só porque muda a nossa vida – operacionalmente falando – mas porque saímos da zona de conforto e somos expostos em termos de conhecimento e muitas vezes, atirados ao total desconhecido
Gonçalo Castelbranco, Associate Manager, Michael Page
Por isso, recrutar em IT traz uma responsabilidade acrescida: a de conduzir os dois lados, neste caminho longo e incerto, onde se geram muitas expetativas, se fazem avaliações muito técnicas e se tomam muitas decisões duras. Mas, tal como se construiu o mito de que “toda a comida mexicana é picante”, também ouvimos em todos os pedidos de recrutamento de IT a seguinte diretiva: “Esta pessoa é para começar ontem!” Mas já lá vamos. Por um lado, é verdade que o candidato de IT, por saber que tem uma procura astronomicamente díspar no mercado, apresenta comportamentos muito peculiares. É comum ter candidatos em diversos processos avançados em simultâneo, descomprometidos com o cliente e com o processo – e que se movem por “valores” considerados materialistas, com exigências e condições de trabalho desfasados das realidades nas restantes equipas. Por outro lado, o tecido empresarial permanece pouco ágil, preso a um modus operandi que não favorece a aproximação a um candidato – que no final do dia tem sempre mais opções que rejeições. Neste contexto, o fator mais crítico é o time to hire – o tempo desde a decisão de procurar um novo perfil até à entrada em funções dessa pessoa. Aqui, a maioria dos clientes ainda não conseguiu agilizar o processo de recrutamento ao ritmo pretendido pelos candidatos. Em IT, as típicas 2 ou 3 fases de recrutamento ocorrem num período médio de 30 a 40 dias. Este tempo torna-se uma “eternidade” quando a concorrência é tão feroz; por isso, os candidatos assumem à priori que o melhor é multiplicar e sobrepor processos de recrutamento para não perderem tempo. Mas porque é que demora tempo? Muitas vezes, a razão é simples: não existe especialização, não há muitos colegas que possam validar as hard skills daquele candidato, nem no recrutamento, nem no management. Este fator também reduz inevitavelmente os padrões de exigência do cliente e pode trazer dissabores mais à frente. Outro fator crítico é a transparência: se todas as semanas há oportunidades para um candidato, o seu nível de “exigência” face às empresas, projetos e condições de trabalho aumenta. Por isso, é fundamental ter um processo com o máximo de informação disponível desde a publicação do anúncio, para que o compromisso de candidatura seja, também ele, consciente e informado. Assim, os clientes também passar a “exigir mais e melhor” no processo de recrutamento. E o exemplo prático mais flagrante é o constante pedido de “informação sobre o range salarial”, um tópico que ainda sofre muita resistência, mas que, quando bem aplicado, tem um impacto muito positivo na agilidade do fluxo de recrutamento. O recrutamento IT tem de ser mais ágil, exigente e transparente. Por isso, sim. É para começar ontem. É para começar ontem a agilização do time to hire para posições tecnológicas. É para começar ontem a divulgação de ranges salariais na job description. É para começar ontem a especialização do recrutamento tecnológico. |