Jorge Bento em 2024-2-07
Há, um pouco em todo o ecossistema de IT nacional, alguma apreensão sobre o que pode acontecer no dia seguinte às eleições de 10 de março
É agora claro que o velho bipartidarismo alternante tem os dias contados, aqui como em toda a União Europeia. Mesmo em países já com a tradição de um voto muito pulverizado, como os Países Baixos, onde a geometria parlamentar já foi um quadrado agora pode vir a ser um pentágono. O tempo da previsibilidade, em que os ciclos económicos duravam dez anos, os governos se alternavam a cada quatro e os noticiários não eram feitos a partir do Campus da Justiça, terminou. Contudo, isso não significa necessariamente um susto. Portugal tem um orçamento aprovado para ser executado e um PRR cuja implementação já é, em parte, independente das decisões políticas. Há também várias possibilidades para um conjunto de geometrias parlamentares que, após a retórica eleitoral, acabam por se revelar todos (ou quase todos) social-democratas, com diferentes matrizes e nuances. Portanto, algum tipo de geringonça é sempre possível ou mesmo voltar aos governos sem maioria. A capacidade de um governo da União Europeia, sobretudo da zona Euro, abandonar o designado liberalismo europeu é zero. O framework de Bruxelas e de Frankfurt já é muito apertado para qualquer experimentalismo mais extremista – Varoufakis foi o último radical e, para o seu povo, isso foi literalmente uma tragédia grega. Do lado oposto do espectro, Viktor Orbán acaba de colocar a doutrina divergente na gaveta. Na UE tudo tende para o centro. A mim preocupa-me mais a capacidade de execução do governo que sair do 10 M, execução essa que o atual governo de maioria absoluta esteve muito longe de conseguir (aliás, que obra vai ficar dele para futuro?). A estabilidade por si só nunca garantiu o desenvolvimento.
Diretor do IT Channel |