Rui Damião em 2024-6-21
O mercado de impressão tem trabalhado num caminho de reinvenção. A digitalização contribuiu fortemente para as alterações no modelo de negócio, que passou de um simples equipamento para um conceito de serviço baseado em cópia e gerido pelos Parceiros de Canal. A Brother, a Canon, a Epson, a Konica Minolta, a Multimac – em representação da Sharp – e a Lexmark partilham a sua visão sobre o mercado de impressão, de digitalização e de gestão documental e as oportunidades e desafios para os Parceiros de Canal
Como se encontra o mercado de office printing em 2024? Quais são os desafios, as oportunidades e as tendências? Tiago Ribeiro, Product Specialist Office & PRS, Konica Minolta: “Já há vários anos que andamos a falar que o mercado de impressão possa vir a diminuir em Portugal; essa não é a realidade e até notamos um crescimento em alguns casos. Há mais equipamentos na rua e o número de equipamentos nas empresas tem vindo a crescer. Notamos um crescimento de equipamentos A4 e nota-se, cada vez mais, um equilíbrio naquilo que é o número de equipamentos vendidos mono cor e cor. Acredito que o futuro passa pelo Printing-as-a-Service, que se torna num commodity para as empresas”
Susete Pereira, Responsável Marketing de Canal, Brother: “O mercado de impressão e digitalização tem passado por mudanças significativas, especialmente durante e após a pandemia. O teletrabalho acelerou a tendências digital e a adoção de soluções na cloud. A impressão em escritórios diminuiu, mas os equipamentos A4 tem vindo a aumentar, especialmente para pequenos grupos de trabalho. A gestão remota de equipamentos é, também, uma prioridade porque permite que as empresas monitorizem o estado dos dispositivos, atualizem firmwares e resolvam problemas remotamente” Miguel Campos, Channel Director, Canon: “Na nossa unidade de impressão a nível global, as nossas vendas aumentaram em relação ao ano passado, principalmente a nível de valor. O principal desafio é encontrar a melhor solução de acordo com o portfólio de produtos e colocar essa mesma solução à disposição dos Parceiros, para que consigam ter a melhor proposta de valor e satisfazer as necessidades dos clientes, quer sejam elas pequenas, médias ou grandes empresas. A principal tendência ou oportunidade continua a ser a integração dos mais variados serviços” Luís Jesus, AM Sales IT Reseller, Epson: “Teria de recuar ao pós-COVID porque alterou o mercado de impressão – tanto a nível de consumo como corporativo. Há uma maior procura de soluções de impressão para casa. A nível corporativo, com a tendência de trabalho híbrido, assistiu-se a uma redução de impressão. As instituições públicas e privadas continuam a manter um parque de impressão, mas eventualmente mais distribuído. O grande desafio futuro é como integrar a transformação digital e ambiental na organização: menos resíduos e garantir a gestão dos equipamentos” As soluções de impressão passam cada vez mais pela cloud, permitindo uma maior mobilidade aos utilizadores. Quais são as propostas para uma gestão eficiente da força laboral num cenário híbrido e de mobilidade? Elias Alves, Key Account Manager, Lexmark: “O acesso remoto a serviços avançados é cada vez mais importante, especialmente no atual ambiente de trabalho em constante mudança. O trabalho em rede é diversificado e o mais complexo inclui, agora, os escritórios em casa, o trabalho de coworking e, não nos podemos esquecer, os escritórios de trabalho tradicionais. Para otimizar este ambiente de impressão híbrido, procuramos oferecer soluções na cloud que permitem que todos os dispositivos de impressão se liguem à cloud de forma rápida e simples, sem a necessidade de investir em hardware adicional”
Miguel Campos, Canon: “Estas duas soluções são incontornáveis. O mundo está a mudar e as necessidades dos consumidores acompanham estas tendências. À medida que nos afastamos dos modelos transacionais, a cloud será cada vez mais relevante nos espaços de trabalho. No mundo onde o trabalho remoto é parte fulcral da cultura da empresa, as plataformas de colaboração têm um papel particularmente relevante para manter as pessoas conectadas, independentemente da sua localização geográfica ou fuso horário” A indústria de impressão tem estado a olhar para a sustentabilidade ambiental? Qual é a resposta em termos de eficiência energética, pegada química e reciclagem dos equipamentos? Luís Jesus, Epson: “Todos os fabricantes têm esta filosofia. Além da procura por parte dos clientes corporativos em demonstrar que a sustentabilidade ambiental faz parte da cultura da sua atividade, julgo que devemos incluir, também, a necessidade do setor empresarial e da própria administração pública se alinharem com diretivas ambientais – europeias ou nacionais. A obrigação de definirem procedimentos e evidenciarem que a escolha de uma solução – neste caso de impressão – tenha, efetivamente, impacto na transição ecológica”
