Jorge Bento e Rui Damião em 2024-5-15

ENTREVISTA

Tem A Palavra

“Queremos que os nossos Parceiros também acelerem o seu negócio, cresçam, ganhem mais volume de negócio e mais rentabilidade”

Este mês, o IT Channel dá a palavra a José Correia, Country Manager da HP Portugal, que partilha a sua visão sobre o mercado, o impacto da inteligência artificial no portfólio do fabricante e as oportunidades para os Parceiros de Canal

“Queremos que os nossos Parceiros também acelerem o seu negócio, cresçam, ganhem mais volume de negócio e mais rentabilidade”

José Correia, Country Manager da HP Portugal

O primeiro semestre fiscal da HP Portugal acabou a 30 de abril. Como correu o último ano fiscal?

O ano passado foi um ano difícil, mas sem surpresas. Foi um ano em que o mercado, de uma forma geral, acabou por necessariamente se corrigir. Sabemos que tudo o que sobe algum dia vai ter de cair, principalmente se subir muito; os últimos anos foram de forte crescimento para aquilo que são os produtos com que trabalhamos e o ano passado necessariamente teve de corrigir.

O mercado de consumo caiu mais ou menos 15%, tanto na parte dos PC, como nas impressoras. Houve uma travagem grande na procura por parte das famílias. A inflação e a subida contínua das taxas de juros fizeram com que o rendimento disponível fosse cada vez menor e isso acabou por se traduzir numa procura mais baixa. O mercado teve de adaptar o inventário para fazer face a essa situação.

Para a HP Portugal, o mercado de computadores caiu, no ano passado, 1%, se excluirmos os negócios da educação de 2022, até porque aquilo que foram os volumes da educação em 2022 é o equivalente a um ano de venda de computadores em Portugal.

O mercado do office printing cresceu 5% e o nosso negócio na área também cresceu. Nos PC empresariais, embora o mercado em si tenha caído 5%, fomos capazes de crescer, o que se traduziu num ganho de quota de mercado, o que acaba por ser importante. No cômputo geral, do ponto de vista de receita, foi mais difícil. Como disse, foi um ano difícil sem surpresas, mas correu bem e dentro do que queríamos.

Este ano [fiscal, inicado a 1 de novembro de 2023] está a correr melhor, mas também compara com um ano que teve um decréscimo. Estamos a apontar para um crescimento anual do mercado como um todo de um dígito forte na área dos PC, seja na parte de consumo como empresarial.

Há várias dinâmicas a contribuir para isto. Acreditamos que o consumo pode estar num ponto de viragem; mais tarde ou mais cedo as taxas [de juro] vão diminuir e a confiança dos consumidores vai aumentar, com a inflação a dar algum alívio que pode resultar em mais rendimento disponível.

Também vemos um ponto de viragem com um ciclo de renovação. Se nos lembrarmos em 2020, principalmente no consumo, foram comprados os computadores que haviam, não os que se queriam. Estamos em 2024 e, por isso, há mais exigência no tipo de funcionalidades, nomeadamente a colaboração, o som e as câmaras.

As empresas vão tendo os seus ciclos de renovação e vai continuar a acontecer este ano. Também as empresas compraram muito daquilo que existia e o mundo, entretanto, evoluiu. O trabalho híbrido é algo que não pode ser desconsiderado. Também temos o fim do suporte ao Windows 10 que também vai dar força aos processos de renovação do parque informático.


“Os que eram os Parceiros tradicionais da HP passaram a ter um portfólio muito importante para poderem acompanhar a estratégia da HP e também irem atrás daquilo que é a grande tendência do trabalho híbrido”


No mercado de PC, referiu que se espera um crescimento de um dígito forte. Em termos de quota de mercado, como é que a HP está?

No ano passado ganhámos quota de mercado. Em 2022 tínhamos uma quota de 31% e no ano passado chegámos aos 33%. Nestes dois trimestres que já apurámos do nosso primeiro semestre, temos uma quota de mercado alinhada com estes 33% no segmento empresarial. No cômputo geral do ano, continuamos líderes de mercado em Portugal.

Que mudanças é que têm sentido no mercado português?

No nosso negócio temos computação, printing, mercado empresarial, mercado de consumo, 3D… temos um portfólio bastante alargado e uma das grandes mudanças que vemos e que já temos no centro da nossa estratégia de inovação tem a ver com o trabalho híbrido, a que antes se chamava mobilidade.

