Vânia Penedo em 2017-8-29
De 3 a 5 de outubro, o Canalys Channels Forum EMEA, em Veneza, debruça-se sobre o futuro dos negócios do Canal, numa altura em que a transformação digital agita o mercado das TI, levantando desafios e incertezas, mas também oportunidades
“Limitless Landscape” é o tema principal do Canalys Channels Forum (CCF) EMEA de 2017, que irá considerar a forma como a atual paisagem digital está a ser transformada pelas principais tendências tecnológicas e a moldar os negócios. O evento, que tem como principais keynotes a Dell EMC, a HP, a HPE e a Lenovo, e onde são esperados cerca de mil visitantes, vai debater o papel que as empresas do Canal têm de assumir nesta nova era. O IT Channel, media partner do CCF 2017, conversou em exclusivo com Alastair Edwards, chief analyst na Canalys, e um dos oradores neste congresso, sobre as transformações a ocorrer no mercado de IT e sobre o que estas significam para o Canal.
IT Channel - Com a transformação digital a decorrer, e o IT a ser mais complexo do que nunca, como será o Canal no futuro?Alastair Edwards – O Canal terá de alterar as suas capacidades e competências num mundo de dados, aplicações, automação e digital. Mas mais importante, o principal papel do Canal será ainda mais relevante do que anteriormente: ajudar os clientes a navegar nesta complexidade, juntando as diferentes peças do ambiente híbrido de IT (on-premises, hosted, cloud, mobile, etc.), e assegurando que esse ambiente funciona perfeitamente para os utilizadores, independentemente das plataformas ou dos dispositivos em que trabalham, e nas quais estão apoiados e seguros, 24x7. Os fabricantes e os clientes vão depender ainda mais dos Parceiros. O Canal continuará, portanto, a prosperar, mas muitos deverão falhar na sua transformação. Diversos tipos de Parceiros irão emergir – orientados a soluções, a clientes (mais do que a produtos ou a fabricantes) – conduzidos pelos serviços, com o objetivo de obter uma fatia ainda maior de lucro do que no passado.
De que modo o DX impacta o negócio de Canal?A transformação digital (DX) requer novas capacidades de consultoria, visto que chega a um nível de transformação de processos de negócio para a maioria das organizações. Mas, para ser sincero, muitos Parceiros não estarão necessariamente numa posição que lhes permita desenvolver essas capacidades por si mesmos. A DX criará exigências enormes para novas infraestruturas de data center, computação, armazenamento, networking, segurança e software, que o Canal estará bem posicionado para endereçar. Porém, à medida que a infraestrutura se torna mais software-defined, as funções tradicionais do Canal, tais como a configuração de hardware, começarão a tornar-se menos importantes. No futuro, as competências vão começar a estar relacionadas com a definição de uma nova estratégia de IT, estabelecimento de políticas, criação de estratégias de segurança, construção de aplicações à medida e respetiva gestão em função das necessidades do cliente. Os Parceiros deverão, por isso, começar agora a pensar em desenvolver estas competências.
Os Parceiros de Canal têm de evoluir para modelos de venda de serviços, mais do que de venda de produtos?Muitas áreas do IT estão certamente a caminhar na direção do IT como um serviço, e a dinâmica por detrás disto está a acelerar, por isso os Parceiros de Canal têm de responder a isto, em termos das suas ofertas, modelos de venda, etc. Software, cloud, manutenção, segurança, são algumas das áreas que estão a mover-se rapidamente para modelos de anuidade, subscrições e “consumo”. A cloud está a crescer rapidamente e, claramente, está a substituir alguns servidores on-premises, licenças de software, etc.. Mas em grande parte trata-se de uma questão de financiamento, mais do que substituir um produto por um serviço. Quando o cliente escolhe ser mais flexível ou opta por um financiamento de OPEX, o Parceiro habitualmente fornece e gere o produto, mesmo que o cliente pague por isso numa base de subscrição. E nem todos os clientes seguirão esta direção. Haverá sempre clientes que querem comprar produtos diretamente. Logo, para o reseller, trata-se de oferecer uma escolha ao cliente, mais do que o restringir a um modelo.
