Margarida Bento em 2021-6-14
O novo Plano de Recuperação e Resiliência contempla um investimento de quase 2.510 milhões de euros em subvenções destinadas à fomentação da transformação digital do tecido empresarial português, com foco na criação de competências, empreendedorismo digital e transformação dos modelos de negócio
Para além da inerente crise de saúde pública, a pandemia de COVID-19 levou a uma retração da atividade económica com consequências avultadas à escala mundial. Neste contexto, o Conselho Europeu criou um instrumento estratégico de mitigação do impacto económico e social da crise, intitulado Next Generation EU, no qual está assente o Plano de Recuperação e Resiliência (PPR) português, que permitirá a Portugal aceder a cerca de 50 mil milhões de euros em subvenções entre 2021 e 2029. O PRR português, aprovado pelo Conselho de Ministros a 27 de maio, é um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, e vai implementar um conjunto de reformas e de investimentos com vista a permitir ao país retomar o crescimento económico sustentado num contexto pós-pandémico. O PRR beneficia de um envelope financeiro total de 16.643 milhões de euros, composto por 13.944 milhões em subvenções e por 2.699 milhões em empréstimos, com o investimento centrado em três grandes áreas temáticas: resiliência (que corresponde a 61%, transição climática (21%) e transição digital (18%). Transição digitalA dimensão Transição Digital destina-se à capacitação do desenvolvimento de uma economia mais assente no digital, cuja importância foi evidenciada pela pandemia. Esta dimensão enquadra-se nas orientações da Comissão na Comunicação sobre a Construção do Futuro Digital da Europa, com o Pacto Ecológico Europeu, e divide-se em cinco componentes: Empresas 4.0, Qualidade e Sustentabilidade das Finanças Públicas, Justiça Económica e Ambiente de Negócios, Administração Pública – Capacitação, Digitalização e Interoperabilidade e Cibersegurança, e Escola Digital. Apesar de todas as componentes trazerem consigo oportunidades para o Canal, devido ao foco na digitalização, este artigo vai se concentrar em delinear a componente Empresas 4.0, com vista a salientar os projetos de fomentação da transição digital do tecido empresarial português que, por sua vez, deverão ter um impacto significativo no investimento tecnológico das empresas. Empresas 4.0A componente 16, intitulada Empresas 4.0, destina-se ao reforço da transição digital do tecido empresarial português através do acesso ao conhecimento e meios tecnológicos necessários para reforçar as competências digitais dos trabalhadores, modernizar os modelos de negócio, criar novos canais digitais de comercialização, incorporar tecnologias disruptivas na proposta de valor das empresas e estimular o empreendedorismo digital. Esta componente assenta sobre a reforma intitulada Plano de Ação para a Transição Digital, o que contempla três vetores de investimento, totalizando 650 milhões de euros. Capacitação digital das empresasO investimento na Capacitação Digital das Empresas (cem milhões de euros) prevê a criação de dois programas de formação interligados, que visam colmatar lacunas nas competências digitais dos trabalhadores e das empresas. A Academia Portugal Digital é uma plataforma e programa de desenvolvimento de competências digitais em larga escala direcionada aos trabalhadores, enquanto o programa Emprego + Digital 2025 visa responder aos desafios e oportunidades de diversos setores empresariais mais fortemente impactados pelos processos de transformação digital e pela pandemia da COVID-19, constituindo uma vertente de especialização do programa Academia Portugal Digital. Transição digital das empresasO investimento na Transição Digital das Empresas (450 milhões) foca-se na digitalização e transformação dos modelos de negócio das PME portuguesas através da aceleração e automação de tomadas de decisão e de execução, do redesenho de cadeias de valor e de fornecimento, e da utilização de espaços de dados transsectoriais, suportada em infraestruturas europeias de cloud e edge computing. Nesta vertente de investimento estão englobados quatro Programas: Rede Nacional de Test Beds, que visa criar as condições necessárias às empresas para o desenvolvimento e teste de novos produtos e serviço; Comércio Digital, programa para a digitalização das PME com vista a ativar os seus canais de comércio digitais, incorporar tecnologia nos modelos de negócio, e desmaterializar os processos com clientes, fornecedores e logística; Apoio a Modelos de Negócio para a Transição Digital (Coaching 4.0), que visa fomentar a integração de tecnologias nas empresas e apoiar o desenvolvimento de processos e competências organizacionais; e Empreendedorismo, focado no desenvolvimento do ecossistema empreendedor através de apoios diretos a startups, da consolidação da estrutura existente de apoio ao empreendedorismo (Startup Portugal) e do apoio ao desenvolvimento de incubadoras e aceleradoras. Catalisação da transição digital das empresasO investimento na Catalisação da Transição Digital das Empresas (cem milhões de euros) será feito através de projetos públicos de catalisação tecnológica com vista a reduzir a utilização de papel através da desmaterialização da faturação, criar um ambiente de negócios digital mais seguro e confiável, e estimular o desenvolvimento de estruturas de transferência de conhecimento para estimular o desenvolvimento de produtos e serviços digitais. Este vetor de investimento encontra-se estruturado em três Programas: Digital Innovation Hubs, que tem em vista a centralização de um conjunto de serviços de apoio à transição digital das empresas, com foco na IA, high-performance computing e cibersegurança; Desmaterialização da Faturação, que visa automatizar o processo de aposição de assinatura eletrónica qualificada para a emissão de faturas através do Serviço de Assinatura de Faturas Eletrónicas da AMA, bem como massificar a utilização o envio de faturas em formato digital faturação eletrónica nas transações B2B e B2C; e Selos de Certificações de Cibersegurança, Privacidade, Usabilidade e Sustentabilidade, que concerne o investimento em quatro novas plataformas de certificação em cibersegurança, privacidade, usabilidade e sustentabilidade. |