A CIONET, a maior comunidade europeia de executivos de TI, organizou no passado dia 3 de outubro o Grand Coalition for Digital Jobs Summit, uma cimeira que veio alertar a comunidade para o desafio com que se deparam empresas e profissionais na área de tecnologias de informação e para as oportunidades de criação de valor que hoje em dia ainda não são aproveitadas.
A Grande Coligação para criação de Emprego na Área Digital é uma iniciativa europeia lançada pela Comissão Europeia em 2013 que junta vários intervenientes para lidar com a falta de qualificações e 900 mil vagas por preencher na área das TIC. Por toda a Europa, vários foram os empresários que se juntaram à Grande Coligação e defenderam a Declaração de Davos para a Grande Coligação para a criação de Emprego na Área Digital.
Em Portugal, a CIONET em colaboração com APDC, APDSI, FCT, FPC, ISACA, PBS, TICE.PT e UCP deram um passo em direção à criação de uma Coligação Nacional numa cimeira com três principais linhas gerais: retenção de talento no setor tecnológico em Portugal, requalificação e reciclagem de qualificações entre o talento português e atração de “geradores” de emprego digital para o país. Pela primeira vez no país o tema juntou representantes de mais de cem organizações distintas e tomou consistência na voz de cerca de 40 profissionais e empresários de algumas das mais reputadas empresas e instituições do país.
A cimeira contou com abertura por Frits Bussemaker, Liaison da CIONET com Relações Europeias, que precedeu o Presidente da Comissão Europeia Durão Barroso. Durão Barroso na sua intervenção referiu que, à data, a Comissão Europeia já recebeu mais de 57 projetos e tem o apoio de empresas líderes mundiais e responsáveis políticos de toda a Europa. O Presidente da CE frisou ainda que “No período 2014-2020 Portugal terá a sua disposição os fundos estruturais no valor global de cerca 26 mil milhões de € (…) Ora parte deste dinheiro pode e deve ser investido na área digital”. Durão Barroso deixa ainda o desafio às entidades que operam no sector (das TIC) de “dar o empurrão” que a economia e sociedade Portuguesas precisam.
As intervenções da tarde foram conduzidas por Leonor Parreira, Secretária de Estado da Ciência, António Murta, Digital Champion Português em 2013, e António Pires de Lima, Ministro da Economia. António Murta referiu o efeito multiplicador de valor da Propriedade Intelectual como uma excelente oportunidade para Portugal mas refere que a nível de formação é necessário ter em conta a obsolescência do conhecimento no setor e que o sector do ensino deve apresentar ofertas mais flexíveis e re-adaptáveis às necessidades das empresas e das pessoas.
Por fim, António Murta com a expressão "Importar” alguns empresários ou corporações estrangeiras sai mais barato que “exportar” muitos engenheiros”, apresenta a necessidade de desafiar as grandes corporações (com grandes necessidades) a instalarem-se em Portugal.
As sessões de trabalho contaram com participações de empresas como Microsoft, HP Portugal, Nestlé, Ynvisible, CRITICAL Software, FixeAds/OLX, ES Tech Ventures, Banco BIC, Deloitte, NOS, Ericsson, Chamartín, Crowdfunding Portugal, WyGroup ou Innowave Technologies, a par com organismos como o IEFP, ANJE, Fundação Calouste Gulbenkian, IAPMEI, Anacom, Instituto de Telecomunicações, INESC Porto, IPBPM e ESPAP ou mesmo representantes do ensino superior como IST, Universidade de Coimbra ou FEUP.
Carlos Salema, Presidente do Instituto de Telecomunicações, defende que o domínio das tecnologias em Portugal depende do ensino e I&D de base universitária. Já Pedro Janela, CEO do WyGroup, também aponta o ensino como a solução para os desalinhamentos de mercado, apoiando uma política de educação no secundário totalmente vocacionada para o ensino de CTEM. Tiago Gonçalves, CEO da Innowave Technologies, alerta ainda para a possibilidade de requalificação de recursos para tarefas necessárias em TIC que não necessitam de grande nível de conhecimentos técnicos ou funcionais, como, por exemplo, converter professores em testers, analistas ou chefes de projecto.
O debate passou ainda por temas como investimento estrangeiro e empreendedorismo. João Silva dá o exemplo da FixeAds, onde é Diretor de RH, como empresa que procurou um segmento de mercado por explorar e com elevado potencial e atraiu capital para o país. Pedro Domingos, Managing Director & Co-Founder da Crowdfunding Portugal, aponta a complexidade dos programas de incentivo a empreendedores, enquanto Inês Henriques, CEO da Ynvisible, refere que “não existe ainda a massa crítica em PT para a criação de uma rede de suporte a empreendedores direcionada para outras necessidades que não financeiras: proteção de IP, desenvolvimento de negócio internacional, marketing e relações públicas, parceiros para montar cadeias de valor globais, primeiras vendas” como pontos a melhorar.
A Agenda Digital e crescimento económico foram analisados, entre outros, por Miguel Eiras Antunes, Partner da Deloitte, que ao discutir o uso de serviços públicos on-line aponta o principal constrangimento como a ausência de usabilidade dos sistemas dos serviços públicos. “Estão construídos da óptica da oferta e não do utilizador.”
Rui Serapicos, Managing Partner da CIONET Portugal, afirma que “é mais um passo na direção da Coligação Nacional para o Emprego Digital e estamos muito orgulhosos de fazer parte de um projeto tão grandioso e essencial à economia nacional. A Grande Coligação tem de facto o potencial para elevar a competitividade do país resolvendo problemas como o acentuado desemprego que conhecemos”. O responsável refere que o trabalho maior está ainda para vir e apela ao setor empresarial para apoiar esta iniciativa. |