Jorge Bento em 2024-3-07
Nesta edição de março onde temos um especial sobre edge computing, é o momento certo para recordar uma vulnerabilidade esquecida neste mundo digital crescentemente conectado, que são os cabos óticos submarinos
Entre o final do fevereiro e o início de março, os rebeldes Houthis do Iémen cortaram três dos 14 cabos submarinos que atravessam o Mar Vermelho, já perto do estreito de Bab al-Mandab – o Europe India Gateway (EIG), que tem participação da Altice; o Seacom da Tata; e o Asia Africa Europe-1 (AAE-1) –, o que representa uma perda de 25% da capacidade da Europa se ligar ao Oriente e à África Oriental. O corte dos cabos foi, de acordo com especialistas, nas águas do Iémen. Fazer o routering do tráfego é sempre possível até um determinado ponto de destruição da capacidade, como recorda o terramoto subaquático em Taiwan em 2006, onde foram cortados sete cabos, levando à quase total incapacidade de tráfego no Sudeste Asiático por várias semanas. 18 anos depois teria sido muito mais disruptivo. Destruir um cabo de fibra submarina, que descansa nos fundos, sobretudo em águas pouco profundas como o Mar Vermelho, não exige especiais competências técnicas. Já aconteceu no passado que involuntariamente navios mercantes os tenham destruído apenas pelo uso das suas âncoras. Aliás, embora pouco credível, é uma das hipóteses apontadas. O Mar Vemelho não é o único ponto do globo onde existe uma alta concentração de cabos com pouca separação entre eles. Há vários estreitos em que a orografia subaquática impõe essa passagem estreita, e há os pontos de ancoragem em todo o mundo, onde muitos cabos partilham pequenas superfícies do fundo do mar, incluindo em Portugal, pese embora que aqui a concentração fica mais dispersa entre Sines, Sesimbra e os dois pontos de ancoragem no estuário do Tejo. Portugal, que tem uma situação geográfica privilegiada para o ancoramento, tem mais de 12 cabos que entram na sua costa, e muitos mais na sua zona económica exclusiva, tendo uma especial responsabilidade na defesa da conectividade atlântica em caso de conflito. O famoso caso do navio patrulha Mondego, que devia monitorizar um navio russo suspeito de estar a geo-referenciar cabos submarinos, não nos deixa descansados sobre a capacidade nacional de defesa daquilo que é da nossa exclusiva responsabilidade.
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