Rui Damião em 2020-3-23
Apesar de estar presente no mercado de cloud desde 2006, só em 2018 é que a AWS inaugurou escritórios em Portugal, tendo no último ano lançado um ponto de presença em Lisboa. Este mês, o IT Channel dá a palavra a Miguel Alava, Managing Director da AWS responsável por Portugal e Espanha
Miguel Alava, Managing Director da AWS responsável por Portugal e Espanha
Como é que vê o mercado português de cloud? Não poderíamos estar mais felizes com a evolução do mercado português desde que abrimos o escritório em setembro de 2018. Desde as boas-vindas que tivemos, as instituições públicas, os nossos clientes, os nossos Parceiros... tem sido fenomenal. Vemos o que está a acontecer em Portugal e descobrimos que há uma inovação no ecossistema que foi criada agora que está a impulsionar a economia e a sociedade portuguesa. Alguns eventos icónicos estão a acontecer aqui, como o Web Summit e muitos outros. Quando se olha para o talento formado em Portugal, essa é a receita certa para ter soluções inovadoras, como a Amazon Web Services, a contribuir para tudo o que está a acontecer. Começámos com os escritórios em setembro de 2018, mas já tínhamos clientes portugueses a utilizar a plataforma. Quando os serviços da AWS surgiram – começaram a oferecer serviços em 2006 para clientes em todo o mundo – já se podia consumir a tecnologia que oferecemos. Portugal foi um dos lugares onde, desde cedo, os consumidores utilizam essa tecnologia. Mas foi a adoção, os workloads, a procura dos clientes e dos Parceiros que nos fizeram abrir o escritório para ter pessoas locais próximas do ecossistema local, apoiar a migração e a inovação em que se inserem. Mais tarde, em 2019, lançámos um PoP, um ponto de presença, em Lisboa que oferece um dos nossos serviços, o CloudFront, para entrega de conteúdo que traz alguns outros serviços. Falou da disponibilização do CloudFront em Portugal. É de esperar que existam outros serviços ou funcionalidades mais focadas no mercado nacional? Todas as soluções oferecidas pela Amazon Web Services estão abertas ao mercado português. O que pode esperar é mais investimento do nosso lado. Investimentos em termos de ajudar o ecossistema de inovação, o programa Activate. Este programa apoia startups para desenvolver os seus negócios e apoiamos com créditos de até cem mil dólares, apoiamos com orientação técnica e comercial para que possam escalar e, eventualmente, tornar-se global, com suporte de marketing. Estamos a investir nisso e a trabalhar com fontes de aumento de capital, como a Indigo Capital, por exemplo, com aceleradores, como a Beta-I e Startup Portugal. Estamos a pressionar este ecossistema, ajudando a promover o que está a acontecer aqui. Também estamos a ajudar instituições académicas através de um programa que temos chamado AWS Educate. O que este programa faz é, na verdade, fornecer acesso gratuito aos alunos em treino em AWS e também lhes dá créditos para testar e fornecer um grupo de conceitos ou experimentar uma plataforma. Definitivamente podem esperar muito mais em 2020 e no futuro. Quais são as principais dificuldades do mercado de cloud em Portugal? O principal ponto de atenção é como as empresas estão a lidar com o legacy. O legacy pode vir de diferentes formas: pode ser legacy ou profundidade técnica; pode ser legacy cultural. Esse é o nosso ponto de atenção quando precisa de se transformar para utilizar um novo conjunto de serviços que o vão ajudar a inovar, e a inovar em nome dos seus clientes. Esta é a proposta da AWS; como pode mover os seus recursos, a sua atenção, para gerir algo que fornece a qualquer empresa uma vantagem diferenciada – como uma infraestrutura técnica – e como pode colocar esses recursos para inovar em nome dos seus clientes. Em termos do ponto de atenção, é preciso transformar, passar desse legado para uma nova maneira de fazer as coisas. É algo com o qual precisamos de lidar e normalmente vem de uma determinação executiva de o fazer. Normalmente há muito alinhamento entre executivos, negócios, tecnologia, de cima para baixo em termos de “ok, é assim que vamos fazer isto, é assim que nos vamos concentrar nos nossos clientes para entregar valor”. Também vem com objetivos agressivos. Vamos mover X aplicações em X dias; vamos transferir 50 aplicações em 50 dias para a cloud. Normalmente é o que ouvimos. Com esta determinação e este alvo agressivo, há outra coisa que é cada vez mais importante em todo o mundo, que é o talento. É como se vão treinar os colaboradores para utilizar uma nova tecnologia e como, nessa transformação que está a ocorrer, a linha ténue entre negócios e tecnologias pode ser ainda mais difusa e é importante que os técnicos compreendam o negócio. Fala-se cada vez mais em cloud híbrida e multicloud. Qual é a opinião – ou abordagem – da AWS nestes temas? A cloud híbrida é uma maneira de usar a cloud que existe e