Mário Peixinho, Business Solutions Analyst DPO, Multimac, em representação da Sharp: “Muitas vezes, diz-se que este é um tema que é uma moda; não é. A eficiência energética é importantíssima. As novas gamas de equipamentos conseguem uma redução até 27% do consumo e ainda mais na questão das emissões, que pode ir até aos 68% de redução; são números muito interessantes. A pegada ambiental faz parte da Agenda 2030; existem dois objetivos de desenvolvimento sustentável, nomeadamente o 12 e o 13, que são muito interessantes de aprofundar e implementar, no que diz respeito à economia circular” Elias Alves, Lexmark: “Há uns anos falava-se do sustentável e do verde como moda, mas hoje é uma obrigação. Há uma consciência verde, não só pelos utilizadores, mas também por parte dos fabricantes. Muitas vezes, esquecemos que, na pegada carbónica, 65% do peso é o papel. É nosso dever incentivar os clientes de modo a usarem as soluções que permitem redução da emissão. Isto é um bocadinho contraproducente porque estamos a ir contra o nosso negócio, mas é preciso ensinar os clientes a usarem menos papel com diversas soluções” Miguel Campos, Canon: “Este é um tema de muita importância. O nosso objetivo é manter todos os nossos produtos e materiais em utilização durante mais tempo e trabalhar no sentido de nos tornarmos uma empresa mais circular. Além disso, esforçamo-nos por tornar todos os consumíveis 100% recicláveis ou reutilizáveis. Também é preciso investir continuamente em inovação e desenvolvimento para criar equipamentos que tenham uma vida útil mais longa” Em que ponto estão os produtos de etiquetagem e de identificação? Susete Pereira, Brother: “A integração de impressoras de etiquetas é uma área crucial para otimizar os processos e garantir a eficiência de vários serviços, quer seja no retalho, em armazéns, no setor da saúde ou na hotelaria. As impressoras de etiquetas contam com recursos avançados, como conectividade Wi-Fi ou Bluetooth, a capacidade de imprimir etiquetas diretamente do dispositivo móvel ou computadores é uma vantagem significativa para a produtividade” Historicamente, os equipamentos de impressão são um possível ponto de entrada para a realização de ciberataques. Os fabricantes já olham para este ponto? Como é que o controlo do acesso à informação do dispositivo permite mitigar os riscos? Mário Peixinho, Multimac, em representação da Sharp: “É um desafio constante e sabemos que toda a questão que tem a ver com ataques, cibersegurança e segurança da informação é sempre correr atrás do prejuízo. Sabemos que, hoje, uma impressora – tal como um computador – está ligada à rede e, por isso, é um veículo para um possível ataque. Na gestão de identidade, cada vez mais também se usa nos sistemas de printing, mas muitas empresas ainda não utilizam multifator de autenticação. Não basta chegar a um equipamento e autenticar só passando o cartão ou colocando um código, é necessário haver um multifator de autenticação” O mercado de impressão e de digitalização foi um dos primeiros que passaram de um modelo puramente transacional para um modelo de serviços. Quais são os novos serviços que os managed printing services podem fornecer aos seus clientes? Susete Pereira, Brother: “A evolução do transacional para os serviços é, realmente, uma tendência muito importante no setor da impressão. Quem está no Canal tradicional sabe que a concorrência do online é brutal. Para que haja uma sobrevivência do nosso Canal, é muito importante falarmos do programa de custo por página da Brother que é um facilitador a vários níveis, uma vez que os clientes pagam apenas o que imprimem, e inclui consultoria, instalação, manutenção, envio de consumíveis e suporte técnico até ao final da vida da máquina”
Luís Jesus, Epson: “Há Parceiros que estão vocacionados apenas para a venda direta ou online – designada tradicional – que continua a ter um peso forte para o negócio da Epson. Depois, a nível de contratos de impressão e serviços, há Parceiros que têm uma estrutura para ter a componente técnica e para executar e acompanhar o seu próprio contrato de cópia MPS. Proporcionamos as aplicações, apoio, condições para implementarem com sucesso este nível de contratos” Tiago Ribeiro, Konica Minolta: “Se, por um lado, temos empresas que estão muito mais modeladas para esta questão do Printing-as-a-Service, também temos empresas que gostam de estar ou gostam de valorizar esta questão do printing de uma maneira diferente. Estas empresas têm como foco, essencialmente, aquilo que é a rentabilidade, aquilo que é a segurança, aquilo que é a sustentabilidade. A Konica Minolta é uma das cem empresas mais sustentáveis do mundo e o nosso novo line up conta com cerca de 80% de materiais recicláveis” Elias Alves, Lexmark: “Portugal é dos mercados mais maduros da Europa em termos de outsourcing. Enveredamos no negócio de forma indireta e trabalhamos sempre através dos nossos Parceiros. Há Parceiros que o core business é o negócio de copy e impressão e prestamos uma Parceria adequada a este tipo de Parceiros, seja a nível de software, seja a nível de integração com outros softwares terceiros. Por outro lado, a maior parte do Canal são Parceiros que têm negócio, ou seja, eram Parceiros tipicamente do IT que vendiam os equipamentos e que, cada vez mais, recebem pedidos de clientes a propor um serviço” A integração da IA e da automação nas operações de gestão documental está a expandir-se? Quais são as tendências e as novidades na oferta?
