Henrique Carreiro em 2025-3-11
Ao restringir o acesso da China aos seus chips mais avançados, os EUA pretendiam travar o crescimento tecnológico chinês, mas provocaram o efeito contrário: estimularam diretamente o aparecimento de rivais internos, como a Huawei
Antes dependente da Nvidia e da fabricante de Taiwan, TSMC, a empresa chinesa foi forçada, pelas sanções americanas, a acelerar drasticamente o desenvolvimento próprio dos seus semicondutores. Um exemplo claro desse avanço é o salto significativo no rendimento (yield) dos chips para inteligência artificial fabricados pela Huawei em Parceria com a SMIC, outra empresa chinesa sancionada por Washington. Num só ano, a eficiência produtiva passou de 20% para cerca de 40%, representando um progresso notável para quem tem acesso limitado às ferramentas tecnológicas mais avançadas. Contudo, a Nvidia ainda lidera claramente este setor de mercado, devido ao desempenho superior dos seus chips e à pujança do seu ecossistema de software. No entanto, uma transformação profunda no mercado da IA pode beneficiar os fornecedores chineses. Hoje, os modelos de IA são treinados uma única vez com processadores potentes e caros, mas aplicados milhões de vezes por segundo através de chips mais simples e económicos, usados para inferência (respostas a prompts, por exemplo). Nesta área, a Huawei já começa a competir com eficácia. As gigantes tecnológicas chinesas, como a Baidu e a ByteDance, já adotaram os processadores da Huawei para aplicações práticas de IA, reduzindo a dependência tecnológica face aos EUA. Esta mudança tem potencial para ser alargada a outros países que buscam alternativas à Nvidia. Washington pode ter subestimado o impacto das sanções – algo que já aconteceu no passado, noutros sectores. Em vez de bloquear o avanço tecnológico chinês, acabou por alimentar a determinação da China em alcançar rapidamente a autossuficência tecnológica. Se o passado serve de indicação, as posições podem até inverter-se, dentro de muito poucos anos. |