Rui Damião em 2020-4-24
A formação técnica já não é o mesmo que era há uns anos. O crescimento das plataformas online deu mais poder de escolha aos utilizadores que procuram estas soluções. Jorge Lopes, Diretor na Rumos Formação, tem a palavra na edição deste mês do IT Channel
Jorge Lopes, Diretor na Rumos Formação
Qual é a história da Rumos? A atividade da Rumos começou em 1992 dedicada à formação. Na génese esteve a formação profissional. Depois, começámo-nos a diversificar; fomos crescendo organicamente, mas, em certas alturas, a única forma de crescer era por aquisições. O nosso ADN sempre foi a formação tecnológica; foi aí que nascemos, é aí que estamos e que temos estado sempre. Começámos com Cisco, com Microsoft, e, entretanto, fomos crescendo. Fomos fazendo Parcerias. Normalmente são mais multinacionais, mas não quer dizer que não tenhamos Parcerias locais também. São sempre Parcerias que nos aparecem, que vão ser uma mais valia para o nosso mercado. São vocês que propõem fazer as certificações junto dos fabricantes, ou são as próprias fabricantes que vos pedem para fazer essa certificação? Um exemplo recente de um fabricante que não existia e que acabámos por introduzir no plano da formação, foi a Amazon Web Services [AWS]. A área de cloud era completamente nova; a Microsoft já está instalada nesta área há algum tempo e, hoje, juntamente com a Google, são os três principais Parceiros de cloud. Hoje em dia, os Parceiros e as empresas, os clientes finais, procuram este tipo de áreas, porque são áreas que estão a explodir e essas certificações e formações são importantes. Quando fazemos estas Parcerias, já englobamos o aspeto da formação. Se estivermos a falar numa Microsoft, é ela que elabora, que faz a conceção dos conteúdos da formação. Temos que certificar também os nossos formadores naquelas tecnologias. Depois, o exame em si, as certificações que permitem que um determinado profissional do setor tenha uma determinada certificação num produto. No caso da Microsoft, o Parceiro que entrega os exames chama-se Pearson Vue e é uma entidade cuja finalidade principal é terem uma rede de Parceiros a nível mundial que depois fazem a entrega dos exames. Os exames são criados em conjunto com as tecnológicas. Tivemos fases em que os exames tiveram mais ou menos credibilidade porque era uma das questões importantes. É importante que a certificação seja um reflexo real do conhecimento que o profissional adquiriu e tem. Houve um período em que as certificações perderam um bocadinho o valor. Tornaram-se, talvez, mais fáceis de passar e, portanto, não eram tão exigentes e as pessoas podiam não ter todo o conhecimento que eventualmente aquela certificação deveria demonstrar ou evidenciar. Atualmente, estes operadores trabalham muito próximo dos fabricantes de tecnologia para que os exames utilizem uma série de técnicas para que sejam mais difíceis e, ao mesmo tempo, também sejam muito mais valorizados. Existem diferenças de fabricante para fabricantes, mas, por norma, a formação e a documentação utilizada já está pré-selecionada pelo fabricante e a Rumos é apenas o veículo do fabricante para entregar a quem, no fundo, interessa? Justamente. Na nossa oferta, temos um conjunto de produtos ligados aos fabricantes. Esses fabricantes, por regra, têm a sua própria documentação; elaboram um sílabo, um conteúdo do curso. Também desenvolvem a própria documentação, e somos um veículo; os nossos formadores estão habilitados a entregar aqueles cursos. Existem basicamente dois modelos, mas em qualquer um deles, compramos, adquirimos ao fabricante esse material, para depois ser entregue em sala virtual ou em sala física onde entregamos esse manual, a formação e o serviço. Referiu sala virtual e física… há cerca de um mês ninguém pensava que estaríamos todos a trabalhar remotamente. Perguntava-lhe se a atual situação do COVID-19 teve impacto nas vossas operações, ou se já estavam habituados a dar formações à distância? O modelo assíncrono, que tinha até agora uma dimensão mais pequena, conta