Jorge Bento e Rui Damião em 2022-12-19

ENTREVISTA

Tem A Palavra

“Vamos beneficiar das sinergias do grupo e passar isso para o serviço ao cliente em Portugal”

Em Portugal, a TD Synnex passou por algumas mudanças internas – nomeadamente a organização ibérica. Luís Pires, Managing Director da TD Synnex Portugal, tem a palavra sobre o que é que estas mudanças significam para os Parceiros

“Vamos beneficiar das sinergias do grupo e passar isso para o serviço ao cliente em Portugal”

Luís Pires, Managing Director da TD Synnex Portugal

Qual é o balanço que faz do ano 2022?

O ano de 2022 tem sido bastante positivo, para nós e para o mercado em geral. O mercado cresce a qualquer coisa como 11% year to date e estamos a crescer acima dessa média o que nos permite continuar a consolidar a nossa posição no mercado que já vem desde 2017. Este crescimento acima da média do mercado está muito alavancado nas áreas de endpoint devices e nas áreas de especialistas onde somos bastante fortes no mercado.

Além destes resultados, o ano de 2022 fica, para nós, também marcado por vários acontecimentos: a mudança de nome é algo que nos marca, mas também alguns prémios e reconhecimentos do mercado e de fabricantes; há um em particular que nos deixou extremamente orgulhosos que, pela primeira vez, conseguimos entrar no lote restrito das melhores empresas para trabalhar em Portugal, do Índice Great Place to Work, que é algo que nos deixa muito orgulhosos e, ao mesmo tempo, um testemunho daquilo que é a nossa aposta nas pessoas da organização porque são elas que nos permitem chegar onde estamos.

Recentemente, a empresa mudou oficialmente de nome; de Tech Data para TD Synnex. O que muda?

A mudança mais evidente é o nome, a mudança de identidade; tudo o resto mantém-se, mas o que é que nos traz a mudança do nome: passamos a estar incluídos oficialmente neste grupo global que somos um. É uma empresa que tem 150 mil clientes a nível global, trabalha mais de 1.500 fabricantes, somos 22 mil empregados; somos uma empresa verdadeiramente global e isto traz às subsidiárias – e Portugal está obviamente incluído – uma panóplia de serviços, de plataformas, de recursos muito mais abrangente. Iremos beneficiar dessas sinergias do grupo e podemos, obviamente, transladar isso naquilo que é o nosso serviço ao cliente aqui em Portugal.

Também recentemente foi anunciada uma consolidação entre Portugal e Espanha com a TD Synnex Ibérica. O que muda na autonomia de decisão local? O que muda para os Parceiros?

Em relação ao modelo de negócio, de forma muito natural, é algo que já está intrínseco em nós. Já há muito tempo que temos várias divisões que funcionam em modo ibérico. Temos uma área de audiovisual – que chamamos Maverick – que é ibérica, temos uma área de componentes que é ibérica, temos uma área de printing and supplies que é ibérica, temos áreas de suporte, como finanças, recursos humanos, armazém, logística… temos muita coisa que há muito tempo já é ibérica. Isto é apenas um continuar deste processo que, agora, se torna mais evidente e que está assente basicamente em três premissas principais: a primeira é que estamos a ver que cada vez mais fabricantes e clientes estão neste modelo ibérico. Nós, ao refletirmos a nossa organização na organização desses Parceiros provoca aqui um efeito de sinergia, de relação, que nos fortalece como como Parceiros.

O segundo ponto é que, embora sejamos ibéricos, a verdade é que as operações de venda continuam locais. Nós mantemos o front office local e, para os Parceiros que são locais, não há qualquer tipo de disrupção, mantém-se tudo exatamente da mesma forma, são atendidospelas mesmas pessoas, o que significa que continuamos a pôr o cliente no centro daquilo que são as nossas atividades, como até agora.

