Marta Quaresma Ferreira em 2024-7-17
Com o aumento da dependência de tecnologias digitais, os servidores, o armazenamento e a virtualização posicionam-se cada vez mais como componentes críticos da infraestrutura de IT de uma organização. Com o ciclo de atualizações de servidores, as plataformas baseadas em IA podem ser igualmente uma opção, sem esquecer o fator segurança. A Warpcom, Parceiro Dell Technologies, a Fujifilm, a Fujitsu, a IBM, a IP Telecom, a Qnap, a TBA, a Toshiba e a Zaltor, em representação da SolarWinds, partilharam a sua visão sobre o mercado, assim como as oportunidades e tendências que se desdobram
Como caracteriza o mercado atual de servidores em Portugal e como é que evoluiu no último ano?
Manuel Prates, Systems Sales, IBM: “Os clientes, pelas mais variadas razões, estão à procura de retirar alguns workloads que inicialmente até tinham pensado ou efetivamente colocado em clouds públicas e passá-los para dentro dos seus data centers. As principais razões que os clientes apresentam sobre o que os leva a equacionar novamente este movimento são essencialmente dois: a segurança - em que a cloud pública faz repensar a forma como têm as suas aplicações em termos de infraestrutura - e os custos - porque há custos escondidos na cloud” João Frederico Rodrigues, Sales & Marketing Manager, TBA: “Notamos claramente que há uma tendência para sair um pouco da cloud, passar mais para on-premises. Os custos, principalmente, são custos escondidos. O cliente só no final do mês é que às vezes tem uma surpresa um bocadinho desagradável. Tem um pouco a ver com a quantidade de armazenamento que é utilizada. Portanto, o cliente vai fazendo o seu trabalho no dia-a-dia e chega a um ponto em que, às vezes, quer mais e os custos aumentam”
Marco Vicente, Sales Representative, Toshiba: “É um mercado claramente em crescimento. Mas não quer dizer que o ano tenha sido propriamente favorável. Para a área da distribuição de dispositivos de armazenamento e discos rígidos o ano de 2023 foi um ano um pouco difícil. Creio que, de forma generalizada, por toda a indústria de informática, não foi propriamente favorável, mas os primeiros indicadores que temos deste primeiro trimestre indicam que os discos rígidos de enterprise - discos destinados a servidores para data center - já estão a registar um crescimento de 9%” A Inteligência Artificial (IA) está a levar à substituição dos equipamentos por parte das organizações? Que tipo de organizações é que estão a apostar em servidores on-premises? Marco Amaral, Solutions Architect Consultant, Fujitsu: “O principal motivo para as organizações optarem pelo on-prem, em termos de soluções de IA, acaba por ser a segurança dos dados. O que uma organização tem de mais importante, mais valioso, são os seus dados. Ora, se a empresa vai carregar e vai treinar os modelos de IA com informação confidencial, da própria empresa, sobre a qual não pode ser posta em causa a segurança, vai querer fazê-lo on-prem, não vai querer fazê-lo na cloud”
Francisco Sousa, Solutions Architect - Data Center & Cloud, Warpcom, Parceiro Dell Technologies: “A inteligência artificial não está a levar necessariamente à substituição das infraestruturas. Na prática, também tem como benefício a modernização e otimização de recursos das mesmas, através de ferramentas como machine learning e análise preditiva. Complementa também a questão da previsão de falhas de equipamentos e beneficia a eficiência operacional. No início os projetos de IA generativa eram sustentados por cloud pública, pelo rápido acesso a um vasto leque de soluções; a longo prazo, e com o crescimento, pode tornar-se um desafio económico, de compliance e até mesmo de personalização” Que inovações estão a chegar ao mercado de armazenamento em Portugal?
João Frederico Rodrigues, TBA: “Julgo que a mais-valia neste momento a nível dos sistemas de armazenamento será dotar a inteligência nos sistemas de armazenamento: inteligência ao serviço do utilizador, para facilitar a implementação da solução, seja um wizard, configuração mais completo e acessível; inteligência para otimizar os recursos - uma análise de tráfego, implementação de regras para garantir o máximo desempenho; inteligência para fazer uma análise preditiva de falhas - se for detetada alguma probabilidade de falha o sistema começa a enviar alertas; e, quiçá, inteligência para gerar oportunidade de negócio” Marco Vicente, Toshiba: “A tecnologia SSD tem as suas vantagens, nomeadamente ao nível da velocidade, mas a quantidade de informação que necessita de ser armazenada nesta fase da indústria terá obrigatoriamente de passar pelo HDD. A inovação da aplicação dos HDD passa pelo aumento da capacidade. Ao nível da produção, nós temos de conseguir, dentro do mesmo espaço físico, aumentar a capacidade. E isso não é assim tão fácil” Anna Baldris, Business Development Manager, Fujifilm: “Quando falamos de inovações e de soluções que o mercado português pode ter atualmente, já pode beneficiar das elevadas necessidades de gravação oferecidas pelos sistemas de armazenamento LTO-9, que têm uma capacidade nativa de 18 terabytes, e também da tecnologia enterprise da IBM – da 3592GF -, que são tapes com uma capacidade nativa de 50 terabytes. Isto leva a que hoje possamos armazenar 50 petabytes nativos numa área muito pequena” Manuel Prates, IBM: “Há dois temas que são importantes de realçar aqui que têm a ver, por um lado, com a inteligência artificial e, por outro lado, com a segurança, e a maneira como estas duas áreas se cruzam no sentido de dar aos clientes em soluções de storage mais segurança e mais informação sobre os próprios dados dos clientes. A IBM está a incorporar bastante tecnologia de inteligência artificial nos seus sistemas para, precisamente, os clientes poderem ter mais e melhor informação” O data center caminha para a virtualização total. Qual é o atual grau de maturidade das organizações em termos de virtualização dos ativos, assim como a sua monitorização, observação e vigilância?
