Rui Damião em 2022-10-17

ENTREVISTA

Tem A Palavra

“O shortage deve estar resolvido até ao final do ano em todas as linhas de produto”

Este mês, o IT Channel dá a palavra a Alessandro Cattani, CEO da Esprinet, que, numa curta passagem por Portugal, falou dos desafios que aí vêm, assim como o potencial de crescimento da empresa no mercado nacional e a possibilidade de aquisições

“O shortage deve estar resolvido até ao final do ano em todas as linhas de produto”

Alessandro Cattani, CEO da Esprinet

Como tem sido este ano para a Esprinet, especialmente em Portugal?

Até agora, tem sido um ano interessante com muitas coisas que correram muito, muito bem para o grupo, especialmente em termos de lucratividade. Em termos de vendas, há alguma pressão no mercado de PC de consumo; houve uma redução nessa área. Mas se olharmos para os resultados em Portugal, tivemos um grande crescimento, acima do mercado. Neste momento, estamos a chegar à área mágica dos 10% de quota de mercado em Portugal. Estamos muito, muito contentes com isso.

A Esprinet tem o projeto EspriRent em Itália e em Espanha. Este projeto está pensado chegar a Portugal? O que é e como é que os Parceiros podem aproveitar o projeto?

Sim, queremos trazer o EspriRent para Portugal. O EspriRent é uma ferramenta sofisticada que permite que os utilizadores finais aluguem produtos em vez de os comprarem. Está desenhado para que os resellers possam vender os seus próprios serviços e terem libertado imediatamente o crédito porque lhes pagamos e libertamos a sua margem imediatamente.

Precisa de algum trabalho para adaptar os contratos à lei portuguesa e assinar acordos com entidades financeiras portuguesas. Já o fizemos em Itália e em Espanha e agora – ainda que a lei seja muito similar entre os três países – vai levar algum tempo para chegar a Portugal. Provavelmente, vamos lançar [o EspriRent] durante a segunda metade do próximo ano [em Portugal].

Os problemas de supply chain estão, de algum modo, a afetar o negócio junto dos Parceiros?

Numa extensão mais reduzida do que no ano passado. Os problemas de supply chain ainda estão presentes no printing, que é uma área ainda difícil, e algumas opções de servidores, networking e algumas outras – poucas – áreas. A vasta maioria dos produtos já estão disponíveis e a situação é significativamente melhor.

Ao falar com equipas de gestão mundiais da maioria dos fabricantes de topo, a ideia é que até ao final do ano a situação esteja mais ou menos resolvida em todas as áreas. O único ponto de interrogação é a China; alguns produtos são fabricados na China, que tem uma estratégia zero COVID, e, por vezes, a produção para de repente por algumas semanas. Podemos ter por vezes alguma imprevisibilidade, mas o shortage, numa extensão maior, deve estar resolvido até ao final do ano em todas as linhas de produto.

Como estão os níveis de disponibilidade de produto dentro da Esprinet, especialmente em Portugal?

Não é apenas na Esprinet, mas a vasta maioria dos canais de distribuição na Europa Ocidental tem vivido um excesso de disponibilidade de produtos de consumo, especialmente PC de consumo. Esse é o resultado da cadeia de valor que, de repente, se resolveu e todas as encomendas antigas chegaram, associado, também, com algum abrandamento na procura nessa área. O volume é muito maior do que na pré-pandemia.

Neste momento, o que é que os Parceiros mais procuram em termos de soluções, produtos e serviços junto da Esprinet?

Divido entre o que o retalho precisa e o que os Parceiros de negócio precisam. Temos feito um bom trabalho no retalho; temos ‘portugalizado’ a empresa nos últimos anos, com um armazém local, na Azambuja, e estamos a fornecer grandes níveis de serviço. O trabalho aqui é mantê-los atualizados com a chegada de produtos e continuar a fornecer o bom serviço que temos vindo a dar em conjunto com os fabricantes.

Se olharmos para os Parceiros de negócio, estamos a crescer no segmento de Parceiros de negócio. Há uma oportunidade nas vendas para o Estado por causa dos fundos do NextGenEU. Temos de contar não só com as atividades habituais de fornecer produtos, boa logística e crédito, mas também temos de crescer nas capacidades de consultoria para os resellers que querem endereçar áreas específicas no mercado governamental.

