Rui Damião em 2022-9-21
A criação de um novo quotidiano – pessoal e profissional – só é possível de materializar porque a tecnologia da mobilidade está disponível, mas os desafios que se continuam a apresentar são colossais. Alcatel-Lucent Enterprise, Cato Networks by Ingecom, Check Point, HP, Konica Minolta, Lenovo, Sophos, Targus, WatchGuard e Xerox dão a sua visão sobre as oportunidades e os desafios do mercado de mobilidade em Portugal
Depois de um ano onde as organizações puderam adotar um regime de trabalho híbrido, quais são os desafios e as oportunidades que as empresas e os colaboradores sentem para trabalhar a partir de qualquer lugar?
Carlos Vieira, Country Manager para Portugal e Espanha, WatchGuard: “Após a pandemia, voltámos para um ambiente híbrido onde temos empresas 100% work from home, temos empresas com 50% a trabalhar no local. Isto traz logo desafios de segurança. Quando passamos do ambiente de empresa para o ambiente work from home, tivemos problemas de chipsets, de PC, portáteis que não existiam onde muitas empresas adotaram os portáteis pessoais dos colaboradores, muitos deles sem proteção” Rui Gouveia, Enterprise Business Manager Portugal, Lenovo: “O mercado está bastante mais consolidado agora, depois da correria aos dispositivos e soluções. As empresas têm a consciência de que o trabalho em ambiente híbrido pode ser adotado, ainda que varie por setor. Existem desafios de segurança e de colaboração; há a componente social, de como fazer os colaboradores retornarem ao escritório e como o tornar num ambiente agradável, sentirem que há uma mais-valia ao trabalhar no escritório”
Bernardete Carvalho, Territory Account Manager, Sophos: “Cada vez mais, o trabalho híbrido é algo que se vai manter. Claro que traz vantagens e desvantagens, que vai impactar o relacionamento entre a empresa e os colaboradores, mas os colaboradores conseguem um maior equilíbrio entre vida privada e profissional, uma melhor gestão do seu tempo. As empresas têm de procurar arranjar estratégias para que os colaboradores possam comunicar entre si” André Feijóo, Regional Sales Director Spain & Portugal, Cato Networks: “A segurança – principalmente com o colaborador remoto – traz o desafio de dar a capacidade ao colaborador de ter o mesmo nível de segurança quando entra no seu PC e acede às aplicações como se estivesse a trabalhar no seu escritório principal. É o grande desafio da segurança atual porque o perímetro, agora, não tem fronteiras. Isto também deu a oportunidade para as empresas portuguesas e estrangeiras de contratar sem fronteiras geográficas”
Marco Vicente, Sales Representative, Targus: “Hoje, quando se fala em híbrido, as pessoas só se identificam com o caminho entre o escritório e casa, mas é muito mais do que isso: é trabalhar a partir de qualquer local. O que verificamos é que nem todas as organizações estão à mesma velocidade. Independentemente do modelo, aquilo que é uma verdade é que existe muito mais mobilidade, o que traz desafios, principalmente relacionados com a produtividade” Muitas organizações já têm políticas de mobilidade ou de trabalho flexível em prática. Quais é que têm sido as principais aprendizagens deste período e como é que as empresas estão a melhorar estas políticas garantindo que mantêm a produtividade dos seus colaboradores? Pedro Coelho, Area Category Manager, HP: “A primeira aprendizagem é que o escritório passou a ser a exceção e o trabalho híbrido a regra. As organizações acabaram por ter de equacionar o seu IT num contexto mais alargado e pensar como potenciar a produtividade dos colaboradores onde quer que eles se encontrem. Como cada organização é única, cada qual vai ter de encontrar a sua abordagem ao trabalho híbrido; isto trata-se de um mix de tecnologia, de processos e de cultura”