Já defendíamos que, no futuro, os profissionais queriam trabalhar de qualquer lado, em qualquer momento, e para isso tinham de ter equipamentos bastante flexíveis. Com a pandemia tudo isto se transformou; segundo o INE, em Portugal, há quase 900 mil trabalhadores que no último trimestre de 2023 estiveram a trabalhar em modelo híbrido. Este número é quase 19% da população trabalhadora, mas se pensarmos só no setor terciário, estamos a falar de quase 29%. Isto significa que uma em cada três pessoas adotou este tipo de trabalho.

O trabalho híbrido traz uma mudança de paradigma e de exigência perante a tecnologia que se divide em duas áreas. Do lado de quem utiliza, os colaboradores das empresas, procura-se mais flexibilidade e uma melhor qualidade naquilo que é a tecnologia de colaboração; poder ouvir, ver, ter uma câmara com boa qualidade, acesso a ferramentas que na realidade funcionam.

Do lado das empresas procura-se um ambiente que seja fácil de gerir. É preciso não esquecer que existem empresas que chegam a ter colaboradores espalhados num raio de 200 ou 300 quilómetros da sede. Esta gestão dos dispositivos tem de ser bastante eficiente.

Também há um tema de segurança que não desapareceu; só deixámos de falar. Sabemos que, no nosso mercado, um número muito grande de incidentes de cibersegurança de uma empresa começa no endpoint, seja computador ou impressora.

Tudo isto traz um novo paradigma que faz com que, por exemplo, exista uma maior procura nos serviços porque as empresas querem ter um parque informático gerido convenientemente, querem serviços de segurança para poderem monitorizar. Também se preocupam com o suporte e a possibilidade de reparar convenientemente o equipamento. É preciso não esquecer que as pessoas já não estão no edifício e que é só descer um ou dois andares para arranjar o computador. Há um conjunto de outras variáveis que são necessariamente postas em prática para poder abarcar isto tudo.

Uma outra parte muito importante de mudança que também temos visto tem a ver com a sustentabilidade, naquilo que são as compras que se fazem. Até há bem pouco tempo ninguém queria saber, por exemplo, acerca da reparação do equipamento. Hoje, os departamentos de IT querem saber se um determinado computador tem possibilidade de reparação da sua CPU ou da memória, para que tudo possa ser reparado.

A HP anunciou novos produtos que podem incorporar as exigências da inteligência artificial. Como é que veem esta tendência?

Vejo com grande entusiasmo porque temos um portfólio de produtos onde olho e vejo que tudo aquilo que a inteligência artificial pode vir a trazer encaixa muito bem dentro daquilo que são as nossas áreas de inovação, de qualquer uma das linhas dos nossos produtos.

Temos produtos que já incorporam, de alguma maneira, princípios de inteligência artificial nas mais diversas áreas. Agora, quando o hardware começa a ser desenhado para lidar com esta exigência, tudo vai mudar. Quando os fabricantes de hardware – como somos – e os fabricantes de componentes – como os fabricantes de semicondutores – se juntam, vamos ter equipamentos que vão transformar a inteligência artificial numa outra realidade.

Uma das áreas onde a inteligência artificial já acrescenta bastante àquilo que é o produto em si, mas que no futuro ainda vai ser muito mais potenciado, tem a ver com toda a área da colaboração. Tudo o que se passa com uma câmara numa sala de reuniões não pode ter latência, tudo tem de acontecer naquele momento. Por exemplo, o desfoque do fundo durante uma videochamada passa por este tipo de tecnologia e não pode ir à cloud e voltar, assim como alguns dos processos de LLM.

Estimamos que, quando o hardware com os novos processadores vocacionados para inteligência artificial começarem a estar disponíveis, tudo isso começa a ser feito no equipamento. Podemos ganhar cinco vezes mais de velocidade, em vez de a execução das tarefas irem à cloud. Sabemos que há questões de privacidade e de segurança naquilo que é a informação que quero tratar e muitos não quero que vá à cloud, que continue dentro do seu ambiente.

A HP concluiu a aquisição da Poly em 2022. Quase dois anos depois, como está esta integração? Como foi a integração dos Parceiros Poly?

É um processo que ainda continua. Estamos a falar, por um lado, de uma empresa muito grande, como a HP, e, por outro lado, de uma empresa também com a sua história, a Poly. Um processo de integração leva sempre tempo, mas vejo que as coisas estão a correr como tínhamos planeado.

