Rui Damião em 2022-6-22
O crescimento da cloud levou a que os produtos contratados como um serviço crescesse também, dando lugar a um novo paradigma de mercado. Arcserve, IP Telecom, Lenovo e Ritain dão a sua perspetiva e abordam os desafios e oportunidades do mercado de cloud e de tudo como um serviço
Depois dos anos da pandemia, em que ponto é que está o mercado de as-a-Service? Está mais consolidado? Filipe Frasquilho, Diretor Negócio Data Center & Cloud, IP Telecom: “A pandemia veio, claramente, ajudar as empresas a mudar o paradigma sobre o as-a-Service pela necessidade de rapidez de disponibilizarem um conjunto de serviços que foram necessários para conseguirem manter o seu nível de trabalho. A partir daí, a mentalidade mudou. Estou convencido que vai ser um contínuo e vai crescer ainda mais; uma boa parte das pessoas já está a pensar dessa forma e já viram as vantagens que este modelo traz” Vasco Sousa, Territory Account Manager, Arcserve: “Olhando em retrospetiva para os últimos anos, diria que 2020 foi quando os Parceiros procuraram tecnologias, buscaram modelos diferentes que se pudessem adaptar melhor e lhes trouxessem uma rentabilidade maior. No segmento da Arcserve, o modelo as-a-Service acaba por estar muito ligado ao que é o modelo de serviços geridos, ou seja, não é só uma forma de passarmos de CapEx para OpEx, mas no sentido de ter serviços geridos centralmente por Parceiros, como se fosse uma externalização de determinados serviços” Luciano Zoccoli, Solution Architect, Lenovo: “A pandemia encurtou quase dez anos naquilo que seriam os projetos de digitalização das empresas. Estamos a falar de um curto espaço de tempo ter existido grandes alterações tecnológicas forçadas pelas condições do mercado e pelas situações que o mundo estava a ter, quase tudo ao mesmo tempo. Não é uma questão de se Portugal esteve envolvido nisto; todos os países tiveram. A tecnologia tem evoluído muito e muito dessa evolução deve-se ao facto de se puderem ter, por exemplo, infraestruturas as-a-Service” As empresas já têm a perceção dos benefícios que a adoção de um modelo as-a-Service pode trazer para a sua operação? Nuno Sá Couto, CEO, Ritain.io: “Creio que não. A perceção que tenho – focada mais na cloud – é que ainda há um desconhecimento sobre todos estes benefícios. Quando falamos de infraestrutura e de IT, acho que o nosso tecido empresarial, principalmente as PME, ainda encontram alguma resistência em partir para estes modelos as-a-Service quando falamos de sustentar a sua operação ou de suporte à sua operação em modelos as-a-Service em infraestrutura cloud, genericamente falando”
Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Gostava que tivessem, mas infelizmente há muitas que não têm, apesar de ter havido uma mudança de mindset pela obrigatoriedade de as empresas terem que adotar outro tipo de tecnologias para responder às necessidades da pandemia. O mercado está a evoluir nesse sentido; as empresas já começam a perceber que não têm a capacidade de, sozinhas, ter e responder rapidamente às necessidades na sua totalidade, desenvolver um plano estratégico, ter um conjunto de procedimentos. Precisam de ajuda e o as-a-Service ajuda bastante” Vasco Sousa, Arcserve: “Colocando-me do lado do cliente final, acho que depende do tipo de empresa e da própria estratégia da empresa. Se for uma empresa estática, que não tem ambições de crescimento acelerado, o modelo tradicional de investimento e licenciamento baseado em projetos pode estar mais ou menos acomodado. Agora, numa empresa que planeie crescer a nível acelerado, não faz sentido estar a dimensionar soluções hoje que, daqui por seis meses, mediante o ritmo de crescimento, vão estar desadequadas da realidade” Como se mede o ROI das soluções agora fornecidas como um serviço? Luciano Zoccoli, Lenovo: “Todos os fornecedores de software neste momento estão a vender as suas licenças as-a-Service. Isto faz uma diferença naquilo que pode ser o investimento de alguém que antes iria comprar uma solução e ter um retorno a médio ou longo prazo. Hoje, passámos de um fato de loja quase para um fato de alfaiate; podemos construir o nosso projeto muito bem desenhado para aquilo que são as nossas exigências no momento, sabendo que, em qualquer momento, podemos crescer este fato e juntar um bocadinho de tecido ao que já existe a um preço bem controlado”