E finalmente uma terceira área – que para nós também é muito importante e que se relaciona com aquilo que disse anteriormente relativamente à aposta nas pessoas – que permite que os nossos colaboradores internamente tenham outra perspetiva de carreira, porque passam a estar dentro de um escopo ibérico e acabam por poder explorar – caso assim entendam – outro tipo de oportunidades profissionais; valorizamos ainda mais aquilo que é o trabalho que as pessoas fazem e isso é fundamental.

A distribuição olha para os serviços, para o valor acrescentado na distribuição, onde estão os grandes crescimentos, como por exemplo na área da distribuição de cloud. Qual é a aposta em Portugal da TD Synnex na área do valor acrescentado?

Nós somos um distribuidor completo e tocamos todas essas áreas. A cloud em particular é algo onde somos reconhecidos pelo mercado, como o distribuidor com mais capacidade, com mais know-how, nessa área; neste momento, somos o único distribuidor que tem a distribuição dos três hyperscalers – Microsoft, Google e AWS.

A nossa aposta total nessa área é intrínseca. Não somos um broadliner; somos, como digo, um distribuidor completo que abrange todas essas áreas e todos esses serviços. Adicionalmente à cloud temos áreas de formação, áreas de training, certificação, uma demo room que utilizamos para dar suporte aos Parceiros nessa área. A nossa aposta é forte, a nossa oferta é vasta e queremos continuar a ser um trust advisor para todos os nossos Parceiros, no sentido de olharem para nós como alguém que os pode ajudar a implementar essas tecnologias nos seus clientes.

Quais são as dificuldades que a distribuição sente neste momento? Sente-se um abrandamento face ao período homologo?

Em termos de dificuldades no mercado, há uma que é evidente: continuamos a ter dificuldades na ordem do chip e isso tem um impacto em toda a cadeia de Parceiros; obviamente que também sentimos esse impacto. A vantagem de o distribuidor ter um mercado mais abrangente é que pode, de alguma forma, colmatar algumas áreas que sofrem mais com determinados momentos no ano, com outras que estão com uma dinâmica diferente. Mas o tema dos chips é inegável e continua a acontecer; temos ainda algumas áreas de negócio que ainda não recuperaram de todo e continuamos com atrasos no fornecimento e com atraso na implementação de alguns projetos importantes devido a isso. O abrandamento nesta reta final do ano concentra-se mais na área de consumo. Aí, sim, nota-se um abrandamento, sobretudo na área dos PC.

Mas também é verdade que existem oportunidades. Temos o famoso PRR, cuja taxa de execução está um bocadinho aquém do que seria esperado, mas a verdade é que isso traz- -nos muitas oportunidades e há muito negócio disponível para que as empresas possam captar e seguramente irão fazê-lo até final do ano, porque é a altura em que têm de ser utilizadas este tipo de fundos.

É um misto, certamente que sim. Há um abrandamento, é verdade, vemos esse abrandamento, mas mais concentrado nas áreas de consumo; na área profissional não notamos um abrandamento especial e existem áreas, inclusive, que estão a crescer bastante.

A maior parte dos nossos leitores atua na área profissional. Quais são as áreas que sente que estão em crescimento?

A área de digital signage, por exemplo, está em franco crescimento, a recuperar porque foi uma área das que mais sofreu na pandemia. A área da cloud continua a crescer com rácios elevadíssimos. A área da segurança continua a crescer, até porque cada vez mais ouvimos situações de ciberataques e problemas em empresas de elevada dimensão e é necessária uma aposta grande na segurança que advém de tudo aquilo que a pandemia nos trouxe e que acabou por levar todos para casa; a necessidade de trabalho remoto e trabalho híbrido escalou as necessidades de segurança para puder aceder aos dados das empresas e as empresas puderem operar em modo híbridos.