Filipe Frasquilho, Diretor do Departamento de Serviços de TI, IP Telecom: “É fundamental ter uma infraestrutura global que possa ser virtualizada e que possa tirar de várias componentes. Também vimos em alguns clientes, situações de tentar enveredar workloads antigos, em que tem este tipo de soluções, sem fazer a transformação digital necessária, o que leva a que as coisas, para além de não funcionarem muito bem, tenham custos adicionais. Temos visto isto na nossa componente de cloud, mas principalmente nos hyperscalers” Javier Nuñez, Sales Engineer, Zaltor, em representação da SolarWinds: “Cada vez mais empresas tomam consciência de que a virtualização é essencial. Esta virtualização parte do pressuposto de que existem ganhos ao nível da energia, do espaço, de tempo e monetários. Há cada vez mais empresas conscientes disto e uma grande percentagem volta a utilizar estes data centers como elemento médio na hora de mostrar ou criar a sua infraestrutura” As clouds híbridas abrem a porta para que o mercado de servidores e armazenamento se mantenha relevante?
Marco Amaral, Fujitsu: “Estamos a assistir a um equilíbrio entre on-prem e clouds. Do lado da cloud temos a escalabilidade e a flexibilidade para crescer e para utilizar todo o tipo de serviços; temos a inovação constante, a atualização e a introdução de novos serviços. Do lado do on-prem temos a capacidade, a segurança e o controlo de tudo. Há alguns anos assistimos a um movimento que foi o cloud first; agora estamos a assistir a um movimento contrário que é o workload first, ou seja, estamos a assistir a um reverse cloud migration” Adrián Groba, Country Manager Espanha e Portugal, Qnap: “Posso dar o exemplo da Telefónica, uma das grandes multinacionais do setor tecnológico e de integração de infraestrutura a nível mundial. Tiveram um movimento para a cloud há seis anos e desde há dois, três anos começaram a fazer um regresso por completo ao modelo on-premises ou para cloud híbrida. O modelo de outsourcing, onde o utilizador final não tem o risco de instalação ou de qualquer coisa não funcionar, pode ser coberto pelos Parceiros que dão este tipo de serviços”
Anna Baldris, Fujifilm: “As organizações estão a começar a mover aplicações de missão crítica para on-prem, para um melhor controlo, mas recorrendo à cloud como local de cópia de segurança. Optam cada vez mais por soluções híbridas que combinam diferentes tecnologias de armazenamento, em função do tipo de dados, optando por infraestruturas hiperconvergentes que combinam armazenamento, recursos de TI, rede e gestão num único sistema definido por software para reduzir a complexidade dos data centers e aumentar a escalabilidade” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Seja a cloud privada, seja a cloud pública, sejam ambientes às vezes sem ser em cloud, a base é sempre infraestrutura, e temos de ter uma estratégia de infraestrutura correta para conseguir endereçar os workloads que necessitamos. Nós, estejamos num ecossistema híbrido ou não, há sempre infraestrutura por trás e, portanto, seja ela dedicada ao cliente ou partilhada, é fundamental. Essa evolução tem acontecido, nós temos percebido isso e temos tentado responder aos nossos clientes” Quais são as principais tendências e tecnologias emergentes no mercado que terão um impacto significativo nos próximos anos? Francisco Sousa, Warpcom, Parceiro Dell Technologies: “Temos notado várias tendências, nomeadamente a procura por cada vez mais capacidade e mais performance. A utilização dos discos flash é uma realidade cada vez mais presente pela otimização de custos que tem existido nos últimos anos, por meio também dos mecanismos de eficiência avançada que permite, desta forma, otimizar o custo por terabyte efetivo. Temos fabricantes como a Dell que, neste momento, fornecem rácios de cinco para um”
Adrián Groba, Qnap: “A primeira é a elevada disponibilidade, uma vez que com a nossa aplicação da Virtualization Station, pode-se virtualizar, de forma gratuita, máquinas virtuais nos NAS da Qnap, e também na parte do armazenamento. O ponto número dois são os backups imutáveis, pastas WORM, Write Once, Read Many, e backups fora da rede. A terceira coisa em termos de tecnologia é o armazenamento NVMe, que é muito diferente em termos de custos relativamente à HDD”
