Henrique Carreiro em 2023-10-10

OPINIÃO

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A batalha das clouds passa para o patamar da IA

Em 25 de setembro de 2023, a Amazon anunciou um investimento faseado de até quatro mil milhões de dólares na Anthropic, uma startup na área da inteligência artificial. O investimento, por uma participação não maioritária, é o maior que a Amazon já fez numa empresa de IA e destaca a atual a natureza altamente competitiva deste mercado

A batalha das clouds passa para o patamar da IA

A Anthropic é uma empresa relativamente recente, tendo sido fundada em 2020 por ex-quadros da OpenAI. A missão da empresa é “construir inteligência geral artificial segura e benéfica”. A Anthropic está ativa numa série de tecnologias de IA, incluindo modelos de linguagem de grande dimensão (LLM) que podem gerar texto, traduzir idiomas e responder a perguntas de forma abrangente e que concorrem diretamente com as propostas da OpenAI e da Google, entre outras.

Há um conjunto de razões pelas quais a Amazon está a investir na Anthropic. Em primeiro lugar, a Amazon está, naturalmente, ansiosa por ter uma posição de liderança em IA, como a que detém nos serviços de cloud, com a AWS. A empresa enfrenta a concorrência de outras empresas tecnológicas, como a Microsoft, a Google e a Meta, tendo, para já, menos visibilidade na área do que os seus restantes concorrentes, que se apresentam com ofertas mais viradas para consumidores finais. O investimento da Amazon na Anthropic é, também, uma forma de garantir que a empresa se mantém na vanguarda da inovação em IA, com um modelo de colaboração mista, já experimentado pela Microsoft com a OpenAI (e, de certo modo, anteriormente, pela Google com a DeepMind).

Mas o investimento da Amazon na Anthropic tem outras implicações significativas para o setor da IA. Uma dos principais é, peculiarmente, que a Anthropic pode ser um demonstrador de referência da plataforma da Amazon para IA, nomeadamente dos chips por esta desenvolvidos: Inferentia e Trainium. Pouca gente vê a Amazon como uma força na área dos circuitos integrados, mas a verdade é que a empresa tem vindo a investir em aquisições de startups na área e utiliza já circuitos de desenho próprio nos seus serviços de cloud. Daí a usá-los também para aplicações de IA é um passo pequeno. A Amazon pretende constituir-se uma alternativa à NVidia, ou, pelo menos, reduzir de forma significativa a dependência. Dada a escassez e custo dos circuitos da NVidia, a Amazon ter a sua própria produção constitui uma alternativa significativa para os seus clientes. A Anthropic pode ser, precisamente, a componente de software que faltava à Amazon, sobre a infraestrura que tem vindo a construir. A batalha pelo futuro da IA empresarial está apenas no início e a Amazon acabou, com este investimento, de mostrar que está nela pelo longo prazo – e que não joga para perder.

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