Nuno Leão, Key Account Manager, Alcatel-Lucent Enterprise: “Houve uma alteração daquilo que é a realidade das aplicações e das ferramentas que são necessárias para podermos desenvolver o nosso trabalho. Uma das grandes dificuldades foi a diferença de utilização que temos a partir do escritório e que existe a partir de casa; nesse contexto, foi necessário fazer com que existissem ferramentas que nos permitissem, a partir de casa, fazer o mesmo que fazemos a partir do escritório” Marco Vicente, Targus: “O foco tem sido na geração de um ambiente mais produtivo, independentemente do local onde o colaborador se encontra. O ‘produto estrelinha’ tem sido as docking stations porque acaba por ser o componente base que agrega todos os periféricos para o ambiente de trabalho, o que leva a que o colaborador apenas tenha de levar o seu portátil de um local para o outro” Bruno Duarte, SE Manager Portugal, Check Point: “É importante não só proteger os dispositivos, mas também as próprias aplicações. Houve a questão do acesso a esses recursos e houve uma transformação digital. As empresas começaram a ter de investir no reforço das suas soluções de segurança e proteger não só os endpoints, mas também as aplicações. As soluções para a proteção das aplicações na cloud também são importantes” Vítor Dias, Channel Manager – Concessionaires, Xerox: “As experiências que as organizações viveram nos últimos dois anos vincaram a importância da mobilidade, do trabalho flexível e a continuidade das operações. Há um estudo que fala da componente humana e na forma como foi acelerado o desenvolvimento das capacidades cognitivas e com um aumento relevante das digital skills dos colaboradores que os tornou mais aptos para ferramentas mais elaboradas com que trabalhamos hoje” Como é que se pode fazer uma gestão eficaz dos dispositivos fisicamente presentes e os ligados remotamente à rede da organização? Neste mundo híbrido entre o ainda escritório clássico com os seus ativos e os milhões de novos escritórios que nasceram da pandemia, como se garante a integridade aplicacional, os dados e a usabilidade do espaço virtual de trabalho?
Pedro Clímaco, Trade Marketing Specialist, Konica Minolta: “Um dos grandes desafios que sentimos é o acesso remoto e ter a mesma experiência enquanto utilizador. Algumas empresas mantiveram os modelos, mas o teletrabalho veio para ficar. Como tal, é fundamental garantir a integridade dos dados, mas também a acessibilidade de forma remota. Há uma procura cada vez maior por soluções que consigam otimizar os processos e contribuir para essa produtividade de forma remota” Vítor Dias, Xerox: “85% das empresas afirmam que, nunca como agora, se tornou indispensável as tecnologias de comunicações, ferramentas colaborativas, suporte remoto de IT, hardware e software de segurança. Se na infraestrutura já todos os fabricantes apresentam soluções muito evoluídas, o desafio coloca-se com o remoto, com os dispositivos que são disseminados pelos escritórios das pessoas ou pelos colaboradores em remoto, mas que têm de aceder aos dados da mesma forma” Nuno Leão, Alcatel-Lucent Enterprise: “Foi dada uma grande atenção às soluções de SD-WAN, até porque, no final do dia, podemos ter todas as aplicações em casa, mas se a ligação não nos permitir ter, efetivamente, a mesma experiência e a mesma gestão de conectividade – Intranet, Internet e multicloud – para os utilizadores, a experiência torna-se limitativa para quem está a trabalhar a partir de casa” A segurança continua a ser um ponto importante. Como é que se pode melhorar a cibersegurança das organizações? Como é que se pode sensibilizar os clientes finais e os seus colaboradores para os perigos que daí resultam? Como é que se pode manter a infraestrutura o mais segura possível?