No dia 1 de novembro de 2023 integrámos ao nosso Programa de Canal – o HP Amplify – os Parceiros da Poly. Fomos preparando ao longo do ano passado essa integração, não só da Poly, mas também de outras aquisições que fomos fazendo, como por exemplo da Anyware ou da HyperX, e tivemos todas estas empresas a funcionar em pleno dentro do nosso Programa. Olhando para a realidade, penso que continua a haver aqui trabalho a fazer, mas esse foi um passo fundamental para todos, e principalmente para os nossos Parceiros. Os que eram os Parceiros tradicionais da HP passaram a ter um portfólio muito importante para poderem acompanhar a estratégia da HP e também irem atrás daquilo que é a grande tendência do trabalho híbrido, tendo acesso a duas marcas complementares e que por si conseguem endereçar a oportunidade do trabalho híbrido de uma forma única como mais nenhuma outra marca o consegue fazer.


“Não é só pensarmos naquilo que será incorporado nos nossos produtos; é pensarmos em como é que os nossos produtos, com essa tecnologia, podem fazer diferente com os nossos clientes. (…) Olhando para os nossos Parceiros, sempre foi assim também; agora caminha na especialização”


A HP anunciou recentemente algumas novidades no programa Amplify, nomeadamente o AI MasterClass, assim como o Amplify Growth Plays, ambos tendo por objetivo uma especialização maior em áreas de conhecimento. É este caminho de valor que a HP espera para os seus Parceiros trilharem?

Quem trabalha neste setor vai ter de mudar. Temos um plano acelerado de formação para as nossas pessoas, para entender o porquê de estarmos aqui a falar de inteligência artificial, quais é que são as oportunidades.

Também não é só pensarmos naquilo que será incorporado nos nossos produtos; é pensarmos em como é que os nossos produtos, com essa tecnologia, podem fazer diferente com os nossos clientes. Temos integrado aquilo que é o nosso currículo de aprendizagem constante. Olhando para os nossos Parceiros, sempre foi assim também; agora caminha na especialização.

Quando estamos com clientes, encontramos dois tipos: aqueles que sabem tudo e também querem falar com quem saiba falar com eles; e aqueles que não sabem muito, mas querem falar com alguém que os possa guiar no processo. Por isso, não há volta a dar.

Temos programas de formação muito sólidos no nosso Programa de Canal e sentimos essa necessidade também de trazer a inteligência artificial para dotar os Parceiros desse conhecimento. Trazemos este tipo de ações para pôr o Parceiro mais à vontade ao falar destas novas tecnologias e como é que elas se integram com aquilo que são as ferramentas, os serviços e o hardware que vendem utilizando a nossa marca.

Todos temos de estar nesse caminho porque os computadores com este tipo de tecnologia estão a chegar e ninguém vai comprar computadores especialmente vocacionados para inteligência artificial se ninguém lhes souber explicar o que é que vai ganhar com aquilo. Queremos que os nossos Parceiros também acelerem o seu negócio, cresçam, ganhem mais volume de negócio e mais rentabilidade, porque muitas destas áreas de crescimento são áreas de valor, são áreas que têm níveis de rentabilidade superiores.

Quais são as expectativas para o resto do ano?

Estou otimista. Olho para aquilo que é este ano com as várias vertentes e gosto sempre de olhar para o mercado e vê-lo em três áreas. Estamos também no mercado de consumo, no segmento empresarial e o setor público. Olho para qualquer um destes três segmentos de clientes e vejo dinâmica e indícios que me dizem que podemos ter aqui um ano de crescimento. Se é um dígito forte, como disse para aquilo que era a área de PC, ou se são dois dígitos, depende.

Consigo ver em cada uma das áreas muito boas notícias. Com aquilo que vejo hoje, consigo olhar para o setor público e percebo que pode trazer aqui uma dinâmica acrescida. Diria que não há outra hipótese se quisermos cumprir aquilo com que nos comprometemos com o PRR.

Quando olho para dentro, vejo que estamos a trabalhar em inovação, a construir um portfólio muito forte em cada um destes segmentos que consigo dizer que é o portfólio mais forte do mercado. Quando olho para isso, se o mercado nos ajudar, diria que vamos ter um ano bom para a HP.

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