Outra área que vemos como um pedido por parte dos resellers – e que endereçamos com a V-Valley – é a cibersegurança, onde vemos um grande crescimento e que é uma oportunidade tremenda. Aqui, é uma questão de encontrar o talento certo, adicionar as pessoas com as competências certas para ajudar os resellers a escolher a solução correta e fazer as configurações corretas para que o crédito esteja disponível.

O mercado está, agora, a enfrentar um momento desafiante. Como é que os Parceiros se podem proteger para melhor responder às necessidades de mercado numa altura de incerteza?

Devem manter um olhar atento nos seus níveis de liquidez. O dinheiro é rei em tempos de incerteza e a nossa sugestão é serem prudentes na gestão dos seus investimentos. Neste sentido, o conselho que damos sempre para os Parceiros é de que vamos estar aqui com planos de longo prazo.

Em tempos difíceis, precisam da companhia certa de amigos e pessoas que os podem ajudar para, por vezes dizemos, passar a noite e esperar pelo momento em que as luzes se acendem outra vez. Não quer isto dizer que vemos verdadeiramente a noite, mas definitivamente alguma turbulência.

Estamos nesta região nos últimos 13 anos e temos acelerado desde 2015. Fizemos investimentos e somos um Parceiro de confiança, uma empresa séria gerida por portugueses. Conhecemos o mercado e podemos fornecer aos nossos Parceiros e aos nossos clientes a força e as competências de uma multinacional. Mas, por outro lado, temos a flexibilidade e a proximidade de uma entidade local.

Há uma forte possibilidade de, num futuro próximo, a economia entrar numa recessão. Por outro lado, o IT tem sido dos mercados que mais cresce nos últimos anos. O que é que os Parceiros devem ter em consideração para se prepararem melhor para esta realidade?

Sim, existe um risco potencial de recessão. Há um conjunto de análises que dizem que provavelmente será uma recessão ligeira porque, especialmente na Europa, a inflação é impulsionada pelos custos de energia, que é o resultado de alguns problemas a curto prazo. Provavelmente, os bancos centrais que agora estão a aumentar as taxas de juro vão reduzir a pressão assim que virem a inflação a descer. Ainda assim, se a recessão não abrandar, acredito que o setor de IT está numa posição muito boa porque, se olharmos para os gastos do consumo, os consumidores estão a virar-se mais para os gastos fora de portas depois de muito tempo a gastar dentro de portas; estão agora a gastar em restauração ou viagens. Mas o gasto geral é muito maior do que em 2019.

O ponto muito bom está na digitalização das empresas e do Estado. A pandemia, por um lado, e os fundos do NextGenEU, por outro, estão a fornecer um novo mindset para as empresas e não há só um investimento conduzido pelo governo, mas também há muitos investimentos pelas próprias empresas que estão a reinventar a forma como fazem negócios eletrónicos com os seus clientes, com os seus fornecedores, com o governo e com os seus próprios colaboradores. Isto está a trazer muitas oportunidades em cibersegurança e em cloud, mas também na infraestrutura tradicional e até em coisas básicas como soluções de videoconferência, em mobile, em PC. Estamos muito positivos com a infraestrutura.

No segmento empresarial, acho que os resellers terão muitas oportunidades de crescimento. Não nos podemos esquecer que, possivelmente, haverá redução em volume em determinadas áreas, mas os preços dos produtos estão a subir; o resultado líquido em termos de receitas poderá ser muito positivo para os nossos clientes e para a indústria.

Provavelmente teremos mais alguns desafios no segmento de consumo durante algum tempo, mas, uma vez mais, vamos ter muitas promoções para reduzir os níveis de stock. Isto vai contrabalançar a potencial recessão. Acreditamos que serão tempos de oportunidades.

Qual será o papel da Esprinet para ajudar os Parceiros a se prepararem?