Bruno Duarte, Check Point: “Os últimos tempos têm sido particularmente interessantes e as empresas de segurança têm um papel fundamental. A adaptação que é necessária passou, muitas vezes, pelo upgrade das soluções já existentes ou pela adoção de novas arquiteturas SASE. É importante proteger não só os utilizadores, mas também os acessos e as aplicações, assim como os dispositivos móveis e este novo perímetro. Na prática, temos de proteger vários vetores” Carlos Vieira, WatchGuard: “As soluções não são 100% seguras. O que todos os fabricantes fazem é mitigar um possível ataque. Todos vão ser atacados, não sabemos é quando; o importante é que, quando forem, o impacto seja o mínimo possível. Com a mobilidade, não podemos por todos os ovos no cesto dos dispositivos; não podemos descurar a segurança perimetral. Os clientes avançaram bastante e vemos cada vez mais uma adoção de soluções EDR e começamos a ver clientes a procurar soluções XDR” Bernardete Carvalho, Sophos: “Os ataques são contínuos, frequentes, cada vez mais sofisticados e em maior número. Também é importante estarmos cientes que todas estas entidades que têm sido atacadas têm alguma ferramenta para se proteger. Para além das camadas de proteção base, devemos adicionar o que designamos de managed detection and response que são recursos humanos 24/7 que têm o conhecimento e vão ajudar a complementar e a beneficiar as organizações”
André Feijóo, Cato Networks: “Nos anos 90, a segurança das infraestruturas das empresas era muito simples. Hoje, há uma explosão de tecnologias de segurança que têm impacto. No mundo da segurança, a forma como se gere e se consegue proteger toda a infraestrutura tornou-se muito complexo porque há soluções de todo o tipo. Para as infraestruturas de IT das empresas, é difícil quando falamos de gerir a segurança para a rede, para a cloud, para o data center, para o utilizador remoto” Durante os últimos dois anos, os dispositivos voltaram a ganhar força no mercado, tornando-se numa peça essencial para continuar a trabalhar durante a pandemia. Por outro lado, o mercado enfrenta uma escassez de componentes e problemas na cadeia de valor. Como é que estão a resolver estes temas e de que maneira é que isso está a impactar os Parceiros e os seus clientes? Rui Gouveia, Lenovo: “O PC, como dispositivo, continua a ser uma referência de segurança, fiabilidade e de produtividade. Ainda assim, o papel do PC evoluiu; se hoje trabalhamos num modelo híbrido, é porque os PC se adaptaram a nova forma de trabalhar. Há uma fusão entre os mundos do PC profissional e o PC de consumo; há tecnologias que vêm do consumo para o profissional. O tipo de utilizadores também mudou porque a força de trabalho é maioritariamente constituída por gerações mais móveis”
Pedro Coelho, HP: “Estamos numa etapa diferente do que estávamos há cerca de um ano. A escassez existe e continuará a existir. Temos de entendê-la como fazendo parte da nova cadeia de valor. Felizmente, do nosso lado, a escassez é pontual e restringe-se a algumas categorias de equipamentos. Não deixa de ser muito relevante para os Parceiros fazerem o planeamento antecipado das necessidades dos clientes, mas estamos numa altura em que a capacidade de resposta é superior ao que existia há um ano”
Vítor Dias, Xerox: “Nunca vivi um momento – e já levo vários anos disto – tão desafiante em termos de supply chain. A pandemia trouxe a escassez de matérias-primas e componentes, os fechos das fábricas, a gestão e o preço dos contentores e, quando isto começou a melhorar, o congestionamento dos portos. As previsões que fazíamos a seis meses para as fábricas fazemos agora a nove ou a doze. O conflito na Ucrânia ainda originou mais custos na produção. Gerir supply chain é, hoje, um exercício muito complexo” Pedro Clímaco, Konica Minolta: “A situação é transversal a todos os fabricantes de várias tipologias de endpoint. Os clientes acabam por se começar a adaptar a um novo normal e haver uma normalização de um cenário atípico, mas que começa a ser normal. Sentimos, numa fase inicial, essa resistência e compreensão por parte de alguns clientes e