Estas são áreas que estão a crescer de forma significativa e que colmatam, de alguma forma, aquilo que poderá ser um abrandamento mais significativo em áreas específicas de consumo. No entanto, há áreas em consumo que também não abrandam assim tanto; posso dar outro exemplo: trotinetes, é uma área de nicho de mercado muito pequenino, mas é um exemplo de uma área que cresce por causa da mobilidade elétrica. Existem oportunidades e existem áreas que realmente estão a compensar o tradicional consumo, nomeadamente a venda do PC ou do portátil.

Ainda falando do Parceiro da área empresarial ou pública, algumas das áreas que referiu são de grande exigência a nível de competências e talento.

Os recursos especializados é uma das áreas que este ano mais nos custou. Temos técnicos certificados em todos os fabricantes, temos know-how e recursos que disponibilizamos aos Parceiros no sentido de fazer pré-venda e acompanhamento pós-venda, mas é uma área onde é difícil recrutar. Os Parceiros, obviamente, podem suportar-se na TD Synnex para colmatar essas dificuldades de competências porque nós, de facto, temos, mas é uma área de difícil recrutamento.

A TD Synnex está organizada de forma que, em projetos muito específicos, possam utilizar competências de outros países da Europa para dar apoio?

Temos um centro de excelência europeu que tem um conjunto de técnicos especializados nas mais variadas áreas que dá suporte aos países e às subsidiárias nessas áreas; por isso é que dizia que temos as competências para ajudar os Parceiros a desenvolver projetos, mesmo que sejam projetos de elevada complexidade, seja na área de data center, seja na área do IoT, seja até numa área mais simples como a computação do edge. Temos essas competências, podemos certificar os Parceiros ou podemos nós fazer o design, a configuração do projeto e ajudar a implementar isto nos clientes ou mesmo a explicar um projeto aos clientes finais.

A área da distribuição é uma área de interesse para o investimento porque é robusta seja qual for a situação económica. Alguns dos concorrentes da TD Synnex também estão nesse movimento. Como é que vê isso?

Vemos isso com naturalidade. Preocupamo-nos essencialmente em fazer o nosso caminho e em proporcionar aos nossos Parceiros as competências, os produtos, os serviços e a tecnologia no sentido de ir de encontro àquilo que são as necessidades deles.

Os movimentos de consolidação são naturais, seja por uma necessidade de escala, seja por uma necessidade de competências. Vê-se ao nível da distribuição e também se vê ao nível dos Parceiros onde, recentemente, temos visto muita consolidação e até a nível de fabricantes temos visto estes movimentos porque veem que há oportunidades de acrescentar o portfólio ou a competência mais específica, captar nicho de mercado diferente e alargar o seu espectro de influência. Vemos isso com naturalidade.

Qual é a perspetiva macro para 2023?

2023 é muito difícil de prever; há muitos fatores que não nos permitem ver muito mais além. Temos a guerra que teima em não acabar com todos os impactos económicos que provoca, o custo de vida a subir substancialmente e o consumo a abrandar também por causa disso, a inflação alta. Há fatores macroeconómicos que não se vislumbram ajudar a que haja confiança no mercado de um ponto de vista genérico. Mas também é verdade que temos a sorte de estar numa área que tem sido a impulsionadora. A tecnologia tem proporcionado a praticamente todas as empresas do setor um crescimento significativo nos últimos anos, mesmo durante a pandemia.

Acreditamos que isso vai continuar a acontecer em 2023. Haverá certamente muitas oportunidades para capturar, seja de fundos europeus, seja de transformação digital, seja de continuar a apostar naquilo que são as tendências de agora, que são cada vez mais a segurança, a cloud para suportar os modelos híbridos de trabalho remoto que agora se usam. De um ponto de vista geral, temos de ser otimistas e acho que estamos numa área que permite ser otimista.

Há desafios, sem dúvida, mas temos as competências, os produtos e a tecnologia para endereçar aos nossos Parceiros e os Parceiros podem também fazer disso uma bandeira e passar essa mensagem de confiança para os seus clientes finais.

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