Henrique Carreiro em 2022-11-14
Não é desconhecido, para compradores de dispositivos electrónicos, quão difícil é comprar o que se pretende, se comparado com a realidade pré pandemia
E, quando se pensaria que a situação poderia começar a voltar ao normal, eis que no passado mês de outubro, a administração americana suspendeu a venda à China de circuitos de topo, como os produzidos pela Nvidia, e também do equipamento avançado necessário para os fabricar. A China tem ambições para o seu setor tecnológico, e a indústria de semicondutores é fulcral nessa estratégia. O país representa 35% do mercado global de semicondutores. As partes mais críticas e de alta tecnologia do processo continuam, contudo, a ser dominadas pelos Estados Unidos. E, embora a China possa manter-se na produção de circuitos de gerações mais antigas, fica atrás na investigação de ponta, design, e tecnologia avançada. Os objetivos da China foram assim, provavelmente, adiados por vários anos. Uma razão significativa para a vulnerabilidade da China é a forma como está interligada a cadeia global de semicondutores. Os circuitos são, frequentemente, concebidos num país; fabricados noutro utilizando máquinas de um terceiro; testados num quarto; e, finalmente, montados e colocados em dispositivos eletrónicos num quinto – por vezes com mais alguns países e passos pelo meio. Muitos desses países especializaram-se em certas partes do processo, contribuindo para os estrangulamentos. Os Estados Unidos aprovaram este ano legislação que disponibiliza centenas de milhar de milhão de dólares para reforçar as suas capacidades de investigação e desenvolvimento em semicondutores. Há questões por apurar quanto às novas regras, incluindo como as restrições serão implementadas na prática. Outra questão é se, e como, a China poderá retaliar, já que está muito limitada nas suas opções. Qualquer atitude que Pequim tome, neste momento, poderá atingir o emprego e as exportações do país, ambos com pouca margem, já que a taxa de crescimento económico de 3% é muito inferior às previsões do governo. A curto prazo, contudo, é provável que haja escassez não apenas de semicondutores, mas também de dispositivos que os incorporam – especialmente aos mais avançados. Mais um fator relevante a tomar em consideração para quem estiver agora a planear e orçamentar 2023. |