Parceiros, mas, sendo transversal a todo o mercado, acabamos por estar todos no mesmo barco” Quais são as oportunidades para os Parceiros e para o Canal neste mercado? André Feijóo, Cato Networks: “Começámos há muito pouco tempo em Portugal e Espanha e acabámos de assinar um acordo com a Ingecom. As grandes oportunidades é a possibilidade de, por um lado, ter no seu portfólio um produto totalmente disruptivo e, por outro, ajudar as empresas a melhorar a sua segurança e simplificar a gestão dos seus acessos e segurança a partir de qualquer lugar” Bernardete Carvalho, Sophos: “Temos uma oportunidade para os Parceiros claramente diferenciadora. A Sophos permite uma capacitação dos Parceiros através de recursos tecnológicos e humanos consumidos como serviços. Disponibilizamos cibersegurança como um serviço para os Parceiros num contexto em que o conhecimento e os recursos são escassos e caros” Bruno Duarte, Check Point: “Existe uma escassez de recursos humanos associada à cibersegurança. Aqui, é importante que existam plataformas de gestão e de monitorização unificadas e simples. É aqui que a Check Point pode ajudar: é a nossa visão a gestão e a monitorização destas componentes, sejam elas para o tradicional perímetro, para a proteção da cloud ou para a proteção dos utilizadores e os seus acessos e dispositivos” Carlos Vieira, WatchGuard: “Somos um fabricante tier 2, 100% Canal. A aquisição da Panda Security permitiu-nos integrar no nosso portfólio toda a componente de proteção de endpoint. A WatchGuard oferece uma solução de gestão centralizada e unificada onde, num single pane of glass, fazer toda a gestão das nossas firewalls, dos nossos EDR, soluções de multifactor authentication e Wi-Fi” Marco Vicente, Targus: “Somos historicamente conhecidos por sermos especializados em bagagem para PC portáteis. Hoje, somo muito mais do que isso; é um Parceiro tecnológico que desenvolve uma ampla gama de soluções de produtividade e não é por acaso que faz aquisições para adicionar ao seu portfólio soluções para um mundo Apple, até porque para o mundo Microsoft já tinha há muitos anos” Nuno Leão, Alcatel-Lucent Enterprise: “Assentamos o nosso modelo de negócio no modelo indireto. Na parte de comunicações deixo a mensagem que, face à escassez de componentes, dispomos de soluções totalmente baseadas em software o que deixa alguma vantagem relativamente à entrega. Na parte networking estamos mais limitados, à semelhança de outros fabricantes; contudo, até agora, não temos tido problemas com as entregas” Pedro Clímaco, Konica Minolta: “O tema da mobilidade traz bastantes desafios, mas também oportunidades para os fabricantes e Parceiros e benefícios para os clientes. Temos um conjunto de soluções que permitem potenciar esta mobilidade com total segurança e através de ferramentas colaborativas. Temos um Programa de Canal desenvolvido para dar todo o suporte e um conjunto de benefícios para os Parceiros” Pedro Coelho, HP: “Os Parceiros podem encontrar na HP as soluções para os desafios do trabalho híbrido. Os novos equipamentos pessoais da HP estão dotados de uma série de soluções para uma experiência superior de colaboração. Temos disponíveis serviços de gestão que asseguram respostas proativas e dashboards para equipamentos multivendor e permitem fazer uma gestão distribuída do parque informático”
Rui Gouveia, Lenovo: “Os Parceiros têm um papel determinante. Conhecem os clientes melhor do que ninguém e estão numa posição privilegiada para fazer o aconselhamento das melhores soluções que não passam exclusivamente pelo dispositivo, que pode e deve ser muito mais abrangente para criar soluções completas à volta do posto de trabalho, como soluções de gestão” Vítor Dias, Xerox: “A Xerox é uma empresa de Canal. Mais de 80% da nossa faturação em Portugal vem do negócio com Parceiros. O que vemos com a transformação digital é que se abriu um leque enorme de oportunidades, o que requer um escalar de competências das equipas comerciais porque o mercado hoje vai além da venda tradicional do hardware. Fornecemos aos nossos Parceiros um portfólio vasto, diversificado e em permanente crescimento” |