Margarida Bento em 2022-6-24
Depois de dois anos de confinamento e subsequente transformação dos processos de negócio, as empresas veem-se desafiadas a garantir os mesmos níveis de qualidade de acesso que os utilizadores passaram a tomar como garantido
Os últimos três anos obrigaram as empresas a acelerar a sua transformação digital ou a arriscarem-se a ficar para trás, o que resultou numa evolução tecnológica que, de outra forma, teria demorado mais de uma década – evolução que assentou em grande parte nas redes e telecomunicações, sem as quais o impacto na economia teria sido incalculavelmente maior. Foi um processo naturalmente disruptivo, com a dispersão de redes, anteriormente centralizadas, a verificar um enorme impacto do ponto de vista de gestão operacional e de segurança. Enquanto, anteriormente, a empresa tinha controlo sobre a qualidade do serviço e experiência dos colaboradores, nos últimos anos ficou inteiramente dependente de terceiros - variando de pessoa para pessoa, da sua localização, operadora e, por vezes, equipamentos. Outra questão importante é a redundância, que se torna impossível de garantir quando a conexão à rede da empresa pode apenas ser feita através de um serviço de Internet fornecido por terceiros. Por outro lado, profissionais de diferentes níveis de literacia digital, que anteriormente podiam dar como garantidas a qualidade e a segurança da sua ligação à rede, ficaram subitamente responsáveis pelas mesmas, causando uma enorme pressão nos processos e nos departamentos de IT. Houve, no entanto, uma outra consequência, talvez inesperada: uma vez alcançada a estabilidade durante o confinamento, garantiu-se que os utilizadores passaram a contar com uma qualidade de rede muito superior à atualmente disponível em ambiente de escritório. Agora, com o desconfinamento, o regresso ao escritório e a proliferação dos modelos híbridos de trabalho, as empresas são desafiadas a garantir os mesmos níveis de qualidade e segurança de acesso onde e quando os utilizadores precisam. O crescimento do software-defined networkingIsto trouxe naturalmente um crescimento do Software-Defined Networking (SDN) tanto nas LAN como nas WAN, e mesmo nos próprios data centers. A capacidade de gerir redes, cada vez mais complexas, de forma dinâmica e eficiente tornou-se crucial durante a pandemia e manteve-se relevante mesmo após o aliviar das restrições. “No setor empresarial, que foi o mais afetado, a gestão remota foi fundamental”, refere Paulo Barreira, Sales Manager da TP-Link em Portugal. “Para além da eficiência da operação e por questões de saúde pública (Zero Touch Provisioning) evitaram-se, assim, também custos desnecessários com deslocações dos técnicos on site, melhorando assim os rácios de produtividade das empresas”. Isto, por seu lado, permitiu acompanhar a rápida evolução tecnológica que se tem vindo a sentir, ao garantir a escalabilidade das redes e a possibilidade de realizar atualizações sem necessidade de substituir equipamentos, sustentando assim inovação ao mesmo tempo que salvaguarda a continuidade de negócio. A gestão e monitorização remotas das redes, e até mesmo automação dos processos subjacentes, foi para muitas empresas necessário para manter o funcionamento e continuidade de negócio em modelos de trabalho remotos e híbridos, sem comprometer a segurança. Daqui surgiram naturalmente novas oportunidades de negócio para os Parceiros, com a possibilidade de gerir as redes dos seus clientes remotamente, dispensando assim a presença de um técnico no local. Feita a virtualização das redes, é possível que, de forma totalmente autónoma, as políticas de segurança, qualidade e SLA especificadas para os utilizadores e aplicações sejam comuns, independentemente do local ou ponto de acesso. Parte das novas expectativas dos utilizadores é uma experiência consistente, independentemente da localização ou modo de acesso, e isto só será possível com a virtualização e unificação das redes, com políticas comuns, automação integrada, segurança comum – e mesmo o auxílio de mecanismos de inteligência artificial e machine learning, para dispensar a necessidade de configuração manual dos equipamentos. Networking-as-a-ServiceDe mãos dadas com o SDN e cloud networking vem o Network-as-a- Service. As vantagens para o cliente são óbvias: o ritmo da digitalização ultrapassa em muito a capacidade de adaptação de muitas empresas, seja a nível do investimento de capital como das equipas de IT. Assim, a possibilidade de fazer o outsourcing da gestão das redes, sem necessidade de se comprometerem com um projeto, face à incerteza das necessidades futuras, torna-se muito vantajosa – e as empresas estão a tomar consciência disto. Como aconteceu com muitos modelos as-a-Service, a incerteza e a rápida evolução tecnológica que se verificou durante a pandemia levou os clientes a despertar para a necessidade de flexibilidade e escalabilidade, apenas possível com estes modelos de consumo, bem como managed services para acelerar a digitalização das empresas. E, como qualquer serviço, o