“Be Bold” (Seja Ousado), para tirar partido de um mercado com um valor estimado pela Cisco em $19 triliões, dos quais $14,4 no sector privado e $4,6 no sector público, foi o lema lançado pelo fabricante no Cisco Partner Summit 2015, que teve lugar entre os dias 27 e 30 de Abril no Palácio dos Congressos de Montreal, onde a empresa reuniu cerca de 2200 parceiros. A Internet of Things (IoT), que a Cisco denomina de Internet of Everything (IoE), é o motor de toda a sua mudança.
Este fornecedor de equipamento de redes que agora reforça o investimento no software, afirma que a IoT já está a ter impacto em vários sectores de atividade, tendo apresentado casos de sucesso com a Sensity Systems, a Johnson Controls, a Arrowdown, a Rockwell Automation e a Paso Systems. Dos exemplos no seu portfólio em IoT, figuram os sectores energético, transportes, Defesa, SP/M2M e smart cities. O potencial destas últimas afigurou-se elevado para a prestação de serviços ao cidadão, como a optimização do parqueamento, a gestão de acidentes, a iluminação das vias públicas. Um dos exemplos apresentados decorre na cidade de Kansas, no Texas, onde foi implementado um projeto de colaboração entre parceiros que aproveitaram infraestruturas de iluminação para reduzir o consumo energético com sensores de luz, usando LED, sensores de vídeo cujos dados podem ser guardados durante 30 dias e puxados a qualquer momento, facilitando em simultâneo as informações de parqueamento, de gestão de acidentes e de segurança. Dizem os executivos da Cisco que os parceiros conseguem aumentar a margem do negócio em pelo menos 10%, se trabalharem em colaboração.
O presidente executivo e CEO da Cisco, John Chambers, que ao fim de 20 anos no mesmo cargo passará a pasta de CEO ao senior vice president of worldwide field operations, Chuck Robbins, a 26 de Julho, sublinhou que a cultura empresarial tem de mudar. Baseando-se num estudo da Babson Olin School of Business, disse que está previsto o desaparecimento de mais de 40% das empresas atuais nos próximos 10 anos, sendo que o sucesso ou o fracasso dependem de alterações no mercado, na demora da concretização do que está certo, na capacidade de reinventar. “Em 2020, 75% dos negócios serão digitais, apenas 30% dos esforços de digitalização serão bem sucedidos e os que falharem será pela incapacidade de inovar e reinventar. A rapidez na mudança é essencial, o que requer tecnologias rápidas”.
A reinvenção do fabricante para obter uma diferenciação sustentável, assenta na segurança, colaboração, IoE, big data, analytics, cloud e intercloud, mudanças na organização e nos processos, no ACI (SDN, SLN, NFV), nas arquiteturas de redes inteligentes, no armazenamento, nas redes e no seu ecossistema de parceiros. A rede global que está a criar com especialistas em IoT, conta hoje com o envolvimento de 600 profissionais, distribuídos por 38 parceiros já formados e 94 em formação. A falta de competências no sector para endereçar a IoT, foi assinalada com a necessidade de formar 300 mil engenheiros no mundo. A empresa também anunciou que vai abrir um grande Centro de Inovação de IoE em Toronto, neste mês de Maio.
Da Cloud à Intercloud
Para ligar todas as ilhas de cloud numa grande rede de clouds, no último ano, a Cisco criou um ecossistema envolvendo mais de 60 parceiros de Interclouds, com mais de 350 centros de dados espalhados por 50 países. Com esta medida, também preparou o lançamento de uma nova gama de soluções. Nick Earle, Senior Vice President of global cloud and managed services, salientou que actualmente “estão a ser ligadas 300 mil coisas por hora à Internet, gerando dados que por sua vez são consumidos por aplicações, também elas alojadas na cloud. Esta hiper-distribuição está a ser expandida cada vez mais depressa e os milhares de milhões de dispositivos móveis estão a tornar-se na primeira forma de acesso a este mundo. Isto já não é cloud hibrida e sim TI hibrida”. A grande proposta de valor para o cliente, envolve a segurança da rede, a política de controlo das aplicações em todas as clouds, o desenvolvimento de aplicações nativas e as análises efetuadas.