Javier Nuñez, Zaltor, em representação da SolarWinds: “Vemos emergir muita tecnologia IoT e a hibridação entre a tecnologia IoT e a tecnologia IT tradicional e a união destas duas tecnologias. Não devemos desprezar a tecnologia IoT porque essa tecnologia também é capaz de criar grandes quantidade de dados e estes dados, no final, vão acabar em algum dos nossos sistemas, ou numa cloud ou noutra. Vamos ser proprietários, vamos ter de gerir estes dados e assegurá-los, fazer backups e ter a segurança de que estes dados estão bem alojados” Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros de Canal? Anna Baldris, Fujifilm: “Considero que os desafios continuam a ser novas oportunidades. É importante falar de temas como a inteligência artificial, machine learning, a crise no mercado de videovigilância, as iniciativas de sustentabilidade e os ciberataques. Ao longo deste ano a IA e o machine learning terão um impacto profundo na necessidade de todos os tipos de armazenamento, como um aumento da procura de arquivo ativo, por exemplo” Marco Amaral, Fujitsu: “As oportunidades são a nível de IA e de segurança. São mercados que vão crescer a dois dígitos. A nível de IA, de machine learning e IA generativa, a Fujitsu pode oferecer suporte aos nossos Parceiros. Temos equipas técnicas capazes de oferecer soluções e trabalhar em conjunto com nossos Parceiros para abraçar esse desafio. Temos também uma solução de IA generativa, que é chamado de Private GPT” Manuel Prates, IBM: “Surfámos todos a onda da cloud pública há uns tempos e eu diria que, neste momento, a nova onda que está aí é o regresso ao on-premises, seja em servidores, seja em storage. A onda está aí, está a crescer, os principais vetores que eu vejo que estão a fazer esta onda crescer são os temas da inteligência artificial, da segurança, seja ela preventiva ou resposta a ataques, ou a própria regulamentação. Por último, é muito importante no crescimento desta onda o tema do controlo de custos” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “A palavra principal é confiança. Dar confiança aos nossos Parceiros; terem uma infraestrutura de confiança que seja resiliente, flexível, escalável, e que permita entregar serviços de qualidade com todas estas tecnologias novas que têm aparecido a inteligência artificial, tendo toda a proteção em termos de cibersegurança, como a componente da IoT e do edge. O foco principal é confiança para os Parceiros” Adrián Groba, Qnap: “Os quatro pontos que são mais importantes para nós são apoiar o Parceiro na parte da consultoria, pré-venda e formação; o segundo ponto tem a ver com a infraestrutura tecnológica com funcionalidade e atualizada com segurança; apoiar o Parceiro, que é o nosso cliente verdadeiro, para dar serviço de manutenção e monitorização através de várias aplicações; e dar o melhor serviço de pós-venda, uma vez que o serviço de pós-venda ao fabricante traduz-se num serviço de pós-venda para o utilizador final” Marco Vicente, Toshiba: “A segurança física, a videovigilância, é, de facto, a área do storage onde nós verificamos o maior crescimento no mercado e onde estamos a identificar as maiores oportunidades neste momento. Existe uma preocupação com a segurança, de uma forma geral, e os sistemas de videovigilância acabam por fazer gravação de imagens, de conteúdos em alta-definição, que obrigam ao armazenamento de conteúdos de elevada capacidade. O storage continuará a ser uma área promissora para todos os stakeholders” Javier Nuñez, Zaltor, em representação da SolarWinds: “Qualquer oportunidade que esteja relacionada com cloud, cloud híbrida, é uma boa oportunidade de negócio; qualquer tecnologia que tenha a ver com a ‘hibridação’ de ambientes IT é uma boa oportunidade de negócio; qualquer coisa que tenha a ver com segurança, segurança de ambientes, de dados; e o uso da IA como ajuda à monitorização, para poder prevenir possíveis falhas no futuro” João Frederico Rodrigues, TBA: “Entre as oportunidades e desafios será perceber quais as reais necessidades do cliente, propor a solução que se adequa ao modelo de negócio, sejam soluções SDS - Software Defined Storage -, sejam sistemas independentes, que é o servidor data storage, seja cloud, seja uma mistura de todas estas. Nenhum cliente é igual e as soluções que se adequam a um tipo de negócio podem não se adequar a outro” Francisco Sousa, Warpcom, Parceiro Dell Technologies: “Temos de estar cada vez mais próximos das equipas de negócio e desenhar as soluções, desenhar a oferta de acordo com as necessidades do negócio de cada cliente e não falar apenas com a equipa que faz a gestão do hardware/software ou fazer apenas a análise de recursos computacionais e a validação de compatibilidade de aplicações. Temos de ir mais além” |