no mercado com uma série de players que entregam conteúdos de e-learning; nós próprios também temos esse tipo de modelo, que já desenvolvemos nos últimos anos. Esse modelo síncrono, chamamos de live training, live online, virtual training; há uma série de designações no mercado para esse tipo de modalidade. Já o fazemos há volta de dez anos. Quando começámos a desenvolver esse modelo, queríamos servir determinadas localidades onde não tínhamos centros de formação. “GARANTIDAMENTE, VAI EXISTIR UM CAPÍTULO NOVO NA FORMAÇÃO À DISTÂNCIA, EM QUE ESTAS METODOLOGIAS VÃO GANHAR UMA ESCALA E UMA DIMENSÃO MAIOR” Depois, temos, na oferta formativa de cada fabricante, formações mais de entrada, com a parte mais fundamental nas diversas ferramentas e vamos tendo formações mais avançadas e algumas especializações. Normalmente, a procura das formações mais avançadas é bastante menor e, às vezes, era difícil conseguirmos realizar uma formação se precisássemos de ter o mínimo para poder avançar com um curso, se estivéssemos só a contar com os formandos locais de cada centro. Esta solução permitiu-nos chegar a outros sítios e conseguir cumprir as expetativas dos nossos clientes porque conseguíamos juntar uma série de pessoas e reunir o número de formandos suficientes para garantir a entrega da formação. Por isso, não fomos… quer dizer, fomos apanhados de surpresa, como é óbvio, mas já tínhamos esta solução. Quando ficámos a perceber que muito rapidamente iriam ser tomadas medidas mais drásticas, passámos cerca de 300 formandos de uma situação de entrega em sala para uma situação à distância. Atualmente, há uma oferta muito maior do que existia quando a Rumos começou, fruto das plataformas de aprendizagem à distância. Como é que a Rumos vê e se adaptou a esta realidade? Os cursos online têm uma oferta gigantesca em todo o mundo, mas não sei se existem estatísticas fidedignas de qual é a taxa de sucesso ou de conclusão deste tipo de cursos. Temos uma plataforma de conteúdos de e-learning mais vocacionados para o utilizador final, em que o core da oferta é o Office da Microsoft. Temos alguma experiência nessa matéria, mas, na parte tecnológica, a experiência diz-nos que as taxas de conclusão, se tiverem dois dígitos, já não estamos muito mal. Encaramos esse tipo de plataformas quase como uma oportunidade. Aquilo que temos visto é que, por ser gratuito, as pessoas inscrevem-se, fazem, e muitas vezes não concluem o curso. Quase todos os fabricantes começam a ter este tipo de abordagens e aquilo que vamos tentar fazer é aproveitar estas oportunidades, estas plataformas e juntar alguns serviços – que não são gratuitos – e conseguir com isso ter, também, uma outra solução assíncrona. Há uma maior procura por empresas ou por profissionais em nome individual? Quais são as grandes diferenças entre estes dois tipos de clientes? Naquilo que diz respeito à formação tecnológica, quando estamos a falar no nosso universo e nas Parcerias, diria que não vejo assim uma diferença muito grande entre aquilo que são os profissionais por iniciativa própria e as empresas. Quando me perguntou acerca do impacto desta crise na formação à distância, sentimos, numa primeira fase, que as empresas foram aquelas que mais rapidamente suspenderam as formações. Há outras empresas que continuaram a utilizar este modelo porque já o têm enraizado na forma como os seus colaboradores fazem formação. As pessoas, de uma forma geral, mantiveram-se. Estas metodologias que já existiam já tinham alguma procura. Já investimos no e-learning há algum tempo, até no sentido de o tornar mais eficaz e mais motivador para quem está na formação. Vai existir uma situação do antes e do depois desta crise para todos. Nesta parte da formação à distância, garantidamente que vai haver um capítulo novo, em que estas metodologias vão ganhar uma escala e uma dimensão maior. Nada do que estamos a fazer hoje pode ser comparado com aquilo que fizemos há 28 anos, em que era tudo muito tradicional, muito entregue em sala, com o manual em papel… já passou. |