que vai existir por um tempo. Em muitos clientes com os quais lidamos, onde querem livrar-se dos ativos, dos data centers, as empresas querem mover toda a tecnologia e infraestrutura para a cloud. Em alguns casos, por qualquer motivo – pode ser conformidade ou regulamentação, podem ser razões financeiras para um conjunto de ativos que ainda não foram amortizados – é uma arquitetura que permanecerá por mais tempo. Haverá uma arquitetura híbrida – on-premises e cloud pública – em execução por um longo período de tempo, eventualmente para sempre. O que fazemos é desenvolver serviços que se focam e facilitam os clientes que desejam estar neste estágio. Um destes serviços é o Direct Connect que é uma linha, uma conectividade de ponto a ponto entre as instalações locais de um cliente e as nossas instalações. Também trabalhamos com Parceiros que realmente podem facilitar a migração ou a arquitetura que permanecerá lá por um tempo. Sobre a segunda parte da pergunta, a multicloud. Esta nova maneira de consumir tecnologia que agora é chamada de cloud, existe desde 2006. Em muitos destes 14 anos não tivemos nenhum concorrente; éramos os únicos que estavam a fazer isto. Uma vantagem que temos é que fazemos apenas cloud, é o que a Amazon Web Services faz. Este foco em fazer cloud é o que nos permite inovar a um ritmo muito rápido. Agora há mais concorrência e os clientes podem escolher entre diferentes clouds. Acreditamos que a concorrência é boa para os clientes. O que descobrimos também é que quando os clientes levam a sério a migração para a cloud, normalmente há um fornecedor para o qual a maioria dos workloads está a ir. Normalmente, os clientes estão a utilizar poucos fornecedores porque adotaram essa abordagem de ter um fornecedor duplo em tudo o que fazem. Tudo por causa do medo de ficar preso. Quanto mais fornecedores tiver, mais desfocagem terá. Isto diminuirá a capacidade de agir rapidamente na transição e na migração. É preciso treinar pessoas em dois fornecedores, por exemplo. É preciso ter um conjunto de operações, um conjunto de práticas que cubra poucos fornecedores. Um dos principais receios do Canal é de que, com a cloud, os fornecedores podem vender diretamente ao cliente final, eliminando o papel do Parceiro. Faz sentido este receio por parte dos Parceiros ou, por outro lado, o papel dos Parceiros nesta era da cloud está assegurado? É muito necessário. Para nós é absolutamente crítico para escalar. O facto de abrirmos este escritório deve-se ao nosso compromisso com Portugal e ao facto de os clientes assim o exigirem, mas também porque temos uma maior procura do que podemos aportar. É certo que é um modelo em que a tecnologia pode ser consumida de maneira self-service, onde as pessoas podem aceder ao portal e consumir tecnologia. Mas tudo o que acabámos de falar – como arquitetura híbrida – vão precisar, muito provavelmente, de um Parceiro de consultoria que ajudará essas empresas a organizar como é que a sua rede será arquitetada entre on-premises e a cloud. Vão precisar de pessoas que entendam como é que os temas serão estruturados, como serão operados, como serão treinados. Não vejo isto como uma ameaça, vejo isto como uma oportunidade fenomenal para os Parceiros criarem e trocarem valor com os seus clientes. Receberam um novo conjunto de serviços de tecnologia acessíveis a qualquer Parceiro; qualquer Parceiro, hoje, pode beneficiar disso. Na verdade, podem criar propriedade intelectual, novos serviços baseados na tecnologia que fornecemos. Esta é uma oportunidade para agregar valor, abrir novos segmentos, abrir novos verticais, aceder a novos clientes. Como está estruturado o Programa de Parceiros da AWS em Portugal? Temos um Programa de Parceiros que se chama Amazon Web Services Partner Network com vários níveis. Ao mesmo tempo, também queremos dar algum nível de especialização aos Parceiros. Estes Parceiros são especialistas em fornecer o nosso valor diferenciado para os seus clientes e podem fazê-lo com um conjunto de competências que temos. Temos competências verticais, como saúde, setor público, finanças, entre outros. Também os temos por cargas de trabalho, como armazenamento, IoT, machine learning, inteligência artificial. Este conjunto de competências é, na verdade, um reconhecimento do mercado de que esse Parceiro realmente desenvolve uma prática, que é competente e que pode agregar valor aos potenciais clientes nessa vertical, nessas cargas de trabalho ou aplicações. Estruturamos esse APN em duas tipologias de Parceiros. Um deles é o Parceiro de consultoria, que são tradicionalmente os integradores de sistemas e também os influenciadores que ajudam os clientes a pensar em como vão migrar ou que vão consumir clouds com base no que possuem. Também temos Parceiros tecnológicos que estão a executar novos produtos, que conhecem a plataforma e depois colocam o serviço no mercado. |