Networking-as-a-Service traz também a vantagem de garantir aos Parceiros receitas recorrentes através de serviços de administração e suporte técnico remoto, ao invés de simplesmente venderem hardware e instalação. Segurança e SASEDa mesma forma que as arquiteturas de rede tradicionais se estão a tornar rapidamente inadequadas ao contexto atual, o mesmo está a acontecer com os modelos de cibersegurança aplicados às mesmas. O modelo de segurança que imperava anteriormente, no qual o tráfego tem de passar pela rede central da empresa para ser seguro, torna-se obsoleto num contexto pós-pandémico. Para além de uma explosão das soluções de endpoint security, também o SASE (Secure Access Service Edge) teve um enorme crescimento, fornecendo conetividade segura em qualquer aplicação, através de qualquer rede, independentemente da localização ou dispositivo. Descrito pela Gartner como um modelo de segurança “fornecido as-a-Service com base na identidade de entidade, contexto em tempo real, políticas de segurança e compliance e avaliação contínua do risco”, o SASE leva as políticas e garantia de cumprimento das mesmas mais próximo dos utilizadores, integrando o networking e a segurança numa única solução ou serviço cloud. Ao eliminar a necessidade de levar todos os dados constantemente ao data center, reduz a sobrecarga das redes, oferecendo uma user experience de qualidade com base em políticas zero-trust. 5GO atraso no leilão de 5G deixou, sem dúvida, Portugal atrás no desenvolvimento desta tecnologia, mas o mercado nacional já está a trabalhar para recuperar terreno. De momento, refere Nuno Roso, Head of Digital Services da Ericsson Portugal, o grande desafio é determinar os melhores novos casos de uso que podem ser criados através do 5G, algo que só pode ser feito em coordenação com as outras indústrias. As gerações anteriores de tecnologias móveis foram muito viradas para o consumidor enquanto enduser. O 5G não vem apenas a trazer um melhor serviço a nível do consumidor, mas também grandes benefícios para a indústria: baixa latência, segurança e funcionalidades como o network slicing, que vão permitir muitos novos casos de uso. “Por enquanto estamos ainda numa fase de provas de conceito, à procura dos modelos de negócio e use cases que sejam viáveis”, refere Nuno Roso. “O desafio que temos agora como indústria é determinar junto de cada setor – energia, utilities, manufatura, transportes, etc. – como é que vamos usar esta tecnologia e transformá-la em valor acrescentado”. É também de realçar que, apesar do 5G que teremos inicialmente já trazer consigo benefícios como maior velocidade e largura de banda, para alcançar todo o potencial do 5G será necessário fazer alterações na própria arquitetura de rede, nomeadamente a nível do core. “Este é um processo que ainda vai acontecer nos próximos anos e só após termos esta arquitetura implementada será possível cumprir todas as promessas do 5G, nomeadamente a latência e capacidades de network slicing. E isto são processos extremamente complexos”, diz. Enquanto esta situação não estiver normalizada, acrescenta o responsável, existem já alternativas sob a forma de redes privadas – principalmente em setores críticos, nos quais as questões de privacidade, segurança e fiabilidade são cruciais. “Achamos que será essa a tendência do futuro: o maior impacto será nas indústrias e em como podemos ajudar as empresas a serem mais rápidas, mais flexíveis e mais ágeis a responder em tempo real num mundo que está em constante mudança”, conclui Nuno Roso. “Estes casos de uso já são viáveis nos dias de hoje; não é preciso esperar pela cobertura nacional para fazer isto”. Wi-Fi 6De igual forma, o Wi-Fi 6 trará consigo não só a segurança e qualidade de ligação em ambientes de home office, tão necessário durante a pandemia, mas também os originais benefícios para ambientes de alta densidade. O Wi-Fi 6 será, então, a opção superior agora que os utilizadores estão a voltar ao escritório com novas expectativas e necessidades. Com a crescente necessidade de mais equipamentos a conectarem-se, vai sempre existir a necessidade de evoluir a tecnologia de forma a aumentar a velocidade e a diminuir a latência dos equipamentos. “Hoje o Wi-Fi 6 é o que melhor satisfaz as nossas necessidades, mas daqui a seis meses o Wi-Fi 7 será a nova realidade”, garante Paulo Barreira. “O mercado de networking é muito dinâmico e está sempre em evolução”, refere o responsável, apontando como principais tendências a procura por soluções que consigam oferecer aos utilizadores mais exigentes equipamentos com tempo de resposta just in time, com inteligência artificial, de forma a procurarem sozinhos pontos de melhor acesso através do congestionamento da rede. Paulo Barreira reforça também a necessidade de “melhor infraestrutura, melhores equipamentos de diferentes gerações de normas Wi-Fi que, conseguindo conviver entre si, fazem com que cada equipamento consiga oferecer uma relação estável, duradoura e com qualidade de forma a fazer face aos desafios pessoais a cinco anos”. |