Rui Damião em 2023-11-14
Sally Costerton, da ICANN, e Andrew Sullivan, da Internet Society, abordaram, durante o Web Summit, como é que a regulação pode impactar a Internet que conhecemos e utilizamos e como as várias tentativas governamentais estão a impactar a fundação da Internet
(Da esquerda para a direita) Sally Costerton, ICANN, Andrew Sullivan, Internet Society, e Zoe Tabary, Thomson Reuters Foundation
O primeiro dia oficial do Web Summit foi marcado pelo tema do ano: a inteligência artificial. No entanto, um dos muitos palcos da conferência – que acontece por estes dias em Lisboa – foi dedicado ao tema da regulação e do seu impacto não só nas organizações, mas também nos cidadãos. Andrew Sullivan, CEO da Internet Society, e Sally Costerton, CEO da ICANN, com moderação de Zoe Tabary, Tech Editor da Thomson Reuters Foundation, partilharam a sua opinião sobre como parar a Internet de se desfazer, sobre o que fazer – e o que não fazer – no que toca à regulação da Internet. Sally Costerton refere que é “óbvio” que os governos têm de regular a Internet, mas é importante ajudar os reguladores a perceber como é que a Internet funciona porque, sem isso, pode “provocar danos em toda a fundação [da Internet] e tudo colapsa”. Costerton explica, também, que o mundo é muito mais “politico e polarizado” onde a Internet “é muito importante”. A comunidade tecnológica tem de lembrar o mundo que a Internet “nunca foi abaixo em 30 anos” e que é segura e sustentável, contando que todo o mundo faz parte dela e faz a sua parte para que assim continue. A política à volta do mundo está a afetar a Internet. Sally Costerton relembra que, quando a Rússia atacou a Ucrânia, a Ucrânia pediu ao ICANN para tirar o domínio .ru da Internet, algo que não é – de todo – possível, até porque a Internet não pode escolher um lado em detrimento do outro, diz a CEO da ICANN. Andrew Sullivan relembra que as condições em que a Internet foi criada são diferentes das que vivemos atualmente. “A Internet é incrivelmente robusta, mas é politicamente fraca”, explica. “Se regularmos a Internet de tal maneira para que os Governos tenham todo o controlo, então a Internet não é livre; esse é o princípio da Internet: ser livre”. Para Sullivan, a preocupação está à volta da soberania dos dados reclamada pelos vários países, de manter os dados num determinado território, porque “a Internet não foi pensada para isso”. Andrew Sullivan espera “que se possa mudar esse caminho, mas não creio que vá acontecer”. Sullivan relembra que a regulação num país pode provocar danos em todo o mundo. A Internet Society tem uma ferramenta que mostra como uma determinada regulação proposta por um país, que na teoria apenas se aplica aos cidadãos e organizações daquele país, vai impactar toda a rede. Naturalmente que a inteligência artificial é um tema que tem de ser considerado quando se fala do futuro da Internet. Costerton concorda que, coletivamente, é preciso falar do tema e dá como exemplo a agenda da Web Summit: o tema está em todo o lado. “O tema é confiança. A confiança é o que mantém a Internet a funcionar. Se não temos confiança com quem estamos a falar, nada disto vai correr bem”, refere a CEO da ICANN. |