Henrique Carreiro em 2019-4-01

OPINIÃO

A casa de câmbios do WhatsApp

O Facebook está a criar uma criptomoeda que permitirá aos utilizadores transferir dinheiro pelo WhatsApp, concentrando- se primeiro no mercado de remessas para Índia, segundo rumores veiculados pela Bloomberg e pelo New York Times. A empresa está a desenvolver uma stablecoin, um tipo de moeda digital indexada ao dólar americano para minimizar a volatilidade

A casa de câmbios do WhatsApp

É há muito esperado que o Facebook venha a entrar no mercado dos serviços financeiros, depois de ter contratado o ex-presidente do PayPal, David Marcus, para gerir o Messenger em 2014. Marcus tornou-se, entretanto, o responsável pelas iniciativas blockchain da empresa. A Índia parece ser o lugar ideal parao Facebook lançar uma iniciativa deste tipo: WhatsApp tem, naquele país, mais de 200 milhões de utilizadores e o país também é líder mundial nas remessas de emigrantes, tendo atingido um valor de 69 mil milhões de dólares em 2017, segundo informação do Banco Mundial.

A relação do Facebook com a Índia tem sido complexa, principalmente porque alguns casos de notícias falsas espalhadas pelo WhatsApp levaram a vagas de violência naquele país. Ainda assim, a empresa vê, naquela região, uma oportunidade de crescimento. A Índia tem 480 milhões de utilizadores de Internet, o segundo maior número logo a seguir ao da China. Segundo a Forrester Research, esse número deve crescer para 737 milhões até 2022.

As remessas são um mercado potencial massivo para as criptomoedas. E teria um grande impacto se o Facebook conseguisse tornar as remessas mais baratas e mais rápidas do que as soluções atuais. Se o Facebook não o fizer, outros o farão. Um desses poderá ser a Amazon, que está também a desenvolver projetos blockchain e que não tem mantido secretas as suas ambições na área dos serviços financeiros na Índia, com a expansão do Amazon Pay, e aquisições de startups na área fintech, poderá ser mais ágil ainda e ter já a base das parcerias locais estabelecidas.

O Facebook, que tem 2,5 mil milhões de utilizadores globais e uma grande experiência a enfrentar restrições regulamentares, pode ter uma boa hipótese de criar uma criptomoeda estável. A ser concretizado, seria a primeira grande empresa tecnológica a lançar um projeto deste tipo. Existe, claro, a questão da conversão da moeda virtual em moeda local, que culmina o processo de transferência.

Uma possibilidade será o Facebook estabelecer relações com as casas de câmbio de criptomoeda nos países onde oferecer o serviço -- ou mesmo entrar nesse negócio. Será fulcral que o processo de conversão seja simples: algo como uma App, que coordenará o negócio com um dos parceiros locais do Facebook. A ser levado a cabo, entende-se que este processo cause profundas questões aos legisladores e grandes batalhas judiciais. Mas este parece um daqueles movimentos que, uma vez colocados em marcha, nem os governos mais determinados conseguem travar – quando muito, e tardiamente, “apenas” regular.

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