2017-2-21

ENTREVISTA

“A formação é o pilar mais sólido da presença das empresas nos respetivos mercados”

João Rodrigues, que até agora desempenhava a função de vice-presidente de IT Business, é o novo country manager da Schneider Electric Portugal. O gigante Europeu, uma das 100 maiores empresas a nível mundial, é incontornável num cenário onde o IT e a Energia estão cada vez mais integrados

“A formação é o pilar mais sólido da presença das empresas nos respetivos mercados”

João Rodrigues, country manager da Schneider Electric (Fotografias: Rafael Antunes)

IT Channel - Como foi o ano de 2016 para a Schneider Electric?

João Rodrigues - O que poderemos desde já adiantar é que o ano de 2016 foi um ano de sucesso do ponto de vista da sustentabilidade da nossa operação local. Sempre fomos detentores de uma operação sólida, rentável, e 2016 cumpriu com o esperado. O ano de 2016 foi uma vez mais um ano em que a nossa operação se demonstrou sustentada, bem gerida e, portanto, garantindo o futuro.

Tendo em conta que o mercado em 2016 não esteve na sua melhor forma, como é que a Schneider Electric sentiu este efeito?

Durante o ano passado, a Schneider Electric esteve, sobretudo, sob uma série de grandes influências, a começar pelos mercados externos, onde nos movimentamos e que, pelas suas caraterísticas próprias, enfrentrou sérias dificuldades ao longo de 2016. Outro fator importante prendeu-se com o investimento público e com o facto de algumas expetativas não se terem confirmado, visto que o governo optou por canalizar as verbas disponíveis para outras áreas que não o investimento. Devido a este fator, sentiu-se no tecido empresarial, industrial e ao nível de todas as entidades que operam no nosso país, algum receio. As empresas mantiveram-se na expetativa para verificar se a situação política estabilizava, o que levou a um momento onde operou alguma falta de confiança, ou seja, falta de decisões. Outro dos fatores, que no meio dos já enumerados foi bastante positivo, é o facto de Portugal neste momento ser um destino bastante popular, seja pelo turismo, seja por acolher diversos eventos de extrema importância mundial, como é o caso da WebSummit, que recebeu 50 mil participantes. Mesmo a Bloomberg, um meio de prestígio, já referiu Portugal como um possível próximo “paraíso” para startups. Para contribuirmos para isto é necessário mantermo-nos positivos, otimistas, encararmos as dificuldades e tentar encontrar soluções, de modo a que sejam criadas as condições para tal.

Como vê o mercado em 2017?

As nossas perspetivas para 2017 são, sobretudo, conseguir gerar crescimento em todas as nossas áreas de negócio. Somos uma empresa grande, contamos com 170 mil funcionários e com um de volume de negócios de 25 mil milhões de dólares em todo o mundo. Logo, se não nos organizássemos internamente de forma a termos um discurso especializado capaz para cada um dos mercados onde trabalhamos, perderíamos a capacidade de mostrar aos clientes as nossas mais-valias, ou seja, a proposta de valor que temos para cada um deles. É por esse motivo que nos organizamos em quatro áreas de negócio  que para nós, em Portugal, por motivos diferentes, pela segmentação que fazíamos e pelo trabalho que realizamos, encaramos como oportunidades de gerar crescimento. Este é um otimismo pragmático: não pensamos que de repente teremos um crescimento desmedido, mas estamos muito expectantes quanto a 2017.

Dentro dessas quatro áreas, qual deverá crescer mais?

Fruto da atual situação de carteira de encomendas que temos neste momento, prevemos que a área que crescerá mais do ponto de vista percentual seja a da energia, mais associada à distribuição de soluções de energia e média tensão, mas fruto de uma encomenda bastante específica que a Schneider Electric teve, no âmbito de um projeto internacional que será fornecido a dois anos. Este é um projeto muito interessante que nos dará esta capacidade de crescimento nesta área específica.

Na área de Industry também vemos oportunidades: menciona-se bastante a indústria 4.0 e todos estes drivers de aceleração da performance das atividades, mas claramente há imenso trabalho a ser desenvolvido, produtos novos a serem lançados que nos permitirão, sem dúvida, ser ambiciosos no seu crescimento. E, finalmente, na área de Buildings, que, lançando produtos novos, novas ofertas, continuando a trabalhar com os nossos Parceiros comerciais, nos permite pensar que realmente continuaremos este movimento ascendente.

