Henrique Carreiro | Docente de Cloud Computing e Mobilidade Empresarial na Nova Information Management School em 2018-12-28
Na verdade, já nem a Google está em posição de se manter no pódio: a corrida entre os fornecedores de serviços de cloud disputa-se, atualmente, entre a Amazon, a Microsoft e… a Alibaba. Não sendo inesperado, não deixa de ser surpreendente que a empresa chinesa tenha entrado tão depressa no clube restrito dos maiores fornecedores de serviços de cloud (Infrastructure as a Service, IaaS).
Segundo um relatório da Gartner do passado mês de agosto, no mercado de IaaS, onde a Amazon Web Services continua a ser o interveniente dominante, com uma quota de mercado de 51,8% e a Microsoft um distante, mas empenhado, segundo, com 13,3%, a Alibaba Cloud é um terceiro promissor com 4,6%. Não é provável que tão cedo venha a atingir o segundo lugar, até porque a Microsoft também a ultrapassa em ritmo de crescimento neste espaço. Mas ambas crescem agora muito mais depressa do que a Amazon, o que significa que as quotas de mercado dificilmente se manterão estáticas. Ora a chegada da Alibaba é um desenvolvimento significativo no mercado da cloud, especialmente pela escala que o mercado natural da Alibaba, a zona da Ásia-Pacífico, permite. E, na verdade, o negócio da cloud é uma questão de escala, de tal forma que é muito difícil a um interveniente novo entrar no mercado a não ser que tenha uma capacidade de investimento que rivalize com a Amazon ou a Microsoft. Muito poucas companhias o têm -- sobretudo se tivermos em conta o tempo necessário para criar tal infraestrutura. Parte da razão do domínio da Amazon é ter chegado em primeiro lugar a este mercado (praticamente inventando-o) o que lhe garantiu, conjuntamente com uma operação ágil e com grande velocidade de ponta, manter-se à frente de outros concorrentes tenazes. Mas como se sabe da área dos equipamentos, os fornecedores chineses não se coíbem de entrar em guerras de preços que deixam rivais menos preparados fora de corrida e a Alibaba, alavancada numa rentabilidade maior do que a Amazon, tem margem para ganhar quota baixando preços. Nos serviços de cloud, a guerra tem já sido intensa, com descidas acentuadas de preço, ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo que os fornecedores expandem rapidamente a cobertura das respetivas infraestruturas. Na Europa, a Alibaba tem datacenters na Alemanha e no Reino Unido (estes, recentes). Está presente em 19 regiões em todo o mundo, tal como AWS. As duas empresas, que têm origem nas plataformas de comércio eletrónico, andam aliás a par em muitos dos serviços oferecidos. Recentemente, o governo chinês tem vindo a promover o conceito de nova rota da seda, um conjunto de infraestruturas globais que procuram facilitar o comércio mundial, especialmente aquele que conduz a Pequim. Mas é evidente que é inviável não considerar a cloud quando se pensa hoje nas infraestruturas a nível mundial -- e ao pensar na cloud estamos a falar também das redes de comunicações subjacentes, particularmente os cabos de fibra ótica, que são, com frequência, propriedade do fornecedor de serviços cloud. Nesta perspetiva, a Alibaba Cloud faz parte, sem dúvida da nova rota da seda e, de todos os intervenientes no mercado atual de serviços de cloud, talvez seja daqueles cujos passos nos tempos mais próximos devem ser seguidos com maior atenção. |