Entre as novidades da oferta nesta área, estão o serviço de Cisco Cloud Consumption, para ajudar os utilizadores a ter uma visão completa da cloud, o Cisco One Enterprise Cloud Suite, para construir a própria cloud híbrida privada, o Intercloud Marketplace, o Cisco OpenStack Private Cloud Bundle, o Cisco Energy Management e o Cisco Mobility IQ.
Software e Programa de Canal
Uma relevante aposta no software que foi assinalada por Rob Soderbery, senior vice president, enterprise products and solutions da empresa, incidiu na Application Centric Infrastructure (ACI). Esta vai ser integrada no Firepower, para garantir maior segurança nos centros de dados. A solução deverá ser apresentada no próximo mês Junho.
Por sua vez, Bruce Klein, senior vice president of worldwide channels, salientou que neste momento o “software está a crescer duas vezes mais depressa do que o hardware, e que isso está presente no modelo recorrente de receitas. Também as margens são maiores no software, o que ajuda a estabelecer melhores diálogos no negócio e a obter melhores resultados”. Nesta área, a empresa procura desenvolver os mercados verticais e mudar a forma como as equipas de vendas são compensadas.
No programa de canal de software, aos papéis de solution provider, provider, agregator e ISV, acrescem-se agora os de Lifecycle, consultoria e o de integrador de software. Aos programas em especializações e certificações, cloud e managed services e solution partner program, é adicionado o Cisco software partner program.
Em Portugal
A Cisco está aberta a novas parcerias em todos os sectores. Segundo Miguel Almeida, responsável de canal da Cisco em Portugal, “os parceiros que não sejam os tradicionais, ajudam a complementar a oferta dos existentes. Estamos a mudar o portfólio para as questões da cloud e do software”. “O que nós queremos é trazer connosco os parceiros que nos permitem ter a solução mais robusta possível para entregar ao cliente final e endereçar as questões que ele tem”, acrescenta Sofia Tenreiro, diretora-geral da Cisco Portugal. Entre estes, incluem-se as startups e os projetos de investigação.
Perante a falta de capital dos parceiros, a empresa disponibiliza um serviço de leasing através da Cisco Capital, com 0% de taxa de juros e pagamentos em 24 meses. Este instrumento já tem sido utilizado em território nacional. “Hoje financiamos à volta de 20 a 25% da nossa operação integral e fazemos co-financiamento”, revelou Miguel Almeida ao IT Channel. Este também recai sobre outras tecnologias para lá das produzidas pela Cisco, o cliente é quem é financiado. Os executivos dizem que garantem o apoio na mudança dos modelos de negócio dos Parceiros.
Em Portugal, a crise económica não impediu a implementação de soluções IoT. Quando confrontado com essa questão em conferência de imprensa, John Chambers enalteceu o exemplo português, como sendo muito bem sucedido. Portugal é uma referência dentro da Cisco pela performance, qualidade de equipa e pela cultura, onde conquistou durante cinco anos consecutivos o prémio “Best Place to Work”.
Os exemplos em IoT foram depois oferecidos por Sofia Tenreiro, que afirmou que “todas as cidades portuguesas estão interessadas em ser smart cities”. A directora exemplificou com alguns projetos piloto já implementados, entre os quais o smart trash, que promove maior eficiência na recolha do lixo diária, através de sensores que indicam a quantidade de lixo dentro dos contentores, o smart lightning, onde a estrutura da rede eléctrica é utilizada para ter acesso a medidas de poluição, de ruído, para promover a segurança e o smart parking. Com vários projetos em curso, “a cidade do Porto é a que está mais avançada na implementação deste tipo de soluções. Nas cidades que têm apetência para prestar esses serviços aos cidadãos e que procuram ter eficiência em termos de custos, o papel da Cisco é servir de facilitador, através das redes inteligentes onde assentam esses serviços e também com a partilha das melhores práticas que tem a nível mundial”.
No que respeita ao investimento em TI, Sofia Tenreiro disse que a Cisco sentiu “algum abrandamento nos últimos anos. Mas o que estamos a sentir hoje em dia é que está a haver uma retoma e as empresas, nomeadamente as PME, estão a conseguir perceber e apostar em TI, porque sabem que os investimentos que fizerem são os que lhes permitem acelerar a inovação, tornarem-se mais competitivas, aumentar os seus fatores de diferenciação e vencer no futuro”.
Sónia Gomes da Silva
O IT Channel, em Montreal, a convite da Cisco |