Hoje assistimos a um efeito bastante significativo da renovação das cidades e não apenas de Lisboa ou Porto, que são as cidades que estão a tirar mais partido desta renovação. Braga, Aveiro, ou Coimbra também se inserem no grupo de cidades que estão a beneficiar da influência desta nova dinâmica que Portugal está a obter. Estes são os mercados da renovação, construção de qualidade, já não de construção massificada (como fora já nos anos 80 e, principalmente, nos anos 90) e onde obviamente já vemos oportunidades de negócio a surgir.

Felizmente, e apesar das dificuldades ao nível dos mercados externos, os nossos Parceiros e aqueles com quem trabalhamos com grande proximidade demonstram-nos a possibilidade de sermos também otimistas na melhoria desses fluxos de negócios. Logo, tudo isto agregado faz com que sejamos pragmaticamente otimistas na visão de 2017 em relação às quatro unidades de negócio.

O que prevê para o IT este ano?

Na área do IT, claramente verificamos que o mercado dos data centers, que teve o ano passado um momento difícil, tem condições para este ano voltar a ter um desempenho à luz daquilo a que nos habituou. Vemos condições para tal. Naturalmente que crescer, ou não, resulta do lançamento de programas e de trabalho específico, que as nossas equipas implementam em conjunto com os nossos Parceiros de negócio, que são fundamentais. E nós temos muitos Parceiros relevantes.

Em relação aos Parceiros de IT, que estratégia tem a Schneider Electric delineada para 2017?

Continuaremos, sem dúvida, a trabalhar no Canal informático da área do IT com grande insistência, pois consideramos que é fundamental para nós. Procuraremos chegar a mais clientes, a mais integradores, revendedores e a mais entidades, com uma melhor oferta de valor. Dar mais formação a estas entidades é absolutamente fundamental. A formação é o pilar mais sólido da presença das empresas nos respetivos mercados e, nesse sentido, não há dúvida de que apostaremos fortemente na formação de forma a solidificarmos estas relações que são, felizmente, naturalmente fortes.

Também no que diz respeito aos Parceiros do Canal de IT, gostaria ainda de referir os Parceiros certificados, aqueles que detêm competências muito específicas na área da aplicação em data centers, área onde é fundamental que a formação se mantenha. Considero que é sempre possível melhorar aquilo que já está bom e, deste modo, o objetivo é o de continuar a investir em programas de formação e no desenvolvimento de trabalho conjunto com os Parceiros.

Finalmente, ainda dentro do mercado de IT, mas muito próximo do setor elétrico, temos um conjunto de ofertas de energia segura, muita aplicação industrial. Continuaremos a apostar nessa área, temos programas específicos para tal e, portanto, chegaremos ao cliente final prescrevendo soluções globais da Schneider Electric, as respetivas UPS de grandes potências, onde nos preparamos para lançar novos equipamentos e reforçar as nossas ofertas.

Onde vê as maiores oportunidades: na energia ou na infraestrutura de data center?

A evolução que os mercados alcançaram e que estão a conseguir alcançar leva a que cada vez mais faça menos sentido falar em ambos separadamente. Aquilo que atualmente se verifica é uma grande migração, aproximação, convergência, entre o mundo elétrico e o mundo do IT. Fruto de toda a evolução que tem acontecido nos mercados, onde há cada vez mais dispositivos conetados e cada vez mais informação sobre os respetivos dispositivos, possibilita-se que estes dois mundos estejam interligados, gerando um novo mundo mais capaz, onde há muito mais oportunidades. Este tornar-se-á um mundo muito colaborativo, onde já não existe uma separação entre a energia e o IT. Hoje tomam-se decisões integradas que permitem realmente defender e melhorar a operacionalidade, a sustentabilidade e o futuro das organizações, sejam elas edifícios, data centers ou indústrias.

Quais foram as quotas de mercado obtidas no mercado de UPS e data center?

Nós orgulhamo-nos bastante da quota de mercado que temos ao nível da aplicação em data center. Nas soluções UPS para aplicação de energia segura, sentimos que temos espaço para fazer melhor. Ocupamos a primeira posição nos data centers. Ao nível das UPS, nomeadamente nas mais ligadas a aplicações informáticas (pequenas UPS, pequenas potências), somos também líderes de mercado, enquanto nas UPS mais relacionadas com a aplicação industrial não constatamos a liderança do mercado e, nesse sentido, considero que ainda poderemos fazer melhor.

