2015-5-04

BIZ

Taxistas 1 - Uber 0 

Talvez não exista nenhuma multinacional no mundo com mais processos legais em tão pouco tempo como a Uber, o serviço de “boleias remuneradas” desenhado para o Smartphone. Portugal é o mais recente caso Taxis Vs. Uber , de momento com vantagem para os taxistas depois de uma providência cautelar interposta pela Antral ter impedido temporariamente a atividade. Será o fim da Uber em Portugal? 

Taxistas 1 - Uber 0 

Seja qual for o futuro da Uber, é muito difícil parar o que já se designa de “economia de partilha” e que a Internet veio possibilitar.

Temos de reconhecer que a ideia é simplesmente genial: ligar quem tem um automóvel e algum tempo disponível com quem tem um smartphone e precisa de um transporte. O serviço UberX é um serviço que organiza através do online a oferta com a procura e é tecnicamente é irrepreensível. 

Além do mais, a Uber não inventou o “taxi informal” porque ele sempre existiu na maioria das cidades, mesmo em algumas cidades portuguesas, apesar de ser algo restrito e exclusivamente ligado ao turismo e a empresas com necessidades de transporte frequente de executivos, um serviço profissional que corresponde ao Uber Black. 

Mas o mais popular dos serviços Uber, o X, para além de apresentar preços melhores do que os Taxis licenciados, beneficia da imagem globalmente menos boa dos taxistas junto da maioria dos consumidores, e sobretudo, da enorme desconfiança que os turistas sempre têm para com os profissionais do volante - o melhor caminho entre dois pontos é um arco de 180º. 

Mas como é que uma ideia genial e bem implementada por uma startup que já vale 41 mil milhões de dólares, pode afinal morrer soterrada em processos legais? 

Existe a convicção de que o serviço da Uber é plenamente aceite nos Estados Unidos e só os europeus parecem levantar problemas à multinacional americana, pela mesma lógica protecionista com que castigam a Google ou vigiam os impostos da Amazon. 

Nada mais errado. A Uber tem problemas legais na maioria das cidades americanas onde funciona, a começar pela emblemática Nova York. Os executivos na multinacional vivem numa permanente batalha legal que vai do “limbo” ao “banido”, praticando com frequência o “I’m sorry, was you sayin’ something?” , mas raramente beneficiando da plena aceitação pelas autoridades locais. 

Obviamente que a perca de receitas em taxas municipais aliada ao lobby dos profissionais é o motivo de tantos processos legais, mas o ponto que tem sido mais eficaz em tribunal para impedir a atividade da Uber é o fato das municipalidades desconhecerem a identidade dos condutores, a sua preparação e a sua idoneidade. Casos como o que ocorreram em Nova Deli, na India, com uma alegada violação sexual da passageira só vêm reforçar esta argumentação.

Este ponto que a Uber tenta proteger a confidencialidade alegando questões de concorrência, pode ter que vir a ceder, por exemplo no caso de Nova York onde correr um processo de suspensão levantado pela New York City Taxi & Limousine Commission, e com isso a base de motoristas disponíveis para a Uber ira certamente sofrer um retrocesso.


Por cá, para já vale a decisão do Tribunal Cível de Lisboa que decidiu a favor de uma providência cautelar interposta pela ANTRAL, Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros, que é meramente suspensiva e promete uma longa e demorada batalha legal. Conhecendo a tendência legal / administrativa que Portugal tem para complicar o que deveria ser simples, é possível que a Uber tenha definitivamente os dias contados nas cidades portuguesas se depender apenas dos tribunais nacionais. 

A estratégia da Uber é agora sair do enredado pântano judicial português e passar com a artilharia legal para Bruxelas com base numa peculiaridade da decisão do tribunal, que foi ordenar aos operadores de telecomunicações que bloqueiem o serviço! Efetivamente, um absurdo. 

Seja qual for o futuro da Uber, é muito difícil parar o que já se designa de “economia de partilha” e que a Internet veio possibilitar. Uma economia que por definição é sempre algo informal e que escapa à regulamentação administrativa que tenta definir até ao desesperante detalhe burocrático todas as atividades económicas. 

Recomendado pelos leitores

Mercado de Infrastructure-as-a-Service deverá chegar aos 512 mil milhões
BIZ

Mercado de Infrastructure-as-a-Service deverá chegar aos 512 mil milhões

LER MAIS

Salesforce investe mais de mil milhões de dólares para transição energética
BIZ

Salesforce investe mais de mil milhões de dólares para transição energética

LER MAIS

IBM e Quellia desenvolvem plataforma transparente para o mercado de carbono
BIZ

IBM e Quellia desenvolvem plataforma transparente para o mercado de carbono

LER MAIS

IT CHANNEL Nº 109 JULHO 2024

IT CHANNEL Nº 109 JULHO 2024

VER EDIÇÕES ANTERIORES

O nosso website usa cookies para garantir uma melhor experiência de utilização.