Henrique Carreiro em 2025-4-10
Indo diretamente ao que interessa: as tarifas anunciadas pela administração americana a 2 de abril não vão surgir como uma linha adicional na sua fatura de cloud. Não haverá uma “taxa de importação de SaaS” (pelo menos, por enquanto, que se possa antever). O impacto será mais oblíquo — e mais eficaz. É no hardware que vai doer
Os data centers que sustentam os serviços de cloud são consumidores incessantes de servidores, redes e armazenamento. Todo esse “ferro” — ou, mais precisamente, os seus órgãos vitais — depende de cadeias de produção globais. Semicondutores, chips de rede, placas gráficas são, na sua maioria, produzidos e montados em fábricas asiáticas. Tarifas sobre esses componentes — ou represálias comerciais — fazem subir o custo de construir e operar infraestruturas críticas. E quem paga? Não se espere ver “tarifa americana” numa próxima fatura. Mas repare-se na redução dos descontos e no abrandamento das descidas de preços (um travão na lei de Moore?). Repare-se nos reajustes de preços “para fazer face ao aumento dos custos de entrega do serviço”. O efeito será subtil, mas persistente. E dificilmente reversível. Ainda mais no ponto: este é um lembrete, se ainda tal fosse preciso, da fragilidade estratégica da Europa em tudo o que se refere ao digital. A dependência de fornecedores americanos deixou de ser apenas desconfortável. Passou a ser arriscada. As tarifas reforçam o argumento — político, económico e até emocional — para investir em alternativas locais e adotar estratégias que não coloquem todos os ovos no cesto do outro lado do Atlântico. Mais caras, pelo menos ao início, por falta de escala. Mais complexas, sem dúvida. Mas menos vulneráveis. Em resumo: o impacto das tarifas não se medirá em impostos diretos sobre serviços digitais. Mede-se em custos adicionais para manter a infraestrutura a funcionar. E, sobretudo, em decibéis estratégicos. A Europa ouve, finalmente, o alarme: ou controla as suas próprias infraestruturas de cloud, ou continuará a estar sujeita às decisões caprichosas e às prioridades de outros — a ser por estes controlada, no fundo. |