Que oportunidades é que a Schneider Electric encontra na Indústria 4.0?

Não vemos a Indústria 4.0 como uma revolução mas mais como uma evolução, provocada naturalmente pelos respetivos mercados, entre outros fatores. Por outro lado, a Schneider Electric já se encontra no auge da inovação há bastante tempo, dentro do perímetro industrial e tem, entre muitos outros, dois casos que são prova disso. Nos anos 90 lançámos o conceito de transparent factory, que foi bastante importante na altura. De forma sintética, significa levar a produção para a administração, ou seja, dotar a administração da unidade industrial de um conhecimento de tudo o que se passa a nível da produção. Hoje este conceito é intitulado de 4.0, ou indústria, mas na altura chamava-se transparent factory, que foi o conceito que nós lançamos nos anos 90.

Já mais recentemente, a Schneider Electric foi responsável pelo lançamento de umautómato industrial, o Modicon M580, que foi o primeiro a incluir de raiz uma porta de Internet, que foi premiado e reconhecido. Nós estamos nos primórdios da Indústria 4.0 há muito tempo, lançámos conceitos bastante interessantes e pretendemos continuar a fazê-lo.

A Schneider Electric investe ainda 5% do seu volume de negócio global em investigação e desenvolvimento, que nos permitem estar permanentemente a lançar novas ofertas, novas aplicações, novas ideias. Por outro lado, fruto de aquisições que temos vindo a concretizar temos vindo a preparar-nos para sermos cada vez mais capazes de levar para os nossos clientes, em relação à área de Industry, uma oferta integrada em que, desde o equipamento que na linha de produção monitoriza o estado dos respetivos equipamentos , até os equipamentos que agregam toda a informação sobre a produção, que nos permite fornecer um portfólio completo, pois o conceito de EcoStruxure é bastante importante para nós. É o conceito que está por cima de todo este tipo de aplicação, seja industrial, em smart buildings, data centers. Conseguimos, portanto, com este pacote de software receber todas as informações do estado da respetiva produção.

Em relação à Industria 4.0, é através desta integração de todas as nossas ofertas que nos preparamos para levar conhecimento e valor acrescentado aos nossos clientes. É fundamental levar a nossa oferta para os nossos clientes, treinar as nossas equipas e treinar os nossos Parceiros de negócio específicos, pois é com esse treino que seremos novamente sustentáveis. Este é o pilar mais sólido da nossa presença nos mercados e é através desse treino que queremos levar.

Em resumo, vemos oportunidades, iremos trabalhar a nível das novas ofertas, com os clientes e levaremos até eles uma oferta integrada. Através de aquisições somos capazes de levar quase um discurso direto para o cliente final e integrar os nossos Parceiros na cadeia de valor, o que é absolutamente fundamental.


"Verifica-se uma grande aproximação entre o mundo elétrico e o mundo do IT"

Que balanço faz da aposta no mercado de micro data centers?

A nossa aposta em micro data centers continua a ser, a nosso ver, uma aposta adequada. O edge computing, o micro data center, parece ser quase o conceito inverso ao dos gigantes da Internet, dos mega data centers. Os micro data centers existem e são importantes pois são complementares, porque claramente têm um tipo de aplicação de proximidade que se integra, mesmo nas grandes organizações, com as suas estratégias de cloud, seja híbrida ou pública.

Nestes casos, o edge computing parece-nos ser absolutamente adequado. Por outro lado, o micro data center, para as tais empresas que a Bloomberg prevê que terão o seu “paraíso” em Portugal, as startups, é o ideal, pois reduz o volume de investimento inicial para o estritamente necessário. Tem a capacidade de ser modular e de ir crescendo à medida do crescimento da empresa. Este é para nós um conceito absolutamente atual e que é para ser mantido. Quanto à pergunta, posso dizer que neste momento está a correr bem, porque temos oportunidades em aberto que nos permitem pensar que concretizaremos algumas delas e que, portanto, seremos bem- -sucedidos. Continuamos, deste modo, a apostar nesta área de negócio.

