Fábio Santos, Consultor Michael Page, Information Technology em 2021-4-15

OPINIÃO

Liderança

(Des)construindo o mercado de trabalho

O ser humano tem por hábito resistir à mudança. O comodismo facilita a rotina, apoiado no receio do desconforto que a exposição ao desconhecido e a perda do controlo face ao que nos rodeia nos causa. Mas, quando somos obrigados a lidar com uma pandemia cujo fim não tem data marcada, que práticas mudam no mercado de trabalho?

(Des)construindo o mercado de trabalho

Fábio Santos, Consultor Michael Page, Information Technology

A t r a ns forma ç ã o do contexto presencial para um mundo mediado pelas tecnologias de informação e comunicação surge primeiro. Rapidamente nos vimos obrigados a substituir a sala de reuniões pela sala de estar e o barulho dos corredores transformou- se na algazarra vinda da vida familiar. As reuniões anteriormente presenciais foram agora substituídas por conversas em plataformas digitais e são, geralmente, iniciadas pela frequente e animada frase: “estás em mute”. Os escritórios apagaram as luzes e as equipas encontraram nos ecrãs dos computadores e telemóveis a forma de se manterem conectadas. As pausas de vinte minutos no bar são substituídas por cinco minutos a lanchar, enquanto é lido um email.

O desafiante processo de gestão de empresas e equipas torna-se mais complexo, devido ao distanciamento social exigido. Não nos foi dado tempo para digerir a mudança por à partida não existirem alternativas. Contudo, esta mudança não teve um impacto obrigatoriamente negativo em todos os casos. Esta adaptação forçada acaba por ser camuflada com a produtividade de tantos outros que, até então, sonhavam com a realidade do trabalho remoto e procuravam o equilíbrio entre as dimensões profissional e pessoal. Para estas pessoas, estas imposições não só tornam finalmente possível libertar o grito de esperança já há muito guardado, como também (e, talvez, consequentemente) foram responsáveis por novas fontes de motivação para a execução das suas tarefas.

Posteriormente, avançamos com a automatização, possível de verificar em várias situações. A inteligência artificial surgiu como resposta para diversos armazéns de logística que pretendiam melhorias ao nível de tempo e de organização. Os chatbots são o braço direito do serviço de atendimento ao cliente, solucionando rapidamente várias questões. A área do retalho, após marcar a sua presença online, trava agora uma luta com a descodificação de algoritmos, que permitem sugerir os melhores produtos aos consumidores finais. Até mesmo na indústria farmacêutica é possível identificar estas alterações - a bioengenharia, a genética, a automação, a análise de dados, o machine learning e a inteligência artificial unem todo o seu know how para apresentar soluções inovadoras (a título de exemplo temos a vacina, de que tanto se fala!). Contudo, apesar de ainda não estar claro qual será o caminho quanto às novas profissões e formas de trabalho, uma coisa é certa: há uma corrida incessante contra o tempo por parte dos profissionais que devem munir-se de diferentes skills para o desempenho das suas novas funções (ou para a nova forma de desempenhar funções antigas). No caso dos profissionais de tecnologias de informação, é provável que o estudo constante de novas tecnologias e metodologias seja praticamente uma exigência, para assim acompanharem as necessidades do mercado.

Por último, importa ref letir sobre a maior exigência imposta a todos: adaptarmo-nos à realidade. A resistência à mudança é constante e sempre acompanhou o ser humano no seu processo de evolução. Contudo, essa mesma resistência e medo não podem bloquear o acompanhamento daquelas que são as novas exigências do mercado.

2020 ficará assim na história como divisor de águas na forma como nos posicionamos, dentro e fora do contexto de trabalho. Existiu mudança como nunca antes vista, sem tempo para resistir, porque não nos foi dada a disponibilidade para questionar a forma como as coisas estavam a ser realizadas. Criaram-se restrições, proibiu-se o contacto até com familiares por um bem maior e encontraram-se novas formas de atuar. Mas, no fundo, terá sido esta mudança de paradigmas única e exclusivamente resultado da gestão empresarial face à pandemia ou também uma forma camuflada do ser humano que, apesar de resistir à mudança, procurou dizer chega à antiga realidade e evoluir por caminhos que antes jamais ousaria cruzar?

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