Jorge Bento e Diana Ribeiro Santos em 2022-6-21
Neste mês, o IT Channel dá a palavra a Rui Ribeiro, General Manager da IP Telecom, a empresa que assegura em boa parte a espinha dorsal das telecomunicações em Portugal, mas é também, e crescentemente, o cloud provider nacional que endereça soluções ao tecido empresarial português
A IP Telecom tem origem nas telecomunicações, sendo o backbone de muitas redes em Portugal. De forma resumida como foi a jornada desde a pura infraestrutura de redes à atual IP Telecom com oferta de cloud provider? Somos uma empresa low profile porque gerimos muito daquilo que são as infraestruturas críticas nacionais e também porque somos 100% constituídos de capitais públicos. Não somos disruptivos no mercado e não andamos em guerras comerciais. O nosso papel é o do equilíbrio e da garantia da estabilidade e qualidade do serviço que no fundo são os nossos investimentos. Nós investimos na qualidade das nossas equipas, na qualidade do serviço e ao mesmo tempo, do ponto de vista de investimentos, em novas tecnologias. Nestes 20 anos de história, fomos desenvolvendo duas grandes unidades de negócio: o negócio do retalhista de fibras óticas, redes de alto débito e ainda os nossos data centers. Atualmente, temos três data centers interligados a funcionarem exatamente como um só naquilo que é a nossa linha IPT Cloud, portanto, uma cloud nacional. Esta foi uma jornada longa com aquilo que são os constrangimentos de uma entidade de capitais públicos, embora com autonomia de gestão. Oferecemos ainda outro valor acrescentado a quem trabalha connosco, inclusive aos operadores de telecomunicações, que é a estabilidade acionista, tanto para uma empresa que põe o seu negócio sobre as infraestruturas, quer para as telecomunicações. As empresas têm de saber onde é que têm os seus dados e que não vão acordar um dia com alguma surpresa. Como carateriza a oferta cloud consolidada no conceito a que chamaram de IPT Cloud? A nossa cloud caracteriza-se por aquilo que é o típico dos três níveis de cloud - o IaaS, o PaaS e o SaaS - sendo que nós somos fortes no IaaS, é o nosso ADN. Damos capacidade de computação, de armazenamento e de temas ligados à cibersegurança e os nossos clientes pedem-nos aquilo que são infraestruturas de Platform-as-a-Service para desenvolverem as suas aplicações.
Do ponto de vista de SaaS, nós não desenvolvemos software, são os nossos Parceiros de software houses que o desenvolvem e que utilizam a nossa infraestrutura como um serviço para disponibilizarem o seu software. Com a IPT Cloud, hoje, temos de facto aquilo que as hyperclouds têm que se prende ao facto de criar aquilo que é uma verdadeira zona cloud, ou seja, eu tenho três data centers que reagem como um só e, portanto, um cliente pode ter o seu data center onde quiser, o seu data center primário, e saber que à distância de um clique tem o seu data center, caso assim o pretenda, em Lisboa, no Porto ou em Viseu. Num modelo de negócio que depende de uma infraestrutura física de fibra relativamente protegida da concorrência externa, para o negócio de cloud provider, que é por definição global, quais são os elementos diferenciadores da IPT Cloud face a outras ofertas? Um dos principais fatores diferenciadores é a proximidade. Não há clouds perfeitas e é quando existe alguma coisa que corre menos bem que se percebe a diferença entre estar a interagir com uma entidade que tem um rosto e que está à distância de um telefonema versus alguém que está do outro lado do mundo e que não sente a dor, ainda para mais quando se fala da dimensão de qualquer empresa portuguesa face à escala mundial. O segundo grande fator está relacionado com o tema da latência das comunicações e nós aí beneficiamos