Tiago Ribeiro, Konica Minolta: “Em tudo aquilo que é a gestão documental, hoje, ainda se está a fazer o caminho. Em alguns pontos e em outras áreas do IT, já é um dado adquirido, mas aqui ainda se está a começar. Acredito que, dentro de pouco tempo, vai deixar de ser o início de algo para ser um standard. Vamos ter aqui, claramente, uma afirmação dentro da gestão documental. O mercado – não tanto na vertente dos players, mas na ótica do cliente – vê a gestão documental como um caminho, quase um concorrente àquilo que é a área de printing, mas são complementares” Quais são as oportunidades e os desafios dos Parceiros na área de impressão, digitalização e gestão documental?
Elias Alves, Lexmark: “Vivemos, hoje, num mundo um pouco incerto. Tem-se verificado uma dimensão mais financeira, até por causa da estabilidade das taxas de juros; quando se fala aqui no negócio de serviço, os equipamentos ou as soluções não são vendidas; são alugadas e isso tem muito impacto no negócio. Por outro lado, as guerras existentes têm tido alguns impactos muito grandes no nosso mercado, seja por causa dos prazos de entrega, seja o aumento de preços” Miguel Campos, Canon: “O mercado está vivo. Os Parceiros devem ter uma proximidade com os seus conhecimentos e criar a confiança necessária através das suas equipas. É preciso não esquecer que, para além dos equipamentos, são as pessoas que fazem a diferença. Outro desafio é apresentar propostas de valor de acordo com as necessidades do consumidor e identificar exatamente quais são as necessidades, fazendo propostas adequadas às mesmas” Luís Jesus, Epson: “Numa área tão madura como é hoje o office printing, o que distingue é o portfólio de tecnologia diferenciadora. Inovámos a nossa linha enterprise de cabeça fixa. Até agora, só tínhamos modelos multifuncionais A3 e lançámos muito recente dois novos multifuncionais A4 a cores de 40 e 55 páginas por minuto. Isto permite apresentar uma opção de impressão A4 que dá uma oportunidade adicional aos Parceiros para avaliar novos contratos de cópia A4” Susete Pereira, Brother: “O mercado da impressão é altamente competitivo e as várias marcas e fornecedores estão a disputar espaço. Os Parceiros precisam de se diferenciar com qualidade, preço e serviços excecionais. Dispomos de uma equipa de comerciais que acompanham os Parceiros de uma forma muito próxima. O contacto é muito rápido e fácil. Investimos bastante no capital intelectual; as pessoas precisam de outras pessoas para conversar, discutir, encontrar soluções de forma a satisfazer as necessidades dos clientes finais” Tiago Ribeiro, Konica Minolta: “O mercado está vivo e a economia está a crescer. Temos noção de tudo aquilo que se vai passando pelo mundo fora, mas a realidade é que nós, neste cantinho, temos as coisas a andar. Temos cada vez mais setores mais ativos e crescimento de novas empresas que acaba por ser uma oportunidade para aquilo que é o Canal indireto, para aquilo que são os Parceiros. A componente de Printing-as-a-Service é uma oportunidade de procurar novos modelos de negócio” Mário Peixinho, Multimac, em representação da Sharp: “Não podemos adivinhar o futuro, mas podemos influenciá-lo. Não podemos investir na mesma receita e explorar resultados diferentes, ou seja, temos cada vez mais de apostar em soluções inovadoras, alargar o portfólio, e depois estabelecer Parcerias estratégicas que façam uma simbiose daquilo que são as mais-valias” |