Vamos fornecer pessoas que vão sugerir as tecnologias e vamos ter os produtos certos em stock. Vamos fornecer, como já temos vindo a fazer, uma boa fonte de financiamento e, em cima disso, vamos meter mais e mais serviços no mercado para o Estado e temos a possibilidade de fornecer serviços para os resellers que querem participar nos concursos; podemos instalar e preparar as máquinas para distribuir, colocar na máquina peças específicas de software e add-ons fornecidos pelos resellers. Estamos a preparar o lançamento do nosso programa de renting para que os resellers também tenham esta oportunidade. Temos os nossos sistemas e serviços para as plataformas de e-Commerce. Estamos, em termos gerais, a posicionarmos como um outsourcer para algumas atividades que, para alguns resellers, já não são o seu core business.

Quais são os objetivos da Esprinet para o futuro?

Começámos a nossa atividade em Portugal como um mercado dentro da atividade espanhola. Entretanto, separámos completamente naquilo que chamamos a ‘portugalização’ das nossas atividades com a criação da entidade legal. Neste momento, temos duas entidades legais: uma para produtos de volumes – PC, impressoras, acessórios e eletrónica de consumo – sob a marca Esprinet Portugal; e uma para data centers, cibersegurança, cloud, soluções de software sob a marca V-Valley Advanced Solutions Portugal.

Criámos uma entidade legal, abrimos um armazém e a logística é gerida a partir de Portugal. O próximo passo será, provavelmente, ter certas porções do nosso sistema de IT geridos diretamente a partir daqui. A empresa atingiu os 18 anos e temos mais de 50 pessoas. Devemos chegar aproximadamente aos 140 milhões de euros de receitas e servimos cerca de oito mil resellers.

Para o futuro… em Itália e em Espanha temos cerca de 40% de quota de mercado. Em Portugal estamos perto dos 10% e a ideia é continuar a crescer em volume, assim como no espaço de soluções organicamente. Mas também com aquisições se encontrarmos os Parceiros certos.

O objetivo a médio prazo ideal é atingir a mesma quota de mercado que temos em Itália. Precisámos de 14 anos para atingir esse resultado em Espanha. [Em Portugal], estamos agora à volta dos 10% após sete anos. Ainda temos espaço para percorrer, mas também temos tempo para o atingir. Pode ser que com algumas aquisições possamos acelerar este progresso e a ideia para nós é ser o melhor distribuidor em termos de satisfação do cliente.

Essas aquisições de que fala serão em Portugal? O que é que pode partilhar sobre o tema?

O nosso grupo acredita em satisfação do cliente, mas também acredita que, para fornecer uma boa satisfação do cliente, tens de conhecer intimamente o país; é preciso falar a língua do país, não apenas a língua em si, mas também tudo o que o mercado específico verdadeiramente precisa. Para o fazer em Portugal, precisamos dos portugueses e precisamos do melhor talento. Algum desse talento já trabalha connosco; algum ainda trabalha com os nossos concorrentes.

A ideia é, excluindo as outras multinacionais, enviar uma mensagem para as empresas detidas por portugueses. Somos uma entidade inclusiva, muito respeitadora. As aquisições que fizemos, as pessoas – a gestão e os colaboradores – ficaram connosco e, quase sempre, com cargos importantes dentro do grupo, até a nível corporativo.

Estamos a procurar empresas que tenham uma boa cobertura do mercado, que tenham uma boa reputação em termos de serviço ao cliente e uma boa reputação em frente ao fornecedor, à comunidade de fabricantes, tanto em termos de volumes de negócio como no negócio de data center.

Não temos um requerimento específico em termos de tamanho que podemos comprar. Claro que temos de fornecer valor para os nossos investidores e o preço tem de estar alinhado com o preço que os investidores dão, em média, para o distribuidor; não se pode esperar pagar demasiado, nem muito pouco, o preço certo.

Podemos comprar qualquer tamanho em Portugal e estamos dispostos a fazê-lo. Temos preferência pelo espaço de soluções, mas adorávamos ter oportunidades também nas empresas que nos podem fornecer um grande número de clientes. É isso. Há algumas entidades por aí; estamos aqui se quiserem. Sabemos por experiência que, mais tarde ou mais cedo, algo acontece, leva tempo. Como disse, atingimos os 140 milhões de euros e mais de 50 pessoas e acreditamos que ser humildes, mas com uma clara luz guia, representada por satisfação de cliente, podemos trazer bons resultados para o mercado e o mercado para nós. Há empresas que se adequam a este critério disponíveis em Portugal; não centenas, mas algumas delas. Veremos se temos sucesso nisso.

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