Nuno Sá Couto, Ritain.io: “Temos de medir isto na nossa capacidade de nos focarmos, isto é, quanto é que me custa não estar focado no meu core business e delegar tudo o que não é o meu core business para serviços de forma que conseguir ser extremamente ágil, atacar o mercado com grande velocidade e, acima de tudo, conseguir experimentar e validar rapidamente. Ainda há um sentimento de propriedade e esse é o grande receio; antes comprava-se um servidor e podíamos tocar nele, mas qual é o custo de formar alguém para o gerir?” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “As empresas devem ter em conta que têm que fazer uma comparação correta sobre o que é o modelo as-a-Service e do que é o modelo de investimento. Quando estamos a pensar adquirir infraestrutura própria para a minha casa, não posso comparar o investimento só na infraestrutura com o mesmo serviço que vou ter numa cloud porque há um conjunto de tarefas adicionais que têm de ser consideradas, nomeadamente o espaço de alojamento, os updates da infraestrutura, os custos de energia… uma panóplia de situações que têm de ser feitas e que normalmente não são consideradas” Qual é a importância dos serviços de recuperação de desastres e de backup serem fornecidos como um serviço e estarem alojados na cloud? Vasco Sousa, Arcserve: “Qual é o plano de recuperação de desastre que está completo sem considerar a componente cloud? Se pensarmos nos riscos, posso ter uma perda acidental de dados, um incêndio, entre outros. Para a esmagadora maioria, preciso de ter backups fora das minhas instalações. Os dados estão sempre a crescer; hoje preciso de 1TB, mas se calhar para o próximo mês preciso de dois ou três. Ter um Parceiro que consegue monitorizar cem clientes ao mesmo tempo envolve um esforço muito menor do que ter cem clientes a monitorizar os seus backups” A IP Telecom anunciou recentemente uma cloud nacional. Para as empresas portuguesas, qual é a importância de ter os seus dados e a sua informação localizadas em Portugal? Filipe Frasquilho, IP Telecom: “O grande objetivo que temos é servir os clientes nacionais com uma infraestrutura que consideramos que é única no país porque faz a ligação entre os data centers e a parte de conetividade que temos. Também sabemos que as clouds vão ser híbridas e multiclouds, não temos dúvidas nenhumas sobre isso e há um conjunto de componentes em que achamos que é altamente competitivo de ter a informação e algumas soluções na nossa cloud pela latência baixa e pelo facto de os dados estarem localizados em Portugal” O modelo as-a-Service pode ser uma alternativa para as infraestruturas de computação e armazenamento?
Luciano Zoccoli, Lenovo: “Lançámos uma oferta – TruScale – as-a-Service para os clientes finais, os que querem utilizar as vantagens da cloud – porque existem muitas vantagens –, mas onde a cloud não resolve tudo. Existem várias questões e, por vezes, impedem os nossos clientes de ir para uma solução cloud: a questão da segurança, do data ownership… São fatores de bloqueio. A Lenovo tenta responder a isto através da oferta as-a-Service, mas on-premises, ou seja, a capacidade de utilizar aquilo que é o melhor da cloud – como flexibilidade e simplicidade – dentro das suas instalações” Cada empresa é uma empresa. Quais são os passos a dar até se chegar à solução indicada para uma determinada organização? Nuno Sá Couto, Ritain.io: “Considero que a utilização de cloud é fundamental para a continuidade operacional do negócio. Se colocamos mais do nosso negócio na cloud, mais crítico é. Não pode haver uma aproximação de one-size-fits-all. Tipicamente, o primeiro passo é fazer o assessment do que querem migrar. Nesse assessment, temos de entender como é que vamos montar a nossa casa na cloud. É preciso desenhar a nossa casa, ter um conjunto de pilares muito fortes, antes de colocarmos qualquer coisa lá dentro” Os clientes têm uma estrutura de IT reduzida e precisam do Canal para fazer a gestão e a integração de todo o portfólio de serviços. Que ferramentas e competências é que os Parceiros devem ter para endereçar o mercado e fazer a gestão dos vários modelos as-a-Service? Vasco Sousa, Arcserve: “O primeiro passo para o sucesso passa por compreenderem o posicionamento do fabricante da tecnologia que vão adotar. O modelo de serviços geridos não se coaduna com um processo administrativo de aquisição de licenças. Os serviços mínimos são existir um portal self-service, ou seja, o Parceiro acede ao seu portal, solicita os recursos que necessita, instala, configura, consome e, uma vez por mês, recebe o seu relatório de consumos. Isto é o mínimo dos mínimos de um serviço gerido” Luciano Zoccoli, Lenovo: “A primeira coisa que os Parceiros devem fazer é formações e certificações, estar preparado. O fator de sucesso para este tipo de ações e ofertas é simplicidade com que são usadas. Se complicamos o uso deste tipo de ofertas as-a-Service, claramente vamos ter um problema. Na nossa oferta de soluções híbridas, temos tools que nos permitem criar condições para acompanhar todo o processo de integração com clouds, todo o processo de gestão de infraestruturas on-site e a questão da segurança” Nuno Sá Couto, Ritain.io: “A adoção de cloud – seja que tipo for – não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’. O mercado das PME onde os Parceiros têm uma grande base, muitos deles não estão à procura de soluções altamente complexas – nem podem. Olham para a cloud e, se calhar, querem uma oferta standard. Os Parceiros têm de ter a capacidade de ter a facilidade standardizar e de explicar que tipo de ofertas standard é que podem revender a estes clientes do long tail do segmento B2B” Como será o futuro do mercado de as-a-Service? As organizações vão continuar a apostar nestes modelos? Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Não tenho dúvida nenhuma de que vai continuar a haver um crescimento forte nesta área, não só nos temas tradicionais – como o Infrastructure-as-a-Service ou Platform-as-a-Service –, mas também noutras componentes, nomeadamente de segurança e privacidade. As entidades já perceberam que conseguem ter uma oferta com custos inferiores que possam garantir as necessidades que têm. A oferta vai crescer, vai haver um conjunto de soluções que vão responder às necessidades dos clientes, mas têm de ter o trabalho de casa e perceber o que realmente necessitam”
Vasco Sousa, Arcserve: “Vemos que os players dominantes vão no sentido de disponibilizarem, cada vez mais, as ofertas as-a-Service. Olhando da perspetiva dos fabricantes, faz sentido porque traz uma previsibilidade para o seu negócio; estamos a falar de receitas recorrentes. Há vários caminhos possíveis para o futuro. Uma qualquer PME precisa de ter firewall, um antimalware e uma solução de backups; será que vai haver um fabricante que vai comprar outros fabricantes para ter uma oferta dominante na área, ou será que cada fabricante se mantém especializado na sua área e vão aparecer agregadores de oferta?” Nuno Sá Couto, Ritain.io: “Acredito muito no modelo de serviços há muitos anos. Não há retorno; o que vimos acelerado pela pandemia vai ser cada vez mais o modelo operativo para qualquer empresa, saber trabalhar em comunidade, com ecossistemas em que cada um presta o seu serviço e é especializado naquele serviço específico e as empresas consomem esses serviços de forma a puderem focar-se naquilo que são melhores e onde se diferenciam das demais. Acredito neste modelo que traz a agilidade às empresas e lhes permite continuarem focadas em responder às necessidades dos seus clientes” Luciano Zoccoli, Lenovo: “Sabemos que a viagem de cada um dos clientes para chegar à cloud é diferente; todos têm esse caminho, mas nenhum é igual, há vários caminhos. Cada cliente vai começar a sua viagem porque os clientes vão continuar a consumir [as soluções] como um serviço. Vão ter a necessidade de serem ajudados porque as ofertas começam a ser muitas. O futuro será as-a-Service. Todo o portfólio da Lenovo está disponível como as-a-Service e isso quer dizer alguma coisa” Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros neste mercado? Vasco Sousa, Arcserve: “Agregar serviços. Pensando no backup e no disaster recovery as-a-Service, a mentalidade não pode ser sentar na oferta do fabricante e dizer que a tecnologia faz tudo. O Parceiro tem de conseguir criar ofertas que agreguem valor. Acho que já concordámos que o backup já deixou de ser aquele mal necessário e, neste momento, é um recurso muito precioso porque sabemos que vamos precisar deles. Assim, temos de assegurar que, quando precisarmos deles, eles vão estar lá. Por exemplo, se o Parceiro incluir a verificação do backup, já está a acrescentar valor” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Sendo um mercado que vai crescer, a oportunidade é crescer em conjunto com esse mercado. Esse crescimento tem de ser feito trazendo valor para o cliente e implementando um conjunto de soluções de valor acrescentado que permitem ao cliente ter um serviço de qualidade, balizado com SLA e que responda de acordo com as suas necessidades. Os SLA podem ser diferentes de cliente para cliente; como é óbvio, o negócio é que manda. Os desafios também são muitos porque a concorrência é muito grande” Luciano Zoccoli, Lenovo: “Quando fornecemos um tipo de serviço, normalmente temos um ambiente bastante amplo de colaboração entre as várias entidades. Dificilmente é só uma única entidade que consegue fornecer todo o know-how com todas as capacidades e serviços que são necessários para uma empresa média em Portugal. Os Parceiros têm uma oportunidade de se especializarem, oferecer isto ao mercado e fazer parte dos ambientes que vão ajudar outras entidades maiores a entregar projetos as-a-Service” Nuno Sá Couto, Ritain.io: “Vejo uma oportunidade muito grande de os Parceiros atacarem a sua base de clientes B2B com serviços de cloud pública com ofertas standard. É preciso olhar para estas ofertas da cloud pública que este mercado vai desejar – e que corresponde a 99% do mercado de B2B, das pequenas às micro – que querem ir para a cloud, querem ter acesso a recursos cloud. Os Parceiros têm a oportunidade de agarrar algo, ter contacto com os clientes finais e revender cloud pública”. |