do facto de sermos um provider de telecomunicações, ainda para mais na rede de alto débito do país. Não há ninguém em Portugal que tenha as velocidades, do ponto de vista de latência, como nós temos. Tal destaca-se claramente das hyperclouds que andam com as chamadas arquiteturas Edge Computing para tentar minimizar este problema de latência que em situações de Internet of Things, produção de fábricas e afins é de facto um desafio. Por outro lado, se o cliente tiver essa preocupação, a realidade é que os dados que estejam na nossa infraestrutura, no limite, podem ser visitados. Os nossos data centers estão abertos aos nossos clientes e potenciais clientes, obviamente porque este sentimento de pertença é ainda muito forte na indústria. Nenhum operador regional de serviços cloud pode competir com a velocidade de inovação dos top providers. Como é que a IPT Cloud pode ser complementar a esta oferta e onde se pode constituir como o principal provider de um cliente? O objetivo não é competir com os grandes, nós temos a nossa relação de proximidade com os nossos clientes e é preciso perceber e estudar o que é que eles necessitam, porque ainda existe um desfasamento - que nós procuramos acelerar - entre aquilo que éuma oferta edge of technology dos top providers e aquilo que é a realidade de hoje. E este é o nosso foco, as realidades empresariais que têm muitas vezes 30 ou 40 anos e que têm inúmeras pessoas que ainda precisam de fazer processos de transição digital e que nem querem saber de cloud. Ainda existe este mercado e este processo de transição para a cloud é uma das nossas vantagens. Temos processos de inovação incremental até internamente. Nos últimos cinco anos, fizemos a renovação de toda a rede nacional, de transmissão de dados, de voz, etc.. Do ponto de vista do modelo de inovação, estamos a trabalhar em processos para um, cinco e dez anos. Estamos a desenvolver e a integrar projetos em comunicações quânticas, ou seja, no fundo é garantir aquilo que são modelos de segurança de comunicações porque a computação quântica está aí. Estamos integrados em vários consórcios europeus e em programas como o Gaia X onde fomos o único day one member naquele que é uma associação europeia de data centers para garantir que os dados ficam residentes no data center de origem. Temos várias linhas de desenvolvimento e de inovação incremental. Em alguns casos fazemos o follow the leader, mas, acima de tudo, temos noção daquela que é a realidade nacional, garantindo as comunicações. As nossas comunicações, a nível nacional, são uma espécie do nosso sistema sanguíneo onde vamos colocando algumas inteligências. Redundância, resiliência, segurança e cibersegurança. Quais as “credenciais” que a IPT apresenta ao mercado nacional? Do ponto de vista de cibersegurança, já há muitos anos que trabalhamos com várias soluções. A IP Telecom através de, e porque coordena toda a parte de cibersegurança do grupo infraestruturas de Portugal, está completamente alinhada e apoia toda a lógica estratégica nacional.Em 2019 aprovámos e divulgámos aquele que é o nosso plano estratégico de 2019-2023 que estamos a realizar e onde temos um conjunto de ações e linhas de orientação. Do ponto de vista prático, temos um conjunto de atividades internas para a IP Telecom e para o grupo Infraestruturas de Portugal, bem como a lógica de ecossistema, isto é, nós só seremos seguros se tudo à nossa volta for seguro. Estamos a melhorar o serviço 24x7 que tínhamos para a monitorização de toda a nossa infraestrutura de redes e cloud, disponibilizar também agora esse mesmo serviço para a monitorização de ambientes de cibersegurança dos próprios clientes, uma vez que esta também é uma das grandes dificuldades das empresas.
