Henrique Carreiro em 2023-9-18

OPINIÃO

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A oriente tudo de novo

As sanções impostas pelas administrações americanas à China na área dos semicondutores tiveram como resultado mais imediato travar a ascensão da Huawei a principal fornecedor mundial de smartphones, numa altura em que aquela empresa disputava já a liderança do mercado global com a Samsung

A oriente tudo de novo

De entre as limitações impostas, contam-se o acesso a tecnologia avançada de produção de semicondutores, nomeadamente a que permite produzir processadores para smartphones. A ASML, uma empresa holandesa fabricante deste tipo de equipamentos está, efetivamente, impedida pelo governo do seu país, de exportar a sua tecnologia mais recente, por acordo entre os Países Baixos e os Estados Unidos. Nesse sentido, a Huawei não poderia assim produzir processadores competitivos com os da Apple, os da Qualcomm ou os da Samsung.

Mas já este mês de setembro, a Huawei parece ter tirado uma carta da manga e num avanço sem preanúncio, lançou um novo telefone, Huawei Mate 60 Pro, que apresenta conjunto de circuitos integrados que terão sido feitos integralmente na China, contornando assim as sanções por meio de desenvolvimento de tecnologia própria. Os chips, desenhados pela Huawei a partir de módulos ARM, estarão a ser produzidos por um fabricante chinês, a SMIC, em tecnologia de 7nm. Não se trata da mais avançada de momento: na altura da publicação deste texto, espera-se que o novo iPhone 15 venha a apresentar tecnologia de 3nm (números mais baixos significam que é possível colocar mais transístores na mesma pastilha de silício e que o consumo energético é menor). Resultados dos primeiros testes publicados, indicam que o Kirin 9000s, assim se chama o processador da Huawei, está basicamente a par com os circuitos de topo da Qualcomm de há duas gerações do respetivo ciclo de evolução.

Ora se não perturba as linhas de topo, há motivos, contudo, para pensar que pode afetar as gamas médias e levar a que a quota de mercado da Qualcomm na China seja fortemente abalada. Estimativas apontam para que a Qualcomm venda menos 60 milhões de chips – nomeadamente à própria Huawei. É possível que os circuitos produzidos pela firma chinesa não sejam ainda competitivos em termos de preço, a não ser por meio de subsidiação do próprio governo chinês, para estimular a produção local. Mas o facto é que este é um passo irreversível. As sanções americanas à China, muito provavelmente, geraram exatamente o efeito oposto ao que procuravam.

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