2017-8-08

BIZ

Uma revolução chamada blockchain

A world wide web proporcionou um dos maiores saltos civilizacionais, ao mudar profundamente a forma como comunicamos e partilhamos informação. Quando a internet servir não apenas a partilha de informação, mas todo o tipo de transações onde estejam envolvidos ativos de valor, darse- á um novo salto. O blockchain promete ser o meio de transporte

Uma revolução chamada blockchain

Não faltará muito para que nos refiramos à Internet como A.B. (“antes do blockchain”) e D.B. (“depois do blockchain”). “O blockchain é uma revolução em nada diferente da que foi trazida pela internet, há 25 anos”, assegura Louis de Bruin, blockchain leader Europe, IBM Global Business Services, em declarações ao IT Channel. A Gartner define blockchain como “um registo descentralizado pelo qual as transações de valor são agrupadas de forma sequencial em múltiplos blocos”. Cada bloco, explica a consultora, “está cifrado e ligado ao bloco anterior”, ficando registado ao longo de uma rede peer-to-peer. A rede Bitcoin foi a primeira manifestação do blockchain, há cerca de dez anos, quando recorreu à tecnologia para carimbar com selo de segurança as transações realizadas com a criptomoeda. No entanto, o blockchain transcende em muito as Bitcoins, sendo um novo paradigma para os processos de negócio da economia digital.

Alex Tapscott, co-autor do livro “Blockchain Revolution” e uma autoridade na matéria, levou o tema ao último DES – Digital Business World Congress, que teve lugar no final de maio, em Madrid, onde afirmou que estamos perante “a segunda era da Internet” e que o blockchain é o “layer transacional” para a quarta revolução industrial, na qual estamos a entrar e que ficará marcada pela tecnologia a imiscuir-se totalmente no mundo físico.

 

 

No keynote, que foi um dos pontos altos dos três dias de Congresso, Tapscott realçou que o blockchain é a evolução da internet da informação para uma internet de valor.

 

Confiável e transparente

Com o blockchain, as transações dispensam intermediários – as partes envolvidas interagem diretamente, o que significa que a validação não depende de terceiros, mas da própria comunidade. Esta premissa traduz-se numa redução drástica dos custos transacionais. Como sublinhou Tapscott, os intermediários “aumentam os custos e desaceleram os processos”. A movimentação peer-to-peer, totalmente descentralizada, permitirá trocar, comprar, vender e gerir de forma privada os assets. “Quando a Internet impactar os custos transacionais, baixando-os ao nível dos custos da informação, haverá uma revolução”, frisou.

O blockchain resultará também em processos de negócio mais fluidos e verdadeiramente colaborativos. “No blockchain trata- -se sempre de um ecossistema, de empresas a trabalharem juntas”, sublinha Louis de Bruin. “É importante que empresas concorrentes utilizem o mesmo blockchain, porque os clientes não vão querer utilizar um por cada fornecedor. As organizações não devem esperar para se juntarem a estes ecossistemas”, alerta.

Como realça a PwC num paper onde questiona “O que é o blockchain?”, as transações “não são anónimas, são pseudónimas”: apesar de haver um histórico das transações que todos os envolvidos podem consultar, nenhuma informação concreta sobre pessoas ou empresas é partilhada, já que está encriptada. Deste modo garante-se a privacidade, ao contrário do que acontece com o sistema atual, pelo qual os intermediários têm acesso a todo o tipo de informação sobre cada interveniente, que acaba por ficar no seu poder. “Com o blockchain, a propriedade dos dados é entregue a cada organização”, sublinha o responsável da IBM.

 

Quase impossível de “hackear”

À confidencialidade acresce a transparência. Por estar sempre relacionada com o bloco anterior, é extremamente difícil alterar ou editar informação sobre as transações depois destas acontecerem. Não sem o conhecimento de todos os envolvidos nessa rede. Este grau de transparência ajuda a minimizar a fraude e os erros: todos podem verificar a origem dos pagamentos, se estes foram realmente feitos por quem recebe o ativo, o que assegura que nenhum ativo envolvido na transação é enviado duas vezes ou replicado. “Quem participa no ecossistema utiliza a mesma base de dados, os mesmos registos e os mesmos programas, ao mesmo tempo”, explica Louis de Bruin. “De cada vez que algo muda, todos os intervenientes o veem, em simultâneo. Não está a ser enviado de um sistema para outro. É um processo totalmente descentralizado, mas imediato”. O blockchain é uma tremenda mudança porque não pressupõe pontos centrais de falha, que tudo unem para tudo distribuírem. Louis de Bruin realça que “reduz muito a possibilidade de ser alvo de ataques maliciosos e a vulnerabilidade face a ataques DDoS, por exemplo”. Como os dados estão por toda a parte, realça, “ter- -se-ia que atacar tudo e todos, em vez de apenas um ponto central”.

 

Como vai mudar os negócios?

O setor financeiro é um dos que mais beneficia do blockchain, permitindo que as instituições financeiras liquidem títulos em minutos em vez de dias. O Nasdaq, por exemplo, começou a utilizar um sistema baseado em blockchain para o Nasdaq Private Market, que liga os investidores às empresas que não estão publicamente listadas. No entanto, existem outros Os processos de fabrico podem ganhar outro rigor e um maior controlo de qualidade, dada a partilha dos registos de produção. Do lado da logística e cadeias de distribuição, será possível criar registos onde consta a origem de cada bem e/ou produto. “Também será relevante no setor das viagens e transportes, porque há muitas empresas a trabalharem juntas – de contentores e transportes, produtores, shippers, bancos, autoridades aduaneiras. Todas estas entidades trocam informações entre si. Ao fazê-lo com o blockchain, ganham em eficiência e rapidez. Deixam de depender de uma entidade central para distribuir tudo. Estes são os setores que estão na linha da frente da adoção”.

 

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