E em relação às implicações financeiras da migração para estes modelos, como devem preparar-se os Parceiros de Canal?Existem grandes implicações em termos de fluxo de caixa, reconhecimento de receitas, lucro e compensação de vendas. Isto é algo que todos os Parceiros de Canal têm de gerir agora. Demora dois a três anos para que o negócio de anuidade gere lucro, visto que geralmente é necessário este período de tempo para atingir as receitas equivalentes ao que era anteriormente alcançado. Pode ser difícil para os Parceiros realizarem esta transição, e alguns poderão não ter força financeira suficiente para conseguirem avançar. Porém, todos os que avançaram para esta transição descobriram que estão a aceder a fontes de receitas mais previsíveis e lucrativas. Os mais bem-sucedidos são os que mantêm as suas receitas principais enquanto constroem um modelo baseado em subscrição anual. Mas existe uma diferença entre a subscrição – onde os clientes pagam um montante fixo, geralmente mensal – e a compra tradicional, que é muito menos previsível. O outro desafio é o de criar uma nova abordagem de vendas a este modelo as-a-service: por um lado, as equipas de vendas têm, por norma, de abdicar de uma fatia da comissão inicial que seria maior se fosse proveniente de uma venda tradicional, CAPEX; por outro, necessitam também de garantir que os clientes continuam a pagar pelo seu serviço numa base mensal. Se o cliente não identificar uma mais-valia, então deixará de pagar. Logo, a missão de quem vende muda, e passa a ser a de uma manutenção contínua da relação com o cliente, assegurando que este está a tirar o máximo partido do seu investimento, conduzindo o cross sell e upsell, e garantindo que o cliente renova o seu serviço. Maximizar o valor do cliente ao longo do ciclo de vida do serviço tornar-se-á tão importante como vendê-lo em primeiro lugar. Quais os principais desafios que os Parceiros de Canal enfrentam, atualmente, e de que modo os poderão enfrentar?Ser relevante, num mundo liderado pelos dados e aplicações, onde o influenciador ou mesmo o comprador da tecnologia não são necessariamente o comprador de IT tradicional. Os Parceiros de Canal têm de posicionarem-se como um advisor estratégico para os seus clientes – o que significa serem capazes de falar sobre o seu negócio e processos de negócio, e de que modo estes se relacionam com investimentos tecnológicos, em vez de apenas se focarem em caraterísticas de produtos, funcionalidades e preços. Isto requer novas capacidades de pré-venda e consultoria, que são difíceis de encontrar. Outro dos desafios é o de desenvolver competências sobre todo o espectro de tecnologias emergentes, tais como a automação, inteligência artificial, segurança, IoT, blockchain. Os Parceiros têm de ser mais recetivos a parcerias com outros especialistas, devem posicionar as suas culturas como inovadoras, digitais – de modo a atrair a nova onda de talento necessária, mas que por vezes pode não estar interessada em trabalhar para um “reseller” puro. Que papel protagonizará o Canal na nova era de tecnologias digitais, como a IA, IoT e até o blockchain?Para algumas destas áreas, principalmente a IA e IoT, os Parceiros terão de se especializar – estas tecnologias abrangem tantas áreas distintas, que ainda não estão identificadas como oportunidades. Os integradores de sistemas estarão provavelmente entre os primeiros a definir estas novas funções, por vertical ou indústria, e assim que estas tecnologias começarem a tornar-se dominantes, outros agentes seguirão os seus passos. Mais importante, os Parceiros não se devem precipitar – devem primeiro identificar onde os seus clientes se estão a preparar para investir (mais do que simplesmente ouvir as mensagens de marketing dos fabricantes), e desenvolver divisões especializadas para começarem a explorar estas novas tecnologias. |