2022-11-09
A Web Summit voltou a marcar presença em Lisboa e o papel da inteligência artificial e a computação quântica foram apenas alguns dos (muitos) temas explorados nos três dias do evento
Lisboa voltou a receber o Web Summit (fotografia por Piaras Ó Mídheach/Web Summit via Sportsfile)
“Somos terríveis a prever as consequências da tecnologia”por Margarida Bento A tecnologia não é intrinsecamente neutra – quando é aplicada, a forma como a aplicamos, o propósito que lhe damos e as consequências por ela causadas conferem-lhe peso ético. Este é um tema há muito debatido, e o que trouxe ao palco Rebecca Parsons, CTO da ThoughtWorks, no primeiro dia da Web Summit. Na sua apresentação “Winning as a Responsable Company”, Parsons partilhou um estudo que a ThoughtWorks realizou em conjunto com a MIT Technology Review sobre o papel estratégico da tecnologia responsável, bem como os obstáculos à sua adoção. Rebecca Parsons, CTO da Thoughtworks (fotografia por Piaras Ó Mídheach/Web Summit via Sportsfile) O estudo define tecnologia responsável como o resultado da consideração ativa dos valores, consequências não intencionais, e impactos negativos da tecnologia, de forma a mitigar os possíveis riscos e danos nas comunidades afetadas pela tecnologia. “Enquanto tecnólogos, somos terríveis a prever as consequências das tecnologias que criamos”, refere a responsável. Uma das questões abordadas por este estudo é o motivo pelo qual as empresas respondentes se preocupam com a ética na tecnologia. A resposta mais frequente é o compliance: preocupam-se porque a isso são obrigadas. No entanto, apesar destas preocupações terem começado com o compliance, muitos negócios estão a compreender o valor estratégico da tecnologia ética e responsável, não só para transmitir uma melhor mensagem para o mercado, como também para atrair investidores. Há também a questão da proteção da marca – os resultados negativos da tecnologia podem causar danos à imagem da empresa. Do mesmo modo, reforça a responsável, isto implica não só proteger como promover a imagem de marca, especialmente em termos de employer branding e no que toca à Gen Z – num cenário de escassez de talentos, os colaboradores podem facilmente abandonar uma organização se sentirem que não se identificam com os seus valores, incluindo a sua responsabilidade e ética. “Se não houver adaptação apropriada, até as empresas mais antigas se podem desmoronar”por Maria Beatriz Fernandes No primeiro dia, o palco MoneyConf recebeu variadas discussões sobre serviços financeiros, digitalização e atuais disrupções macroeconómicas. Para falar sobre como as Pequenas e Médias Empresas (PME) potenciam a economia global, Shane Happach, CEO da Mollie, e Kathryn Petralia, cofundadora da Keep Financial. Shane Happach, CEO da Mollie (fotografia por Diarmuid Greene/Web Summit via Sportsfile) Segundo o painel, ativar os pequenos negócios passa pelo conceito de adaptação, maioritariamente devido à pandemia – a novos modelos de negócio, ao digital, a novos modelos de pagamento, e ao marketing digital. O painel seguinte lançou a pergunta: são as marcas as soluções financeiras do futuro? Roland Folz, CEO da fintech alemã SolarisBank, afirma que é importante que os serviços financeiros se reinventem – comecem com um produto e expandam a sua oferta, criando, posteriormente, produtos de forma integrada, e escalando para outros países. “2022 é um ano muito difícil. Acho que alguns modelos de negócio menos estáveis têm passado dificuldades com o pouco investimento existente. Há muitas mudanças a acontecerem no mercado e se não houver uma adaptação apropriada, até as empresas mais antigas se podem desmoronar”, refere. Inteligência artificial, um grande valor para qualquer negóciopor Marta Quaresma Ferreira A inteligência artificial como o mote para o futuro do trabalho e da democratização da comunicação nas empresas. Esta foi a mensagem deixada por Craig Walker, Co-founder & CEO da Dialpad, no segundo dia de Web Summit, em Lisboa. Numa altura em que a revolução da inteligência artificial já começou, o orador apresentou alguns insights sobre a forma como a IA está já a mudar as empresas, com várias organizações como a Google e a Apple a apostarem em soluções que envolvam esta nova tecnologia. Na prática, as áreas de vendas, apoio ao cliente e recrutamento são algumas das áreas onde a aposta na inteligência artificial pode ser uma mais-valia para o crescimento de uma empresa, ao ajudar as organizações a tomar as decisões mais inteligentes, que satisfaçam clientes e equipas, e que vão ao encontro do foco do negócio. No trabalho do dia a dia, a inteligência artificial pode dividir-se em três vetores que vão ajudar a trazer melhorias ao trabalho: automação, assistência e insights. A automação conta com virtual customer assistants, virtual employee assistants e business process automation. Na assistência, a inteligência artificial poderá dar sugestões, coaching, automated compliance e playbook adherence. Por fim, nos insights, podemos ter interações – as organizações vão precisar de alguém que elabore inquéritos de satisfação para os clientes, por exemplo –, otimização – saber quem é que precisa de acompanhamento e que tipo de acompanhamento –, previsões – prever se um cliente vai comprar um produto e quais as suas intenções – e engagement – oferecer experiências personalizadas e ajudar o consumidor a encontrar a informação de que necessita, sem que para isso tenha de pedir ajuda ao suporte da empresa. Para Craig Walker, “qualquer negócio, seja de que tamanho for, consegue tirar daqui [inteligência artificial] um grande valor”. O Web Summit decorreu entre o dia 1 e 4 de novembro em Lisboa (fotografia por Lukas Schulze/Web Summit via Sportsfile) Organizações criam equipas para se prepararem para a computação quânticapor Rui Damião “Há alguém que perceba mesmo a [computação] quântica?”. É esta a pergunta que está na descrição da sessão “Will quantum computing revolutionise our daily lives?” que contou com Ilana Wisby, CEO do Oxford Quantum Circuits no segundo dia da Web Summit. A resposta aparece logo à frente: “sim ou não, é provável que o quantum vai ter um grande papel na definição do nosso futuro”. Mas, afinal, o que é computação quântica e quais as diferenças para a computação ‘tradicional’ a que estamos habituados? “A computação quântica não é simplesmente uma nova ou mais rápida ou melhor forma de processamento; o que traz são novos princípios. Não está circunscrito ao binário, aos zeros e aos uns; em vez disso, temos acesso a uma infinidade de aplicações, temos o zero e o um e tudo o que está no meio. Isso é uma mudança de paradigma de capacidade de tecnologia e há um grande número de aplicações que são revolucionárias para a computação”, explicou, logo no início da sessão, Ilana Wisby. Ilana Wisby partilhou com a audiência que os clientes da OQC estão a utilizar a computação quântica em verticais chave, como o setor financeiro, que procura diferentes otimizações e pensam no que podem fazer no futuro. Atualmente, o setor financeiro utiliza a tecnologia para, por exemplo, análise de portfólio e algumas otimizações de pequena escala. As organizações procuram não ficar de fora da onda da inovação e, no mínimo, querem experimentar a tecnologia. Wisby indica que as empresas querem ter a vantagem de serem os primeiros a experimentar a tecnologia e a olhar estrategicamente para o futuro do negócio e quais os riscos possíveis. “Vemos empresas a preparar as suas próprias equipas quantum com especialistas para aprenderem a identificarem onde a computação quântica pode ter mais impacto, mas também a aprenderem as competências internamente com os computadores de hoje para, quando o poder [de processamento] estiver disponível, possam alavancar essa equipa. Ninguém quer ficar para trás”, refere. |