E em relação à área de smart building?

Na área de smart building o conceito de EcoStruxure volta a ser muito importante, a par do conceito de inovação e dos novos equipamentos que serão lançados. Atualmente, a grande maioria dos nossos equipamentos são comunicantes. Uma das ofertas que foi lançada muito recentemente, ao nível deste tipo de equipamentos de smart panel, permite que um quadro elétrico também seja inteligente, com capacidade de dialogar com uma infraestrutura completa. Houve uma altura em que existia a ideia de que certos equipamentos não tinham a capacidade de ser inteligentes e há uns 20 ou 30 anos, efetivamente, os quadros elétricos integravam-se neste tipo de equipamentos que não teriam inteligência. Atualmente é possível introduzir inteligência nos quadros elétricos que, graças a esta vertente, ganham a capacidade de dialogar com uma infraestrutura completa.

Temos também muito boas referências ao nível de smart building e o hotel Evolution é um caso que espelha isso mesmo. O Hotel Evolution ficou bastante satisfeito com o resultado alcançado pois cumpre na totalidade aquilo que pretendia desde o início, e tornou-se uma referência para nós e um caso de sucesso do qual nos orgulhamos bastante. Este será um dos projetos que estará em destaque num evento interno que a Schneider Electric está a organizar em Barcelona. Outro dos exemplos de um edifício de referência que está equipado com soluções Schneider Electric é a nossa própria sede, em Paris, que foi o primeiro edifício do mundo a ser certificado com a norma ISO50001, uma norma relacionada com a eficiência energética. O edifício sede da Deloitte em Amesterdão é outra das grandes referências da Schneider Electric ao nível deste tipo de aplicações.

No fundo, a nível de smart building regemo-nos por quatro eixos fundamentais: os Parceiros, os clientes, a inovação e o incremento da experiência digital através da integração desta informação dos equipamentos, que numa plataforma específica, o EcoStruxure, dialoga com a realidade e comunica para o cliente e para o seu utilizador. Damos primazia a plataformas abertas, não pensamos nunca em plataformas fechadas, não restringimos a possibilidade dos nossos clientes, por terem a nossa aplicação, terem algum tipo de obrigatoriedade, pois não é desse modo que nos protegeremos a nós mesmos. Para nos protegermos necessitamos apenas de levar muito bom valor aos clientes e de forma aberta e transparente, dando-lhes sempre a possibilidade de perceber que está a trabalhar com quem merece e não porque algo está, de alguma forma, fechado.

Enquanto country manager da Schneider Electric, quais os seus objetivos pessoais?

Crescer com as pessoas. Isto é, sermos ambiciosos nos objetivos de crescimento, sermos ambos ambiciosos na forma como definimos os planos de trabalho para o ano, integrando sempre os nossos Parceiros e identificando de uma forma muito clara onde estão as oportunidades.

De uma forma muito séria e empenhada, procuraremos transformá-las em sucessos. Transformar em sucesso não significa apenas concretizar a venda, mas sim garantir a satisfação do cliente, porque depois da venda estar garantida existe uma infraestrutura para explorar e uma capacidade de continuarmos a levar serviço e  valor até ao cliente, através de uma atividade à qual chamamos “Field Service”, que no fundo são as atividades que suportam o cliente na pós-venda.

Isto não é possível de alcançar sem pessoas. Logo, é fundamental adotar um posicionamento de “customer centricity”. Não colocarmos os nossos colaboradores e as nossas equipas no centro de ação seria não só injusto mas também incorreto. Crescer com as pessoas é absolutamente o nosso lema para 2017.

A Schneider Electric está atualmente também num conjunto muito alargado de aplicações, e temos programas internos para desenvolver os nossos mercados.A energia, que é um bem necessário para a vida, hoje em dia não chega a mais de mil milhões de habitantes no mundo, e a energia não segura, isto é, não garantida pelo menos numa disponibilidade adequada, chega a cerca de 2300 milhões de habitantes, o que significa que quase um terço da população mundial, hoje em dia, não tem acesso a energia segura, sendo que existe uma fatia de habitantes que não tem sequer acesso a energia. Esta questão é absolutamente central na nossa ação, a Schneider Electric propõe-se a ajudar o mundo a resolver estes problemas através de soluções de energia segura, rentável, sustentável e garantida.

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