Jorge Bento em 2024-11-06
Para milhões de profissionais que lidam com números, o Microsoft Excel tem sido uma bênção desde que foi criado há 40 anos. Mesmo para quem precisa apenas de um tabulador para listagens, o Excel parece simples, mas também é enganador
O Excel 1.0 foi uma das primeiras aplicações de folhas de cálculo a utilizar uma interface gráfica, com menus suspensos e a tecnologia de apontar e clicar através de um rato. Por isso esta versão estava disponível apenas para Macintosh.
Ao celebrarmos 40 anos do Excel, cuja versão 1.0 estava disponível apenas para Macintosh, recordamos quatro décadas de erros em fórmulas, tabelas ou exportação de dados. Quem nunca forneceu à sua organização informações críticas que, por um pequeno erro, se revelaram falsas? Não se penalize em demasia; há quem tenha feito pior: Durante a falência do Lehman Brothers em 2008, o Barclays Capital comprou acidentalmente 179 contratos indesejados devido a linhas ocultas num ficheiro Excel que foram incluídas na conversão para PDF, gerando milhões em despesas imprevistas. No mesmo contexto, a Fannie Mae, entidade norte-americana de crédito hipotecário, divulgou em 2003 um relatório com erros nas fórmulas que somavam mais de 1 mil milhão de dólares. Outro caso emblemático envolveu o banco de investimento JP Morgan, que num relatório perdeu 6 mil milhões devido a um mau copy/paste. Por vezes, o Excel é usado apenas para tabelar dados, mas tem limitações: durante a pandemia da Covid-19, quase 16.000 casos não foram reportados em Inglaterra devido a um ficheiro que excedia o número máximo de linhas. Como consequência, milhares de pessoas potencialmente infetadas não foram acompanhadas. Um erro comum para quem usa o Excel para tabelar texto é esquecer que se trata de uma folha de cálculo, o que pode causar problemas, como aconteceu ao MI5, ao serviço da Rainha na altura, que intercetou 134 números de telefone incorretos cuja terminação foi alterada para “000”. Mais tarde, referiram-se a isso de forma eufemística, dizendo que “ocorreu um grau de intrusão colateral não intencional”. Em termos práticos, mais de uma centena de pacatos súbditos da Coroa foram transformados em potenciais terroristas. Devemos celebrar os 40 anos do Excel e refletir também sobre os nossos próprios erros ao usá-lo. Naquela reunião de administração onde projetamos orgulhosamente uma folha de resultados totalmente errada, fica a lição: o nosso amigo Excel é apenas o que fizermos dele, e, por ser tão “friendly”, acolhe com simpatia as nossas distrações.
Diretor do IT Channel |