Prestamos este serviço aos nossos clientes onde tipicamente disponibilizamos aquilo que são ferramentas que nós próprios utilizamos na IP Telecom e nas Infraestruturas de Portugal, desde sistemas que fazem encriptação dos documentos em que eu posso enviar um documento ou um e-mail e tenha a certeza de que só o destinatário escolhido é que o vê, sistemas que detetam quando é feito forward fazendo com que o documento se autodestrua ou sistemas que impossibilitam a impressão. Estamos neste momento com um projeto de uma solução de messaging altamente segura, temos sistemas de alarmística, sistema de defesa DDoS, o controlo e tracking de quem é que acede ao quê dentro das próprias organizações, entre outras ações. Quais são os principais mercados verticais para a IPT Cloud? Não temos, é transversal. A nossa infraestrutura é completamente agnóstica ao setor. Assim, acabam por ser os nossos Parceiros que são mais especializados na área da saúde, na área financeira, na área das utilities, etc. a fazer essa mesma verticalização. Qual é a proposta de valor que a IPT cloud oferece aos seus Parceiros e qual a relevância deste Canal indireto para a estratégia da IP Telecom? Ao nível dos Parceiros, na IPT Cloud temos aquele que é o IPT Partner Program. Enquanto IP Telecom não fazemos managed service de clientes, ou seja, de forma figurativa, estamos concentrados em construir carros, queremos garantir que o motor é fiável, resiliente, estruturado, bem oleado, mas o serviço ou a forma como se conduz o carro é feita pelos nossos Parceiros e, portanto, esta é a filosofia que está por trás da nossa forma de atuar em termos até de Canal. Temos três níveis de Parceria: Silver, Bronze e Platinium e mediante o nível de commitment, os Parceiros têm um conjunto de benefícios como é o caso da participação em eventos, promoções de marketing, descontos maiores de price list, etc.. Temos um portal específico para os nossos Parceiros onde é permitido registar as oportunidades e fazer um acompanhamento de todo o processo da jornada de venda do projeto. Cada vez mais os nossos Parceiros são mais autónomos e esta relação de confiança é fundamental. Trabalhamos com os nossos Parceiros e não fazemos o bypass. Numa renovação de serviço, vamos sempre através do Parceiro.
Neste momento, o Canal de Parceiros na cloud representa cerca de 20% e o nosso objetivo é chegar pelo menos aos 50%. A nossa estratégia de venda é indireta e o nosso crescimento vai passar pelo crescimento dos nossos Parceiros. Esta estratégia foi definida a dois anos e meio e começamos agora a perceber que, de facto, está a ter retorno. O nosso objetivo é ter na área da cloud, pelo menos, 50% das nossas vendas em meados de 2025/2026, através do Canal. Tudo aquilo que seja setor privado, com exceção do que vier detrás, pretendemos canalizar para os Parceiros. No que diz respeito ao setor público, esse é o nosso ADN, sendo que em muitos dos negócios, atualmente, já subcontratamos muitas vezes a tal lógica de managed services. Como vê a evolução deste mercado, que é muito dinâmico? Qual é o papel da IP Telecom neste futuro próximo? Queremos ser o provider das comunicações e da cloud nacional, queremos ser aquele que é reconhecido como o porto seguro do país. Nós não somos grandes como outros, mas queremos ser conhecidos como aquela empresa que garante, ainda que em modo silencioso, muito daquilo que se passa a nível nacional. Na IP Telecom não queremos ser notados, porque caso tal aconteça, dever-se-á, tipicamente, a maus motivos. Felizmente, Portugal tem passado bem o que também acaba por ser sinal de que as comunicações da IP Telecom e da IPT Cloud também estão bem. E queremos continuar assim. Estamos a crescer na cloud a 30%. Queremos investir na inovação e evoluir tecnologicamente. A geração cloud anterior foi lançada em 2012, portanto, passados dez anos, estamos a lançar uma nova cloud, e provavelmente daqui a dez anos estamos a lançar uma nova geração. Neste espaço de tempo vamos continuar, obviamente, a evoluir e a investir em tecnologia, em inovação e em Parcerias, não só em Parceiros comerciais, mas também em Parceiros do ponto de vista de investigação e desenvolvimento. Acima de tudo, que sejamos reconhecidos como uma empresa credível, segura e com qualidade de serviço. |